15/12/2025 14:24:32

Acidente
15/12/2025 06:00:00

Crescimento Explosivo de Sífilis no Brasil e Seus Impactos nas Gestantes

Especialistas alertam para a gravidade da doença entre mulheres jovens e grávidas, além de dificuldades no diagnóstico e tratamento

Crescimento Explosivo de Sífilis no Brasil e Seus Impactos nas Gestantes

Dados recentes do Ministério da Saúde, publicados em outubro, revelam que a incidência de sífilis no Brasil permanece em rápida expansão, refletindo uma tendência global preocupante. A situação é particularmente alarmante entre gestantes, com um registro de 810.246 casos desde 2005 até junho de 2025. Desses diagnósticos, 45,7% ocorreram na Região Sudeste, 21,1% no Nordeste, 14,4% no Sul, 10,2% no Norte e 8,6% no Centro-Oeste.

Em 2024, a taxa de detecção nacional atingiu 35,4 casos por mil nascidos vivos, indicando um aumento na transmissão vertical, em que a infecção é transmitida da mãe para o bebê.

A ginecologista Helaine Maria Besteti Pires Milanez, membro da Comissão Nacional de Doenças Infectocontagiosas da Febrasgo, destaca que o enfrentamento contra a sífilis congênita vem sendo uma luta que se arrasta desde os anos 1980.

Ela afirma que o Brasil enfrenta dificuldades históricas no controle da doença. Mesmo sendo uma enfermidade relativamente fácil de detectar, rastrear e tratar, especialmente em comparação ao HIV, os esforços para reduzir significativamente os números entre jovens e recém-nascidos ainda não tiveram sucesso.

Segundo a especialista, o problema é grave, especialmente nas populações jovens e naquelas em idade reprodutiva, o que favorece o aumento da transmissão vertical. A sífilis, explica ela, é um desafio que até agora não apresentou avanços tão positivos quanto as conquistas alcançadas no combate ao HIV.

Helaine também aponta que há uma subnotificação importante na área de saúde. O teste padrão utilizado no Brasil, o VDRL (Venereal Disease Research Laboratory), detecta a infecção por meio de sangue, porém, não é específico ao treponema. Outros testes, como o treponêmico, permanecem positivos após o tratamento e indicam infecção passada.

Ela explica que, na prática, profissionais de saúde muitas vezes interpretam resultados positivos no teste treponêmico e negativos no não treponêmico como cicatrizes e não iniciam o tratamento, o que é um erro grave. Isso mantém o ciclo de infecção ativo, colocando em risco tanto a mãe quanto o bebê.

Outro fator que agrava o cenário é a ausência de tratamento adequado dos parceiros sexuais, que muitas vezes não são tratados ou recebem uma abordagem inadequada. Assim, a bactéria continua circulando, e a reinfecção da gestante ocorre, elevando ainda mais os riscos para o recém-nascido.

Para diminuir esses problemas, a Febrasgo promove treinamentos específicos para profissionais de saúde, além de disponibilizar materiais educativos voltados à população, com o objetivo de melhorar a abordagem e o diagnóstico das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

Helaine também participa do grupo de transmissão vertical do Ministério da Saúde, responsável por protocolos e diretrizes para transmissões de sífilis, HIV e hepatites virais. Todo o material utilizado está acessível online, reforçando a importância do conhecimento adequado para o combate.

Ela ressalta que, apesar de a informação estar disponível, é imprescindível que os profissionais estudem e apliquem esses conhecimentos na prática clínica. Segundo ela, a incidência de sífilis congênita é atualmente um dos principais indicadores de atenção pré-natal no país.

O perfil de infectados mais recente mostra que jovens entre 15 e 25 anos, assim como idosos, compõem os grupos mais afetados pelo aumento da sífilis e do HIV no Brasil. A redução do medo em relação às doenças e a maior facilidade de acesso a medicamentos como o Viagra, que aumenta a performance sexual, contribuem para a negligência na prevenção.

A maioria das mulheres grávidas, mais de 80%, apresenta a forma assintomática da sífilis, também conhecida como latente, dificultando o diagnóstico precoce. Se os exames não forem interpretados corretamente, a doença pode evoluir sem tratamento, levando à transmissão ao feto.

Helaine também alerta que homens apresentam alta prevalência de infecção assintomática. Quando há contato com o treponema, podem desenvolver úlceras genitais ou na boca, muitas vezes escondidas, principalmente na área interna do colo do útero ou no fundo da vagina, dificultando a percepção.

Ela explica que, nos homens, a lesão primária, conhecida como cancro, tende a desaparecer sem tratamento, mesmo assim, ainda há risco de transmissão. Além disso, sintomas como manchas no corpo e lesões genitais, presentes na fase secundária, também podem desaparecer espontaneamente, mesmo sem intervenção médica.

Entretanto, uma preocupação central é que a fase latente da doença é assintomática, mas, mesmo assim, o indivíduo ainda transmite a infecção, muitas vezes sem saber. Para detectar o treponema na fase inicial, somente a raspagem da lesão e pesquisa no laboratório podem identificar o patógeno, já que exames de sangue podem ser negativos no começo, levando duas a três semanas para positivarem.

Com a aproximação do Carnaval, a especialista reforça que o risco de transmissão de sífilis aumenta, pois as relações sexuais sem proteção são mais frequentes nesta época. Ela destaca que o abandono do uso de métodos de barreira tem contribuído para a expansão das ISTs.

Por fim, ela lembra da existência da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), um medicamento antirretroviral disponível gratuitamente pelo SUS, que protege contra o HIV quando tomado por pessoas sem o vírus, no mínimo 24 horas antes do contato de risco, reduzindo em mais de 90% as possibilidades de infecção, se utilizado corretamente.