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América Latina
11/12/2025 08:00:00

Autoridades venezuelanas bloqueiam saída do cardeal Baltazar Porras e apreendem seu passaporte

Religioso de destaque no país foi impedido de partir para a Europa, agravando tensões entre Igreja e governo chavista

Autoridades venezuelanas bloqueiam saída do cardeal Baltazar Porras e apreendem seu passaporte

As instituições do governo de Nicolás Maduro proibiram o cardeal Baltazar Porras de abandonar a Venezuela, confiscando seu documento de viagem.

Na manhã desta quarta-feira, o líder religioso deveria embarcar do terminal aéreo de Maiquetía com destino a Bogotá, de onde seguiria para Madrid, mas foi detido juntamente com duas pessoas que o acompanhavam. As autoridades venezuelanas também apreenderam seu passaporte nacional, elevando o conflito político em meio às crescentes disputas entre o Vaticano e o regime chavista, que se intensificam há vários meses.

Porras, uma figura de grande influência na Igreja local, relatou que, ao chegar ao aeroporto, foi abordado por um agente de segurança que alegou problemas no sistema de verificação de documentos. Segundo ele, seu nome chegou a constar como falecido em registros oficiais em ocasiões anteriores. Apesar dos contratempos, o cardeal afirmou manter o bom humor ao chegar ao local, embora estivesse ciente da situação difícil.

Em uma declaração emitida após o episódio, Porras revelou que, cerca de meia hora antes do voo, um oficial militar o abordou, informando que ele não poderia seguir viagem e o acompanhou para fora da área de embarque. Na sala de chegadas, foi obrigado a assinar um documento alegando que sua viagem foi cancelada por supostas violações às regras de trânsito aéreo. Tentativas de registrar a ação com fotos foram frustradas por autoridades, que chegaram a ameaçá-lo de prisão caso insistisse.

O religioso destacou que o policial responsável não devolveu seu passaporte e o acompanhou até a saída do aeroporto, descrevendo a situação como uma violação de seus direitos básicos, especialmente num dia dedicado à luta pelos Direitos Humanos. “Hoje, nesta data, que é o Dia dos Direitos Humanos, a campanha ‘Sem informação, sem direitos’ reforça que a ausência de direitos e transparência prejudica a justiça e a equidade”, afirmou, aos 81 anos.

A viagem de Porras estava agendada para participar da investidura de um cardeal como Protetor Espiritual da Ordem da Venezuela, ao lado do chanceler do Grão-Priorado, José Leonardo Carta Tirado, com previsão de retorno em 21 de dezembro.

Este episódio ocorre num momento de crescente tensão no país, especialmente após a saída de María Corina Machado, que deixou a Venezuela na última terça-feira por barco, após 16 meses de clandestinidade. Ela foi esperada na Noruega para receber o Prêmio Nobel da Paz, mas não conseguiu chegar a tempo da cerimônia.

A prática de impedir cidadãos de viajar e cancelar seus documentos tem se tornado uma estratégia comum do regime chavista para silenciar opositores. Recentemente, essa tática tem sido intensificada contra ativistas de direitos humanos e jornalistas, como denunciado por Oscar Murillo, coordenador da ONG Provea, que afirmou que essas ações representam violações graves de direitos sob o regime repressivo instaurado após 28 de junho.

Em outubro, durante uma cerimônia de canonização em Roma, o cardeal Porras criticou publicamente a crise de direitos humanos na Venezuela, qualificando a situação como “moralmente inaceitável” e condenando a ausência de justiça para mais de mil presos políticos. A postura gerou reações adversas do governo, incluindo acusações de conspiração feitas por Nicolás Maduro e seus aliados, como Diosdado Cabello, que afirmou que Porras tentava sabotar as iniciativas de canonização do país.

Na ocasião, o religioso também foi impedido de viajar até uma região dos Andes venezuelanos, onde deveria participar de uma cerimônia de canonização, tendo recebido diversas tentativas de influência por parte de autoridades governamentais para que não comparecesse, sob a alegação de que sua presença representava risco. Mesmo assim, Porras tentou realizar a viagem, inclusive enfrentando um pouso forçado de seu avião e obstáculos na terra, mas foi frustrado por ações coercitivas do regime.