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Saúde
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Estratégias para Combater a Resistência Microbiana: Cuidados com Medicamentos, Higiene e Uso de Antibióticos

Relatório da OMS destaca que um em cada seis casos de infecção bacteriana resistente exige atenção global

Estratégias para Combater a Resistência Microbiana: Cuidados com Medicamentos, Higiene e Uso de Antibióticos

De acordo com o relatório anual publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em outubro, aproximadamente um sexto das infecções bacterianas confirmadas por laboratórios, e que afetam seres humanos com frequência, apresentam resistência aos antibióticos utilizados no tratamento.

Publicado em: 02/12/2025 - 19:25

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Sylvain Diamantis, especialista francês em doenças infecciosas e integrante da Sociedade de Doenças Infecciosas de língua francesa, que atua no hospital de Melun, na região de Paris, explicou os múltiplos fatores que contribuem para o crescimento da resistência microbiana. Entre eles, destaca-se o uso de antibióticos para estimular o aumento da massa muscular em bovinos e aves de corte na agroindústria, prática que favorece o surgimento de microrganismos resistentes. "A comunidade científica é unânime ao condenar o uso de antibióticos como promotores de crescimento em animais de fazenda", afirma o médico.

Na União Europeia, legislações proibiram a administração de antibióticos em animais de criação com o intuito de prevenir a resistência em humanos. O debate sobre essa questão é intenso, visando a implementação de normas globais que obriguem o controle na prescrição de antibióticos para seres humanos e animais. A resistência microbiana representa uma ameaça à saúde mundial, refletindo os hábitos e políticas de toda a sociedade.

Historicamente, a França possui uma tradição forte na prescrição de antibióticos, originada no século XIX, graças às descobertas do microbiologista Louis Pasteur, cujo nome é homenageado pelo renomado instituto francês — parceiro do Brasil. Pasteur foi pioneiro na identificação de bactérias capazes de causar doenças e sua pesquisa levou à implementação de práticas de higiene essenciais, como a lavagem das mãos, na luta contra a disseminação de micróbios prejudiciais.

O avanço na medicina, com a invenção da penicilina em 1928 por Alexander Fleming, transformou a abordagem no combate às infecções bacterianas, inaugurando uma nova era. "Na época, acreditávamos que um micróbio morto era um antibiótico eficaz, o que levou ao uso excessivo de medicamentos", observa Diamantis. A presença de grandes indústrias farmacêuticas na França, como a Sanofi, também ajudou na popularização do uso de drogas antimicrobianas, impulsionando as prescrições e o consumo.

Nos anos seguintes, o comportamento social francês contribuiu para o aumento contínuo da resistência bacteriana, mas nos últimos anos, essa tendência vem diminuindo devido a campanhas educativas que alertam para o uso indiscriminado de antibióticos e ao reforço de protocolos de higiene hospitalar, especialmente após a pandemia de Covid-19, em 2020.

"A França mantém elevados padrões de higiene hospitalar, com o uso frequente de produtos hidroalcoólicos que interrompem a transmissão de bactérias entre profissionais de saúde. Como consequência, conseguimos reduzir a taxa de resistência", explica Diamantis. Ainda assim, os índices permanecem altos devido à circulação de pacientes internacionais, que podem portar cepas bacterianas mais sofisticadas.

Para evitar a necessidade de antibióticos, a melhor estratégia é não adoecer. Práticas básicas de higiene, como lavar as mãos corretamente e manter a vacinação em dia, são fundamentais. Além disso, o uso de drogas de amplo espectro, como as cefalosporinas de terceira geração e as fluoroquinolonas, deve ser reduzido, já que seu uso excessivo contribui para o aumento da resistência. Na França, esses medicamentos são prescritos principalmente por clínicos gerais, segundo Diamantis, e o esforço nacional é evitar a prescrição desnecessária, que, segundo estudos, ocorre em 80% das consultas médicas, visto que muitas doenças comuns, como bronquites e sinusites, na verdade, possuem origem viral e não respondem aos antibióticos.

Durante episódios de gripe, por exemplo, os antibióticos geralmente são indicados alguns dias após o início dos sintomas, após o retorno da febre, com a intenção de prevenir infecções secundárias. No entanto, essa prática leva os pacientes a associarem equivocadamente a melhora ao antibiótico, quando, na verdade, a recuperação natural da doença também resulta na redução da febre, que pode retornar dois dias depois, confundindo a percepção de cura.

O uso de antibióticos tópicos ou em gotas também deve ser evitado, pois eles frequentemente não são eficazes para infecções superficiais e sua prescrição desnecessária contribui para a resistência. Em França, a compra de antibióticos requer receita médica, mas essa regra nem sempre é aplicada no Brasil, o que aumenta os riscos de uso indiscriminado e resistência microbiana.