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Mundo
28/11/2025 04:00:00

A crise econômica na Rússia se aprofunda enquanto a guerra desgasta o povo e a economia

A escalada do conflito, aumento de preços e dificuldades financeiras afetam cidadãos e setores industriais do país

A crise econômica na Rússia se aprofunda enquanto a guerra desgasta o povo e a economia

Com a chegada do quarto inverno de conflito na Ucrânia, os residentes russos enfrentam um impacto crescente em suas rotinas diárias, refletido na deterioração da economia e no aumento do sofrimento popular.

Regiões centrais e do sul da Rússia têm sentido a ameaça constante do conflito, com ataques frequentes de drones e mísseis que atingem instalações energéticas e residências, muitas vezes à noite, mantendo a população em estado de alerta permanente.

Para além das linhas de batalha, a economia do país também enfrenta graves problemas, incluindo famílias reduzindo despesas com alimentação e empresas de setores como aço, mineração e energia passando por momentos de crise. Assim, a robustez econômica que antes sustentava o país, impulsionada por incentivos fiscais massivos e receitas recordes do setor energético, está sendo colocada à prova.

Embora o sofrimento seja maior do que na Ucrânia, é improvável que Vladimir Putin decida por um cessar-fogo imediato; a continuidade do conflito demonstra o alto custo político e econômico que sua decisão de invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022, vem cobrando do país.

Simultaneamente, os Estados Unidos intensificam seus esforços para reduzir a arrecadação de petróleo e gás que financiam a guerra, promovendo sanções e estratégias de freio na receita russa. Em meio a esse cenário, negociações secretas entre Moscou e Washington parecem estar em andamento, buscando um pacote de alívio que poderia aliviar as restrições financeiras impostas ao Kremlin.

Alexander Gabuev, diretor do Carnegie Russia Eurasia Center, afirmou que, do ponto de vista econômico, a Rússia teria interesse em concluir o conflito, mas ressalta que a liderança ainda não enfrenta o limite extremo que poderia levar ao fim da guerra.

Na vida cotidiana, os efeitos das dificuldades já são evidentes. Elena, gerente de eventos de 27 anos na região de Moscou, relata que os preços estão crescendo mais rápido do que seus salários, levando-a a substituir roupas importadas por marcas nacionais, refletindo a alta nos custos de importação.

Originalmente, a economia crescia graças ao aumento dos investimentos militares, que impulsionaram salários e consumo, mas a situação mudou drasticamente. O Banco Central da Rússia elevou as taxas de juros até 21% em outubro passado, buscando conter a inflação, que recuou a cerca de 6,8% no começo de novembro, fenômeno atribuído à diminuição do apetite do consumidor.

Dados do SberIndex indicam que os russos estão consumindo menos alimentos, com vendas de itens como carne, trigo sarraceno e arroz caindo entre 8% e 10%. O setor de varejo também sofre, com uma redução de quase 20% no lucro líquido do maior supermercado do país, o X5 Group, apesar do aumento na receita devido à inflação.

O mercado de moda também enfrenta um momento de retração, com quase metade das lojas fechando no terceiro trimestre, segundo fontes locais. Além disso, o setor de eletrônicos experimentou uma queda sem precedentes na demanda em três décadas, enquanto as vendas de veículos caíram cerca de 25% no saldo de janeiro a setembro devido a custos mais elevados de financiamento e impostos adicionais, especialmente para importados e veículos elétricos.

O impacto da guerra se estende até às ações militares na Ucrânia, com drones atingindo refinarias e portos no Mar Negro, chegando até a costa do Báltico, muitas vezes a milhares de quilômetros de distância na Sibéria. Esses ataques agravaram a crise no abastecimento de combustíveis na Rússia, elevando os preços desde agosto, embora tenham mostrado sinais de moderação em novembro.

Conforme o Centro de Análise Macroeconômica e Previsão de Curto Prazo, a inflação deve continuar em torno de 6,8%, enquanto o crescimento econômico desacelera para 0,6% no terceiro trimestre, com as previsões apontando para uma recessão iminente. A produção industrial caiu mais de 50% em diversos setores, como siderurgia, mineração e construção civil, que tiveram reduções expressivas na demanda.

Por outro lado, o setor bancário apresenta sinais mais amenos de dificuldades, com aumento na inadimplência corporativa e no varejo. As receitas oriundas do petróleo e gás caíram mais de 20% de janeiro a outubro, refletindo a baixa nos preços internacionais, sanções e uma moeda mais forte, que reduzem o valor arrecadado por barril.

Ainda assim, a possibilidade de uma crise sistêmica permanece, embora as autoridades russas estejam adotando estratégias como a emissão de títulos denominados em yuan e o aumento de impostos internos para compensar a receita perdida.

Analistas alertam que, sem uma resolução do conflito, as condições econômicas tendem a deteriorar-se ainda mais, com indicadores de endividamento e dificuldades no setor industrial indicando uma tendência de declínio contínuo. A postura do Kremlin, de evitar aumentos fiscais e manter o discurso de resistência, demonstra o desafio de equilibrar interesses políticos e econômicos em meio à crise que se aprofunda.