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Religião
08/12/2025 06:00:00

Católicos celebram neste 08/12 a Imaculada Conceição

Católicos celebram neste 08/12 a Imaculada Conceição

A Imaculada Conceição, ou Imaculada Concepção, é o dogma católico que afirma que a Virgem Maria foi preservada do pecado original desde o instante em que foi concebida. A doutrina sustenta que, desde o primeiro momento de sua existência, ela foi guardada por Deus da ausência de graça santificante que afeta toda a humanidade, sendo, portanto, plenamente agraciada. A Igreja Católica também ensina que Maria viveu inteiramente sem cometer pecado.

A celebração da Imaculada Conceição, estabelecida em 8 de dezembro, foi incluída no calendário litúrgico pelo Papa Sisto IV em 28 de fevereiro de 1477. Hoje, a solenidade é dia de preceito em toda a Igreja, exceto em locais onde, com a aprovação da Santa Sé, tenha sido suprimida ou transferida para o domingo mais próximo. Sendo festa de guarda, os fiéis católicos devem participar da missa, assim como nos domingos.

O dogma foi definido oficialmente pelo Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854, na bula Ineffabilis Deus, e é entendido pela Igreja como sustentado pela Bíblia — como a saudação do anjo Gabriel chamando Maria de “cheia de graça” — e pelas reflexões de Padres da Igreja, como Irineu de Lyon e Ambrósio de Milão. Considerando que Jesus se encarnou no ventre de Maria, afirma-se que era conveniente que ela estivesse completamente livre do pecado para gerar o Filho de Deus.

Na Constituição Apostólica Ineffabilis Deus, o Papa Pio IX recorreu especialmente à passagem de Gênesis 3,15, na qual Deus anuncia a inimizade entre a mulher e a serpente, interpretada como referência a uma mulher plenamente pura, destinada a dar à luz o Redentor. O verso do Cântico dos Cânticos que diz “Tu és toda formosa, meu amor, e em ti não há mancha” também é associado à defesa da Imaculada Conceição, assim como outras passagens que tratam da madeira incorruptível da Arca da Aliança. A tradição cristã identifica Maria como a nova Arca, simbolicamente incorruptível, citando inclusive Apocalipse 11,19 como referência.

Desde os primeiros séculos do cristianismo, diversos Padres da Igreja defenderam a pureza singular de Maria. No século IV, Efrém da Síria afirmava que apenas Jesus e sua Mãe eram totalmente puros. Já no século VII, celebrações dedicadas à Conceição de Maria aconteciam em 8 de dezembro, data que seria preservada ao longo dos séculos. No século X, a Grã-Bretanha também comemorava essa festa. Em 1477, Sisto IV instituiu oficialmente a data no calendário litúrgico, mostrando que a crença já estava enraizada muito antes da definição dogmática.

A devoção se expandiu entre universidades e ordens religiosas. Em 1497, a Universidade de Paris passou a exigir de seus membros a defesa pública da Imaculada Conceição, e o mesmo ocorreu em Coimbra e Évora. Ao longo dos séculos seguintes, papas restringiram críticas à doutrina e proibiram debates que a contestassem. Em 1511, a congregação fundada por Santa Beatriz da Silva recebeu reconhecimento como Ordem da Imaculada Conceição, dedicada a contemplar esse mistério.

No século XIX, após o dogma ser declarado, práticas devocionais e indulgências ligadas ao Ofício da Imaculada Conceição foram reforçadas. Em 1854, Pio IX proclamou oficialmente que Maria, no primeiro instante de sua existência, foi preservada de toda mancha do pecado original por graça singular de Deus, em vista dos méritos de Cristo.

A respeito de Santo Tomás de Aquino, criou-se a impressão de que ele teria negado a Imaculada Conceição, mas isso não corresponde ao conjunto de sua obra. Em seus primeiros escritos, Tomás afirmava que Maria foi imune ao pecado original e atual. Em textos posteriores, apresentou opiniões ambíguas, mas, em seus últimos anos, reafirmou que a Virgem não incorreu em pecado algum — nem original, nem mortal, nem venial.

Em Portugal, a devoção à Imaculada Conceição é profundamente ligada à formação do país. Após a conquista de Lisboa em 1147, celebrou-se uma missa de ação de graças dedicada a Nossa Senhora da Conceição. No século XIV, após a vitória portuguesa na Batalha de Aljubarrota, D. Nuno Álvares Pereira mandou construir um templo dedicado à Conceição e encomendou uma imagem da Virgem para esse fim. A devoção cresceu e, em 1646, D. João IV proclamou solenemente Nossa Senhora da Conceição como Rainha e Padroeira de Portugal, ato confirmado posteriormente pelo Papa Clemente X. Desde então, os reis portugueses deixaram de usar a coroa na própria cabeça, reservando-a simbolicamente à Virgem.

Diversas universidades portuguesas passaram a exigir juramentos de defesa da Imaculada Conceição, e várias cidades receberam inscrições comemorativas do juramento de 1646. Com o dogma proclamado em 1854, iniciativas surgiram para homenagear sua definição, como a construção do monumento do Sameiro, em Braga, posteriormente transformado em santuário. Em 1946, celebrou-se o tricentenário da proclamação da Imaculada como Padroeira de Portugal.

A definição dogmática de 1854 afirma que todos os fiéis devem aceitar firmemente que Maria foi preservada do pecado original por privilégio divino, e declara que qualquer posição contrária está em desacordo com a fé católica. Poucos anos depois, em 1858, Bernadete Soubirous relatou aparições em Lourdes, onde a figura identificada como a Virgem se apresentou como “Imaculada Conceição”, fato posteriormente reconhecido pela Igreja. O local tornou-se um dos maiores centros de peregrinação mariana do mundo.

No Brasil, embora o dia 8 de dezembro não seja feriado nacional, muitas cidades — inclusive capitais importantes como Salvador, Belo Horizonte, Manaus e Recife — o adotam como feriado municipal. Em Portugal, a data é feriado público e festa de preceito conforme a Concordata de 2004, e por muitos anos também foi celebrada como Dia da Mãe.

Entre outras tradições cristãs, somente a Igreja Católica adota o dogma da Imaculada Conceição. As Igrejas Ortodoxas e Anglicanas veneram Maria como plenamente santa, mas não afirmam que ela tenha sido preservada do pecado original desde a concepção. Já tradições protestantes rejeitam o dogma por interpretarem de forma diferente as bases bíblicas.

No Islã, Maria também é descrita como pura desde o nascimento. O Alcorão apresenta-a como escolhida e santificada por Deus, e tradições islâmicas afirmam que, ao nascer, ela foi protegida do toque do mal, o que explicaria sua pureza excepcional.