A publicação do jornal norte-americano The New York Times nesta segunda-feira (24/11) traz uma opinião que afirma que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não obteve sucesso ao tentar afetar o processo judicial contra Jair Bolsonaro (PL), condenado por golpe de Estado no Brasil.
A análise, assinada pelo ex-correspondente do jornal no Brasil, Jack Nicas, sob o título "Brasil desafiou Trump e saiu vencedor", aponta que as tentativas de Trump de impedir a prisão de Bolsonaro foram infrutíferas e contribuíram para que o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), emergisse politicamente mais fortalecido diante dos EUA.
No último sábado (22/11), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou a prisão preventiva de Bolsonaro. O pedido foi apresentado pela Polícia Federal após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) convocar uma "vigília" em apoio ao pai na proximidade de sua residência, além de uma tentativa de violar a tornozeleira eletrônica que Bolsonaro utilizava ter sido detectada.
A decisão foi ratificada por unanimidade pela Primeira Turma do STF na segunda-feira. Ao receber a notícia, Trump declarou apenas: "É uma pena". A mensagem, segundo o artigo do Times, parece reconhecer sua derrota na tentativa de influenciar o caso, porém também sinaliza uma mudança na postura do ex-aliado em relação ao ex-presidente brasileiro.
Em julho, Trump enviou uma carta agressiva a Lula, impondo tarifas ao Brasil e sanções aos ministros do STF, na tentativa de interferir no julgamento de Bolsonaro.
Ainda assim, tais iniciativas não surtiram efeito, e ao longo dos últimos cinco meses, o governo americano adotou uma postura de elogios a Lula e abriu canais de diálogo com o Brasil.
Apesar das medidas inicialmente planejadas, elas foram ignoradas pelas autoridades brasileiras, o que resultou em uma postura de aproximação. Segundo a análise do Times, as promessas de retaliações feitas pelos EUA após a condenação de Bolsonaro nunca foram concretizadas.
Em vez disso, Trump iniciou uma relação mais amistosa com Lula, inclusive participando de encontros públicos, como na Assembleia Geral da ONU, onde comentou que tinha uma "grande química" com o presidente brasileiro.
Um mês após esse evento, os dois se reuniram para diálogos mais aprofundados. De acordo com Jack Nicas, a aparente rendição de Trump demonstra que suas ações foram praticamente inúteis. Na verdade, pode-se argumentar que os esforços americanos tiveram resultados contrários às intenções, pois as tarifas brasileiras elevadas aumentaram os custos de produtos como carne e café nos EUA, justamente enquanto a Casa Branca enfrentava pressão para reduzir encargos aos consumidores americanos.
Lula, que representa um líder de esquerda na América Latina, saiu fortalecido do embate com Washington, reforçando sua posição política. Na quinta-feira, dia 20 de novembro, dois dias antes da prisão de Bolsonaro, Trump assinou um decreto que eliminou tarifas de 40% sobre uma variedade de produtos brasileiros importados.
De acordo com Nicas, o desfecho dessas ações evidencia os limites do poder de Trump de impor suas vontades a governos estrangeiros, bem como sua disposição de abandonar aliados em prol de aliados rivais, quando isso atende seus interesses.
Ele conclui que, ao admitir sua derrota, Trump demonstra que Bolsonaro está encarcerado, enquanto suas ações diplomáticas com Lula culminaram na retirada de tarifas importantes contra o Brasil, sinalizando que os esforços do ex-presidente americano não tiveram o efeito desejado.