27/11/2025 00:20:19

Acidente
25/11/2025 03:00:00

Mulheres Negras Rumo à Brasília: Marcha por Reparação e Vida Digna

Delegações estão se deslocando até a capital federal para participar do protesto nesta terça-feira

Mulheres Negras Rumo à Brasília: Marcha por Reparação e Vida Digna

Desde suas origens na Paraíba, a determinação de perseverar é expressa pelo termo 'teimosar', um verbo que simboliza a persistência de um grupo de mulheres negras que se dirigem à 2ª Marcha das Mulheres Negras, com foco em reparação e qualidade de vida em Brasília. A comitiva enfrentará uma jornada de quase 48 horas para se juntar a um milhão de participantes no dia 25 de novembro.

O protesto visa defender o direito ao bem-viver, abrangendo acesso a necessidades essenciais como moradia, emprego e segurança, além de lutar por uma existência digna, sem violência, e pela implementação de ações de reparação. Esta mobilização também contempla iniciativas voltadas a promover a ascensão social, levando em conta os impactos históricos da escravidão e do extermínio do povo negro ao longo de séculos.

Na Paraíba, o termo 'teimosando' foi adaptado por ativistas de mulheres negras inspirado por uma fala da líder quilombola e enfermeira Elza Ursulino. Este discurso refletiu as aspirações para a marcha de 2025, segundo Durvalina Rodrigues, representante da organização paraibana Abayomi.

"Durante uma homenagem em 2024, Elza, do quilombo Caiana dos Crioulos, relatou como sofria repressão de seu pai por provocar debates na comunidade, destacando sua determinação em discutir e melhorar a condição do quilombo", ela comentou.

Fundada em 2015, a entidade cujo nome significa 'encontro valioso' em iorubá, reúne mulheres negras de várias origens e foi originada na primeira marcha de mulheres negras, marcada por um evento histórico. "Naquele momento, tínhamos a sensação de que a marcha seria algo grandioso, mas não imaginávamos sua repercussão histórica", recorda Durvalina.

Após a primeira experiência, as ativistas decidiram criar a Abayomi para ampliar os debates iniciados, focando na luta contra o racismo e as violências que afetam a população negra. Ao longo de 2025, em parceria com outras organizações do Nordeste, a entidade promoveu uma série de atividades discutindo o bem-viver e a reparação, temas centrais da marcha deste ano.

A primeira abordagem destacou o autocuidado como ato de resistência coletiva e uma estratégia de enfrentamento ao racismo, enquanto a segunda abordou a necessidade de compensar os efeitos de quase 400 anos de escravidão e persistentes legados racistas. Sob a perspectiva do bem-viver, a prática do autocuidado, que transcende rituais pessoais, volta a ser um tema central na marcha após uma década.

Psicóloga da Abayomi, Hidelvânia Macedo, explica que o estresse cotidiano prejudica a saúde física e mental, podendo gerar doenças crônicas e sofrimento psicológico, impactando toda a comunidade. Ela enfatiza que, ao praticar autocuidado, há um fortalecimento na autoestima e na autodeterminação.

A marcha deste ano também destaca a importância de ações de reparação, que visam corrigir desigualdades estruturais causadas pelo racismo sistêmico. Historicamente, as pessoas negras escravizadas não receberam indenizações nem tiveram acesso a terras ou educação, sendo a participação escolar de anos uma possibilidade negada a elas.

No Nordeste, essa desigualdade se manifesta na taxa de analfabetismo, que é o dobro da média nacional (14%), além de concentrações maiores de pessoas em situação de extrema pobreza e pobreza, sobretudo entre pretos e pardos.

Durvalina afirma que, nas atividades preparatórias, o debate sobre reparação precede a discussão sobre o bem-viver, relacionando-se às explicações históricas do colonialismo, que privou os povos negros de tudo e contribuiu para a perpetuação do racismo. Ela destaca que essas reflexões também abordam questões políticas que impactam a vida, como saúde e segurança, sendo um legado importante da marcha de 2025.

A filósofa explica que a necropolítica descreve como certos grupos são mais propensos à negligência e à morte por ações ou omissões do Estado, sendo a escravidão um exemplo claro, por ter submetido sistematicamente os negros à violência e ao risco de morte. Em 27 de julho de 2025, a 11ª Marcha das Mulheres Negras, realizada em Copacabana, no Rio de Janeiro, promoveu um grande movimento contra o racismo, pela justiça social e pelo bem-estar.

Para discutir reparações, a Marcha lançou o Manifesto Econômico e Institucional, apresentando propostas em sete áreas, incluindo a criação de um fundo econômico, taxação de grandes fortunas e heranças, redução de juros, preservação do orçamento social, reformas na agricultura e urbanismo, além de linhas de crédito e ações afirmativas para empresas públicas.

Durvalina, que mantém a determinação da líder quilombola Elza Ursulino, acredita que a marcha continua estimulando reflexões e fortalecendo organizações femininas capazes de liderar mudanças sociais no Brasil. Dados do IBGE e organizações negras indicam que os grupos de cores preta e parda, considerados conjuntamente como negros, representam uma parcela significativa da população, especialmente na região Nordeste, onde analfabetismo, pobreza e desigualdade social são mais acentuados.