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Congresso Nacional
10/12/2025 02:00:00

Polêmica envolvendo o deputado Glauber Braga resulta em intervenção policial na Câmara

Conflito, expulsão da imprensa e discussões sobre processos disciplinares marcam a sessão legislativa de terça-feira

Polêmica envolvendo o deputado Glauber Braga resulta em intervenção policial na Câmara

Na tarde desta terça-feira, 09 de dezembro de 2025, o parlamentar federal Glauber Braga (PSOL-RJ) assumiu temporariamente a presidência da Câmara dos Deputados após Hugo Motta (Republicanos-PB) anunciar a análise de um processo que pode levar à cassação de seu mandato na próxima semana.

Durante sua gestão, Braga discursou criticando a postura de Motta quanto ao tratamento dado a diferentes grupos políticos, alegando discriminação. Ele declarou que permaneceria na cadeira com tranquilidade para exercer seu direito político de contestar decisões que considerava injustas, como a redução de penas de golpistas, incluindo Bolsonaro, e a manutenção dos direitos políticos de Eduardo Bolsonaro. Segundo o deputado do PSOL, essa atitude lhe pode render até oito anos de inelegibilidade.

Antes de ser retirado à força pela Polícia Legislativa Federal, Braga denunciou que havia sido machucado no braço durante a ação policial. Logo após sua saída, a Câmara anunciou que, na reunião de 17 de dezembro, serão analisados processos contra Braga, Carla Zambelli (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ).

O incidente foi marcado pelo corte na transmissão ao vivo da TV Câmara, que foi interrompida logo após Braga assumir a presidência, enquanto a imprensa foi expulsa do plenário. Apenas parlamentares presentes testemunharam a ação, que foi registrada por eles mesmos.

Braga responde a um procedimento interno por desrespeito ao decoro parlamentar, após empurrar e chutar Gabriel Costenaro, do Movimento Brasil Livre (MBL), em abril de 2024. Ele corre risco de perder seu mandato por esse motivo. Já Zambelli e Ramagem receberam condenações do Supremo Tribunal Federal (STF); ela por violar o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ele por envolvimento em uma tentativa de golpe durante as eleições de 2022, que culminou na derrota de Jair Bolsonaro.

Na mesma ocasião, Hugo Motta anunciou que será submetido a votação um projeto de lei que pretende diminuir as penas de condenados por ações golpistas ocorridas entre 2022 e 2023, incluindo o ex-presidente Bolsonaro. A proposta prevê, ainda, a libertação de presos nesses incidentes, permitindo regimes alternativos como prisão domiciliar.

Antes do episódio, Braga tinha feito um discurso na Mesa Diretora, denunciando a aparente preferência de Motta por certos grupos políticos. Segundo ele, a decisão de diminuir penalidades e manter direitos políticos a figuras como Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro demonstra um tratamento desigual na Casa.

O relator do projeto que visa reduzir as penas, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), afirmou que a pena de Bolsonaro poderia ser reduzida de mais de 27 anos para apenas 2 anos e 4 meses. A proposta também propõe a libertação de indivíduos presos por atos de 8 de janeiro de 2023, sob regimes de prisão domiciliar ou outras medidas alternativas.

Durante o tumulto, a oposição também promoveu uma ocupação na Câmara e no Senado, bloqueando atividades por dois dias em protesto contra a prisão domiciliar de Bolsonaro. Motta chegou a ameaçar acionar a Polícia Legislativa, mas a manifestação foi encerrada após negociações.

As ações visaram principalmente pautar propostas de anistia aos envolvidos na tentativa de golpe, além de solicitar o impeachment do ministro do STF, Alexandre de Moraes, e alterações no foro privilegiado.

Gustavo Gayer (PL-GO) publicou nas redes sociais que a 'esquerda usou toda a sua estrutura de gabinete' contra o projeto que busca reduzir penas por atos golpistas, enquanto a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) repudiou os acontecimentos, chamando-os de 'vergonhosos'.

Ela também criticou a violência contra jornalistas durante a ação policial, afirmando que a Polícia Legislativa agrediu profissionais de imprensa após a interrupção do sinal da TV Câmara e a retirada forçada de Braga do plenário, questionando se tais episódios indicam um favorecimento à anistia de Bolsonaro.

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) condenaram as ações, classificando-as como censura e agressões à liberdade de imprensa, exigindo explicações de Hugo Motta e denunciando o cerceamento do trabalho jornalístico na Casa.

Sobre o caso de Eduardo Bolsonaro, que atualmente reside nos Estados Unidos desde o início do ano, Hugo Motta afirmou que a Mesa Diretora deverá decidir sobre sua situação, destacando que o parlamentar já acumula faltas suficientes para ter seu mandato cassado devido à ausência e à decisão de permanecer no exterior.

A crise na Câmara também remete a episódios anteriores de manifestações opositoras, como a ocupação de agosto, quando parlamentares bloquearam as atividades do Congresso por dois dias em protesto contra a prisão de Bolsonaro, utilizando fita adesiva na boca como símbolo de resistência.

Naquele momento, Motta ameaçou acionar a Polícia Legislativa, mas a ação foi encerrada após negociações políticas. Os opositores reivindicavam pautas como anistia, impeachment de Moraes e mudanças no foro privilegiado.

O clima de conflito persiste, com debates acalorados sobre os processos disciplinares, os direitos políticos e a liberdade de imprensa, refletindo a polarização política que marca o atual cenário legislativo brasileiro.