Uma pesquisa recente aponta que uma formação rochosa em Marte pode indicar que o planeta, em algum momento de sua história, viveu condições similares às terrestres de clima tropical, com presença de água em abundância.
Durante décadas, cientistas têm investigado a trajetória do passado marciano para compreender seu ambiente ancestral. Recentemente, uma descoberta surpreendente reforça a ideia de que, em um passado remoto, Marte poderia ter tido uma atmosfera úmida e temperaturas amenas, semelhante ao clima tropical terrestre.
Hoje, o consenso entre astrônomos e pesquisadores é de que Marte apresentou condições potencialmente habitáveis há bilhões de anos. Além das evidências de corpos d'água antigos, a identificação de uma rocha específica se soma às hipóteses de um passado mais úmido, fortalecendo essa narrativa.
Na publicação na revista Communications Earth & Environment, foi revelado que uma formação rochosa na já conhecida cratera de Jezero foi encontrada contendo minerais especiais, sugerindo o que pode ser a presença de caulinita—a argila de alumínio que indica condições de clima úmido.
Estes minerais foram coletados pelo rover Perseverance, da NASA, durante uma missão exploratória, que revelou fragmentos dispersos por vários pontos dentro da cratera, que também foi um antigo lago em uma era há quase 4 bilhões de anos.
Segundo Adrian Broz, pós-doutorando na Universidade Purdue e principal autor do estudo, a presença de caulinita em um ambiente marciano árido, frio e atualmente sem água líquida na superfície demonstra que, no passado, houve um volume significativo de água no planeta.
Contudo, é importante salientar que essa descoberta não implica que Marte tenha tido um clima idêntico ao das regiões tropicais da Terra. Ainda assim, a evidência do mineral reforça a hipótese de um passado úmido e potencialmente habitável.
Além de contribuir para a compreensão do passado de Marte, essa descoberta pode ser fundamental na busca por sinais de vida no planeta vermelho, uma vez que a presença de água é fator-chave para a existência de formas de vida conhecidas.
Para determinar a origem da rocha, os pesquisadores compararam os dados coletados pelo rover com amostras de caulinita obtidas na Terra, principalmente nos Estados Unidos e na África do Sul. Em nosso planeta, esse mineral se forma ao longo de milhões de anos em ambientes de alta umidade, típicos de regiões tropicais com chuvas regulares.
Briony Horgan, cientista da Universidade Purdue e coautora do estudo, afirma: "Até que possamos acessar esses enormes depósitos de rochas, as pequenas amostras que encontramos representam nossa única evidência concreta." Ela também destaca que a formação de caulinita é um processo bastante complexo, o que aumenta o interesse na descoberta, pois sugeriria que uma quantidade significativa de água teria sido necessária para sua formação, reforçando a hipótese de um passado úmido de bilhões de anos.
No entanto, os especialistas alertam que análises adicionais são necessárias, já que ainda não foi possível verificar na Terra a composição exata dessas amostras ou estudar grandes formações desse tipo de rocha no planeta. São essenciais investigações mais aprofundadas para confirmar a presença de caulinita e compreender sua origem.