Hugo 'El Pollo' Carvajal, ex-líder da inteligência militar da Venezuela e denunciante do alegado Cartel de Los Soles, voltou às manchetes internacionais ao acusar Nicolás Maduro de liderar uma organização ligada ao narcoterrorismo.
Carvajal, atualmente detido nos Estados Unidos, enviou uma carta ao então presidente americano Donald Trump, oferecendo sua cooperação e revelando informações sobre estruturas criminosas que operam no Estado venezuelano. Em sua comunicação, ele aponta vínculos entre o governo de Maduro, o tráfico de drogas e grupos armados, além de denunciar tentativas de manipulação eleitoral por sistemas eletrônicos de votação.
A publicação ocorre em um momento de intensificação das tensões diplomáticas entre Caracas e Washington. Recentemente, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, reforçou críticas à Venezuela, afirmando que o governo Maduro violou compromissos históricos, especialmente no que diz respeito à realização de eleições livres, e que o regime estaria envolvido em atividades ligadas ao narcotráfico. Sua declaração, embora não tenha mencionado explicitamente a carta de Carvajal, contribui para o clima de pressão internacional sobre Caracas.
As relações entre os dois países vêm se deteriorando há anos. Os Estados Unidos não reconhecem a reeleição de Maduro em 2018, impuseram sanções ao setor petrolífero venezuelano em 2019 e oferecem uma recompensa de US$ 15 milhões por informações que levem à prisão do líder chavista. A eleição contestada de 2024 ampliou as tensões, agravando ainda mais a crise diplomática.
Carvajal, uma figura de grande influência na estrutura de segurança venezuelana, liderou a contrainteligência militar de 2004 a 2011, durante o mandato de Hugo Chávez. Ele alega ter testemunhado oficiais de alto escalão coordenando atividades ilícitas de tráfico de drogas e formando alianças com grupos armados estrangeiros.
Na sua carta, ele detalha colaborações com as Farc, ELN, agentes cubanos e do Hezbollah, afirmando que essas parcerias facilitaram rotas de cocaína para os EUA e sustentaram operações políticas e de inteligência dentro e fora do país.
Carvajal também cita a empresa Smartmatic, alegando que os sistemas de votação venezuelanos eram supervisionados ou influenciados pelo governo para manipular os resultados eleitorais. Após deixar seu cargo na inteligência militar, ele ocupou posições no governo e chegou a ser deputado. Em 2011, foi indiciado nos EUA por tráfico de drogas, sob a acusação de proteger narcotraficantes e facilitar operações ilegais.
Em 2019, rompeu com Maduro, apoiando Juan Guaidó e tornando-se alvo do regime chavista. Sua prisão ocorreu em Madri, a pedido dos EUA, mas ele conseguiu adiar a extradição após uma decisão judicial. Logo após, fugiu e permaneceu foragido por quase dois anos, até ser recapturado em 2021 e extraditado em 2023.
Nos Estados Unidos, responde por conspiração para importar cocaína e por fornecer suporte a uma organização terrorista estrangeira, especificamente as Farc.
A revelação de Carvajal acontece em meio a operações navais americanas no Caribe e no Pacífico, que visam barcos suspeitos de transportar drogas ligados ao regime de Maduro. Essas ações, que incluíram o uso do porta-aviões USS Gerald R. Ford, aumentam a pressão militar e diplomática sobre a Venezuela.
O atual cenário demonstra o agravamento do conflito bilateral, que desde 2019 vive uma crise sem sinais de resolução, mesmo após a eleição venezuelana de 2024, cercada por novas denúncias de fraude eleitoral.