Alemanha incorpora tecnologia avançada de defesa com o lançamento do escudo antimísseis Arrow 3

A partir de quarta-feira, 3 de dezembro, a Alemanha passou a operar o Arrow 3, uma das mais sofisticadas tecnologias de defesa antimísseis do mundo, capaz de interceptar projéteis de grande altitude antes de sua reentrada na atmosfera terrestre. As Forças Armadas alemãs (Bundeswehr) têm como objetivo neutralizar mísseis balísticos durante toda sua trajetória até o espaço, fortalecendo a segurança nacional.

Este avanço é visto como uma resposta direta à escalada de agressões russas contra a Ucrânia e à crescente ameaça de mísseis de longo alcance, que representam riscos reais ao território alemão e à Europa.

Desde 2022, a Alemanha tem revisado sua postura de segurança, adotando a chamada "Zeitenwende" (virada de época), que contempla um aumento significativo nos investimentos em defesa e a formação de uma estrutura europeia de proteção aérea em múltiplas camadas. Embora a probabilidade de ataques com mísseis de grandes altitudes ou do espaço seja considerada baixa para o continente, a presença de potências como a Rússia, com seus mísseis

balísticos de alcance intercontinental, torna essa possibilidade uma preocupação séria. Até o momento, a Alemanha não possuía uma resposta militar adequada a esse cenário, uma lacuna que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) já havia alertado anteriormente. A implantação do Arrow 3 busca justamente preencher essa deficiência. O sistema intercontinental de defesa antimísseis Arrow 3 foi desenvolvido por uma parceria entre Israel e Estados Unidos, posicionando-se como uma das tecnologias mais avançadas na proteção contra mísseis balísticos de grande alcance. Ele difere dos sistemas IRIS-T e Patriot, que cobrem curtos e médios alcances, respectivamente, oferecendo uma camada adicional de defesa contra ameaças de longa distância.

O Arrow 3 consegue interceptar projéteis que se aproximam a altitudes de até 100 quilômetros — na fronteira entre a atmosfera e o espaço — e possui alcance de até 2.400 quilômetros. Esses sistemas formam uma defesa em múltiplas camadas, complementando-se para oferecer proteção em diferentes altitudes e distâncias. Apesar de sua tecnologia avançada, o Arrow 3 tem um custo elevado, estimado em vários milhões de euros por míssil interceptador.

Em contrapartida, sistemas como Patriot e IRIS-T possuem preços menores e podem ser utilizados em maior quantidade durante emergências. O funcionamento do Arrow 3 baseia-se na tecnologia de impacto direto, conhecida como hit-to-kill. Nesse método, o míssil interceptador destrói o alvo por colisão, sem a necessidade de explosivos, reduzindo a quantidade de detritos gerados e aumentando a segurança de áreas civis próximas.

Para isso, o sistema conta com sensores próprios capazes de ajustar seu curso durante a aproximação ao alvo. Assim como o Patriot, o Arrow 3 possui três componentes principais que trabalham em conjunto: um radar de alerta precoce, um sistema de comando para análise de ameaças e um lançador móvel para os interceptores. Projetado para combater mísseis balísticos, o sistema detecta a trajetória dos projéteis após o lançamento, que seguem uma rota controlada pela gravidade, atingindo altitudes elevadas antes de descerem em direção ao alvo.

Ao contrário dos mísseis de cruzeiro, que são controlados durante todo o voo, os mísseis balísticos apenas são guiados durante a fase de lançamento. Sua velocidade elevada, que pode ultrapassar 20 mil quilômetros por hora em modelos modernos como o russo Sarmat, além de suas altas trajetórias, tornam sua interceptação uma tarefa extremamente difícil.

O primeiro local de teste e operação do Arrow 3 na Alemanha é o aeródromo de Holzdorf, próximo a Schönwalde, ao sul de Berlim, na fronteira entre os estados de Brandemburgo, Saxônia-Anhalt e Saxônia. Lá, estão sendo realizados testes de pessoal, procedimentos e integração com a rede de defesa aérea da OTAN.

Outros centros de treinamento estão previstos na Baviera e em Schleswig-Holstein. A intenção é completar a capacidade de proteção do sistema até 2030, distribuindo suas unidades para garantir uma defesa contínua mesmo na eventualidade de falhas. Desde seu estabelecimento em Israel em 2017, o Arrow 3 se destaca por sua tecnologia de ponta voltada especificamente para ameaças de mísseis de longo alcance, diferentemente do Domo de Ferro, voltado principalmente para ataques de foguetes mais curtos, como os provenientes de Gaza e Líbano.

Com sua instalação na Alemanha, o sistema marcará sua primeira inclusão na Iniciativa Escudo Celeste Europeia (ESSI), um projeto europeu de defesa aérea e antimísseis iniciado em 2022. Em setembro de 2023, Alemanha e Israel formalizaram um contrato de aproximadamente 3,3 bilhões de euros (R$ 20,5 bilhões) para a compra do sistema Arrow 3, que representa o maior acordo de armas já realizado por Israel.

Parte desse valor está destinada a contratos de manutenção e suporte, assegurando o funcionamento eficaz do sistema por décadas. Além de fortalecer a cooperação estratégica entre os dois países, esse acordo também simboliza um avanço na autonomia europeia em defesa antimísseis, reduzindo a dependência de sistemas estadunidenses.