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Educação
24/11/2025 11:00:00

Acessos à Educação e o Impacto no Envolvimento com o Crime entre Jovens Brasileiros

Estudo revela que a maioria dos indivíduos ligados ao tráfico de drogas não conclui o ensino médio e valoriza a conquista de uma moradia própria

Acessos à Educação e o Impacto no Envolvimento com o Crime entre Jovens Brasileiros

Dados revelam que mais da metade dos jovens envolvidos com atividades ilícitas não alcançam o nível de ensino médio completo. Segundo uma pesquisa do Instituto Data Favela, divulgada na segunda-feira (17), apenas 20% dos entrevistados concluíram essa etapa escolar, enquanto 41% afirmaram que, se pudessem retornar ao passado, investiriam mais nos estudos para se formarem.

Representando uma amostra de cerca de 3.954 pessoas, a pesquisa intitulada Raio-X da Vida Real foi realizada entre 15 de agosto e 20 de setembro de 2025, em comunidades de 23 estados brasileiros, com entrevistas presenciais nos locais onde essas atividades ilegais acontecem.

Quanto ao nível de escolaridade declarado pelos participantes, 22% relataram ter concluído o educação média, enquanto 16% tinham o ensino médio incompleto. Além disso, 13% afirmaram ter finalizado o ensino fundamental, e 35% disseram ter estudado até o ensino fundamental incompleto. Por fim, 7% não tinham nenhuma instrução formal.

O questionário continha uma pergunta sobre os passos que poderiam ter sido diferentes na trajetória de vida de cada um, na qual 41% respondeu que teria estudado mais ou buscado uma formação. Marcus Vinícius Athaye, copresidente do Data Favela e líder da Cufa Global, destacou que, além de fatores financeiros e programas de geração de emprego, a compreensão de que a educação poderia transformar suas vidas é um ponto comum entre esses jovens. Segundo ele, muitos reconhecem que a formação escolar teria sido o diferencial para mudar suas realidades. Durante uma entrevista coletiva, Athaye reforçou a importância de programas de incentivo ao trabalho aliado à educação, especialmente para os jovens que lamentam não ter investido na sua formação anterior.

No que diz respeito às aspirações acadêmicas, 18% dos entrevistados demonstraram interesse em cursar Direito, seguido por 13% em Administração, 11% em Medicina ou Enfermagem, outros 11% em Engenharia ou Arquitetura, e 7% em Jornalismo ou Publicidade. A pesquisa também apontou que a falta de acesso a uma educação de qualidade e às oportunidades no mercado de trabalho impede que cerca de 60% a 70% dessas pessoas ganhem acima de dois salários mínimos por mês.

No que tange à estrutura familiar, 35% dos entrevistados cresceram em famílias tradicionais, enquanto 38% tiveram uma criação em contextos monoparentais, com 79% dessas sendo lideradas por mães, conforme dados do Censo Demográfico do IBGE de 2022.

A diversidade de modelos familiares foi evidenciada, com destaque para a importância de figuras femininas como mães, tias e avós. Quando o assunto é sonhos, 28% dos jovens desejam possuir uma casa própria. Outros 25% querem adquirir um imóvel para oferecer segurança à família.

A faixa etária entre 22 e 26 anos demonstra o maior interesse por esse sonho, com 35%. Entre 27 e 31 anos, esse desejo diminui para 27%, voltando a subir para 30% na faixa acima de 50 anos. Cléo Santana, CEO do Data Favela, afirmou que o sonho de adquirir uma moradia não é diferente do que almeja o brasileiro médio que não participa de atividades criminosas.

Para ela, a casa representa estabilidade e segurança para todos. Outro aspecto que chama atenção na pesquisa é a prevalência de problemas relacionados à saúde mental. Entre os entrevistados, 39% sofrem de insônia, 33% de ansiedade, 19% de depressão, 13% apresentam problemas com alcoolismo e 9% enfrentam crises de pânico.

Notavelmente, 70% das pessoas que manifestam ansiedade possuem uma renda de até um salário mínimo. Além disso, há uma correlação direta entre o nível de escolaridade e o aumento do grau de ansiedade; por exemplo, 72% daqueles que iniciaram o ensino superior, mas não concluíram, sofrem de ansiedade.

De acordo com a análise, fatores econômicos, como baixa remuneração, além do alcoolismo, uso de drogas e violência doméstica (apontada por 13% dos participantes), são motivos que levam muitos a ingressar na criminalidade.

Bruna Hasclepildes, coordenadora de pesquisas do Data Favela, reforçou que a criminalidade reflete a ausência de políticas públicas eficazes e das desigualdades estruturais que afetam principalmente as comunidades negras e as favelas brasileiras há décadas, perpetuando ciclos de exclusão. A pesquisa ainda revelou que 68% dos entrevistados não sentem orgulho do que fazem, desmistificando a ideia de que quem participa do crime faz por vontade própria.

Segundo Bruna, esses jovens entram na criminalidade por necessidade, conscientes de que suas ações são ilegais e muitas vezes sem alternativas viáveis.

Ao questionar sobre os principais problemas do Brasil, os participantes apontaram a pobreza e as desigualdades sociais como os maiores desafios, com 42%. Em seguida, a corrupção foi citada por 33%, a violência por 11%, e a falta de acesso à educação e saúde por 7% e 4%, respectivamente.