14/12/2025 23:59:34

Acidente
14/12/2025 15:00:00

Alagoas enfrenta desafios históricos na alfabetização e registra maior taxa de analfabetismo do país

Especialistas apontam falta de prioridade e problemas estruturais como principais causas do cenário atual

Alagoas enfrenta desafios históricos na alfabetização e registra maior taxa de analfabetismo do país

A persistência de um alto índice de analfabetismo em Alagoas é resultado de um histórico de negligência e políticas públicas ineficazes. Segundo o levantamento mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 14 de dezembro de 2025 às 08:00, o estado encerrou 2024 com a maior taxa de analfabetismo do Brasil.

Conforme a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), publicada no dia 3 do último mês, 14,2% dos alagoanos com 15 anos ou mais não possuem habilidades de leitura ou escrita. Esse percentual mantém Alagoas na liderança nacional, superando a média do Nordeste, de 11,1%, e mais que duplicando o índice nacional, de 5,3%.

Os dados indicam uma estabilidade em relação ao ano anterior, quando a taxa era de 14,1%, enquanto o Brasil e a região apresentaram leves quedas. O professor Clériston Izidro, responsável pelo Programa de Pós-Graduação em Educação no Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas (Cedu/Ufal), reforça que esse cenário reflete o passivo acumulado na área educacional.

Ele explica que o alto percentual de analfabetismo permanece devido à inclusão de adultos e idosos que, no passado, tiveram pouco ou nenhum acesso à escola, além de abandonarem os estudos precocemente. Segundo Clériston, fatores como pobreza, trabalho infantil e baixa escolaridade herdada por gerações influenciam diretamente essa realidade. Ele destaca que a saída desses indivíduos antes de completar a educação básica contribui para a manutenção do problema.

Entre as capitais do país, Maceió se destaca com a maior proporção de analfabetos, atingindo 6,4% da população que não domina leitura nem escrita. Em seguida, aparecem Rio Branco (5,6%), Macapá e Fortaleza (5,1%), Teresina (4,8%), João Pessoa (4,5%), Recife (4,1%) e Aracaju (3,9%).

Por outro lado, cidades como Florianópolis e Porto Alegre apresentam os menores índices, com apenas 1,0%, seguidas pelo Rio de Janeiro (1,2%), Curitiba e Belo Horizonte (1,3%), além de Campo Grande e Vitória (1,6%). Ainda que a maioria das crianças de 6 a 14 anos esteja matriculada no ensino fundamental — mais de 94% —, a participação escolar diminui com a progressão etária.

Apenas 69,8% dos jovens de 15 a 17 anos estão na escola de ensino médio, enquanto no ensino superior, Alagoas registra o índice mais baixo do país: somente 18,2% dos jovens de 18 a 24 anos frequentam universidades. A pesquisa também revela que a média de alunos por turma na rede pública varia de 18 na educação infantil a 37 no ensino médio. Clériston aponta que a evasão no ensino médio prejudica não só o presente, mas também o combate ao analfabetismo no futuro. Ele explica que a ausência escolar reduz as chances de emprego, diminui a renda e limita a participação social dos jovens, além de potencialmente aumentar a demanda por reabilitação educacional, como a Educação de Jovens e Adultos (EJAI).

A Secretaria Municipal de Educação (Semed) reconhece que, apesar da redução gradual do analfabetismo — de 8,4% em 2022 para 6,4% na última pesquisa — Maceió permanece no topo do ranking entre as capitais. A pasta atribui essa diminuição a investimentos em programas nacionais e municipais, como o Brasil Alfabetizado, e ações voltadas à alfabetização na idade certa, além da ampliação da educação infantil e do ensino integral.

O especialista Luciano Amorim atribui o alto índice de analfabetismo às falhas estruturais e à ausência de prioridade na área ao longo do tempo. Para ele, o problema está ligado à falta de investimentos constantes em profissionais qualificados, materiais pedagógicos adequados e infraestrutura escolar integrada em todas as etapas da educação básica. Amorim também critica a alta rotatividade das administrações municipais, que impede a continuidade das ações educativas. Ele lembra que, após a pandemia, as disparidades se agravaram na região Nordeste, refletindo a instabilidade política e social, especialmente em Alagoas, cuja situação é agravada pelas desigualdades socioeconômicas herdadas. Segundo o especialista, o analfabetismo não é apenas uma questão educativa, mas também social.

O município de Maceió reflete as disparidades do estado, e políticas de alfabetização devem dialogar com ações sociais mais amplas. Ignorar essa relação é um erro que perpetua o ciclo vicioso. Apesar de alguns avanços na implementação de programas de alfabetização, como observa Amorim, eles ainda não são suficientes para romper completamente a estrutura que mantém Alagoas entre os piores indicadores do país. Ele destaca que é necessário que educação e políticas sociais caminhem juntas para promover mudanças duradouras.

A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) foi procurada pelo portal CadaMinuto para esclarecer as razões por trás da permanência de Alagoas na liderança do ranking nacional de analfabetismo. A pasta admitiu que os números atuais são "inaceitáveis" e afirmou que o estado vem trilhando uma trajetória de avanços no combate ao problema. De acordo com a Seduc, desde 2011, o índice de analfabetismo foi reduzido em mais de 40%, resultado atribuído às políticas voltadas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A secretaria destacou ainda a retomada do Programa Brasil Alfabetizado, que havia sido interrompido em âmbito nacional há uma década, prevendo alfabetizar cerca de 14 mil pessoas até 2025, com foco na zona rural.

Por outro lado, a pasta ressaltou que o Ensino Fundamental atinge cobertura quase total e que suas ações atuais concentram-se na expansão de escolas em tempo integral e na qualificação da EJA. Contudo, para especialistas como Clériston e Amorim, a permanência de Alagoas na posição de destaque no analfabetismo revela uma questão estrutural profunda.

Eles avaliam que a ausência de continuidade em políticas públicas de educação e a histórica falta de prioridade continuam sendo os principais obstáculos para romper o ciclo que perdura há décadas, exigindo mudanças mais abrangentes e integradas.