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Mundo
18/12/2025 22:00:00

Cuba enfrenta crise sanitária grave com surto de doenças transmitidas por mosquitos e colapso no sistema de saúde

População luta contra arboviroses em meio à escassez de recursos básicos e infraestrutura debilitada

Cuba enfrenta crise sanitária grave com surto de doenças transmitidas por mosquitos e colapso no sistema de saúde

A população cubana vive atualmente sob a ameaça de uma epidemia de arboviroses, agravada pela insuficiência de alimentos, medicamentos e fornecimento de energia elétrica. Sintomas como febre elevada, lesões cutâneas, vômitos, diarreia e dores articulares severas têm sido frequentes. Muitos pacientes continuam enfrentando sequelas persistentes, enquanto outros, ainda não infectados, vivem com o medo constante de contrair a doença a qualquer momento.

O termo utilizado pelos habitantes da ilha refere-se, na prática, à circulação simultânea de três vírus transmitidos por mosquitos: dengue, chikungunya e o vírus oropouche, conforme informações do governo cubano, da Organização Mundial da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde. Além dessas, autoridades de saúde também mencionam a circulação de outros vírus respiratórios, incluindo o da covid-19.

Pela descrição da jornalista Yirmara Torres Hernández, a situação em Matanzas assemelha-se a uma "cidade de zumbis", com relatos de pessoas curvadas, caminhando com dificuldades e notavelmente debilitadas por dores intensas. Relatos semelhantes vêm de diferentes regiões do país, com pacientes febris, exaustos e com dificuldades graves de locomoção.

Este cenário ocorre em meio a uma crise profunda no sistema de saúde, marcada pela ausência de medicamentos, escassez de insumos essenciais e limitações na realização de exames diagnósticos. Como consequência, muitos cubanos preferem permanecer em casa e buscar automedicação, ao invés de procurar hospitais, devido ao medo de não receberem atendimento adequado.

O governo cubano confirma oficialmente pelo menos 47 óbitos relacionados às arboviroses, mas especialistas independentes e ativistas acreditam que o número real seja superior, uma vez que muitas mortes não são registradas corretamente ou são atribuídas a outras causas. Pessoas entrevistadas relatam conhecimento de casos recentes de mortes associadas ao “vírus”.

Dados do Ministério da Saúde Pública de Cuba indicam que os novos casos de chikungunya subiram 71% em apenas uma semana, enquanto a Organização Pan-Americana da Saúde estima quase 26 mil pessoas infectadas pela doença. Ainda assim, o total de infectados permanece desconhecido, já que grande parte evita procurar assistência médica ao não apresentarem sintomas considerados graves.

No Brasil, a dengue tem causado surtos frequentes desde os anos 1980 e passou a preocupar também países da Europa e da América do Norte. A chikungunya, detectada inicialmente na Tanzânia na década de 1950, chegou ao Brasil em 2013 e se espalhou rapidamente, atingindo a maioria das cidades em pouco mais de dez anos. O vírus da febre oropouche, identificado no Caribe nos anos 1950, foi posteriormente encontrado em várias regiões brasileiras, com dezenas de surtos ao longo das décadas. O aumento do desmatamento e as mudanças climáticas elevam o risco de expansão dessas doenças e o estabelecimento de novos ciclos de transmissão urbana.

Moradores descrevem experiências marcadas por dores intensas e duradouras. Um engenheiro de Havana relata que tudo começou com uma dor repentina no joelho, que logo evoluiu para dificuldades de caminhar. No dia seguinte, dores espalharam-se por todo o corpo, atingindo articulações, pés, mãos, ombros e coluna. Ele compara a sensação a um envelhecimento repentino, seguido por febre alta e, dias depois, manchas na pele.

Em outra região, uma mulher conta que sua mãe e avó enfrentam febre alta, tremores e dores incapacitantes, a ponto de não conseguirem sair da cama. Ambas desconhecem qual vírus possuem, pois optaram por não procurar atendimento médico, acreditando que isso consumiria tempo e recursos sem oferecer soluções concretas.

Relatos de hospitais indicam que a estrutura de atendimento é insuficiente, com falta de exames, medicamentos e materiais básicos. Na maioria das ocasiões, as orientações cabem a hidratação e a administração de analgésicos simples para aliviar as dores. Diante da precariedade, muitos preferem permanecer em suas casas, recorrendo ao mercado informal ou à ajuda de familiares no exterior na tentativa de obter medicamentos.

Apesar de Cuba possuir uma tradição de destaque na formação de profissionais de saúde, missões internacionais e no desenvolvimento de vacinas próprias, a crise econômica agravou consideravelmente as condições do sistema público. Hospitais enfrentam problemas de abastecimento, escassez de equipamentos e dificuldades na manutenção de padrões mínimos de higiene e atendimento. A emigração de milhares de médicos deixou as unidades de saúde sobrecarregadas, com equipes reduzidas e profissionais que continuam recebendo salários muito baixos.

A Organização Pan-Americana da Saúde aponta que Cuba implementou ações de vigilância epidemiológica, controle de vetores e padronização do tratamento clínico. Contudo, as condições de vida na ilha facilitam a proliferação das doenças, com frequentes apagões que dificultam o uso de ventiladores e outros métodos de afastamento dos mosquitos. A escassez de água e o acúmulo de lixo criam ambientes propícios à multiplicação dos insetos.

Relatos de moradores indicam que sacos de lixo acumulam-se em esquinas devido à coleta irregular, aumentando a presença de mosquitos nos bairros. Com a falta de energia elétrica, as casas ficam mais vulneráveis às picadas, elevando o risco de transmissão das doenças.

Preocupa também o impacto das sequelas em pacientes, que muitas vezes continuam sofrendo com dores e limitações semanas ou meses após a fase aguda da enfermidade. Dificuldades em segurar objetos, dores persistentes nos ombros, mãos e coluna fazem parte da rotina daqueles que deveriam estar recuperados, mas continuam convivendo com os efeitos prolongados do “vírus”.