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Acidente
15/12/2025 02:00:00

Chile retoma o controle da direita após 35 anos, com vitória de Kast na presidência

Eleição marca retorno da orientação conservadora ao governo chileno, encerrando período de governo progressista

Chile retoma o controle da direita após 35 anos, com vitória de Kast na presidência

No domingo (14), o país sul-americano escolheu José Antonio Kast na disputa presidencial em um segundo turno, derrotando a candidata de esquerda, Jeannette Jara. Com 95,18% das cédulas contabilizadas, Kast liderava com 58,3%, enquanto Jara tinha 41,7%.

Este resultado representa o retorno da extrema direita ao comando do Chile, o que não ocorria desde o fim da repressiva ditadura de Augusto Pinochet, encerrada em 1990. Por volta das 18 horas, o Serviço Eleitoral chileno (Servel) oficializou o fechamento dos locais de votação, concluindo a fase de apuração do segundo turno. Aproximadamente 15 milhões de cidadãos estavam habilitados a votar nesta ocasião.

Ao contrário do primeiro turno, nesta etapa do pleito, o voto tornou-se obrigatório para todos os cidadãos registrados, com penalizações que variam entre 34 mil pesos (cerca de 200 reais) e 104 mil pesos chilenos (cerca de 600 reais) em caso de reincidência. No primeiro turno, realizado em 16 de novembro, Jara saiu vitoriosa, porém com uma porcentagem de votos inferior ao esperado (26,8%). Kast, por sua vez, ficou na segunda colocação, conquistando uma fatia do eleitorado maior do que indicavam as pesquisas — 23,9%.

Após a derrota, a candidata Jeannette Jara utilizou sua conta na rede social X para reconhecer o resultado, afirmando: “A democracia falou alto e claro. Acabo de conversar com o presidente eleito @joseantoniokast para desejar-lhe sucesso pelo bem do Chile”.

Com a vitória de Kast, conhecido como “Bolsonaro chileno”, a direita mais conservadora reassumes o poder após mais de três décadas de governo progressista, marcadas pela figura de Pinochet. O histórico regime, conhecido por sua repressão severa e violações de direitos humanos, deixou uma Constituição que ainda vigora, apesar de recentes referendos que rejeitaram propostas de reforma. A campanha eleitoral foi intensamente focada na questão migratória.

O Chile, que vive uma crescente influxo de imigrantes — especialmente venezuelanos —, viu sua população estrangeira dobrar em sete anos, atingindo 8,8% do total em 2024. Estima-se que cerca de 337 mil imigrantes estejam em situação irregular, um fator que, segundo a maioria dos habitantes, estaria contribuindo para o aumento da criminalidade, uma narrativa explorada por políticos. Na última semana de campanha, Kast prometeu provocar “um impacto de esperança” após um período marcado pelo “caos, desordem e insegurança”.

Em um evento realizado em Temuco, capital da região de Araucanía, Kast discursou sob proteção de uma estrutura de vidro blindado para aproximadamente cinco mil apoiadores. Seu discurso foi centrado na promessa de restabelecer a ordem, segurança e confiança no governo. Este é o terceiro pleito presidencial para o advogado de 59 anos, que declarou que a mudança no Chile representará uma extensão do perfil mais radical da extrema direita, consideravelmente mais extremada do que o governo de Sebastián Piñera, que governou entre 2010-2014 e 2018-2022.

De acordo com Gilberto Maringoni, professor de Relações Internacionais na UFABC, a vitória de Kast reflete uma tendência de maior conservadorismo, que reivindica um passado considerado glorioso durante o período da ditadura militar. O cenário político chileno permanece tenso após a eleição de Gabriel Boric, representante da esquerda, cujo mandato representa um confronto entre as forças progressistas e conservadoras. Desde os protestos massivos de 2019 — conhecidos como “Estallido” — o país vive uma crise de confiança, marcada por confrontos e uma repressão estatal severa, que resultou na morte de 32 manifestantes e ferimentos em milhares.

Boric, inicialmente defensor de reformas sociais profundas, tentou aprovar uma nova constituição que substituísse a herdada da era Pinochet, mas o projeto foi rejeitado em plebiscito por ser considerado excessivamente progressista, trazendo uma avaliação de que a esquerda superestimou sua força após os protestos.

Especialistas destacam que a eleição de Kast representa uma avaliação de momento, contudo, o controle do congresso será determinante para o futuro político do país. Ambos os lados reconhecem que o resultado não é uma vitória definitiva, indicando que o Chile continuará em uma fase de intensas disputas e ajustes políticos.