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24/11/2025 08:00:00

A Jornada Milenar do Alho: Propriedades Terapêuticas e Legado Cultural

Descubra como esse ingrediente ancestral conquistou cozinhas e medicinas ao redor do mundo

A Jornada Milenar do Alho: Propriedades Terapêuticas e Legado Cultural

A história do alho remonta a milhares de anos, sendo valorizado não apenas por seu sabor marcante e distintivo, mas também por suas qualidades medicinais.

Reconhecido por suas ações antimicrobianas e antivirais, esse condimento tem sido uma peça fundamental na gastronomia e nos tratamentos tradicionais ao longo da história. Originário da Ásia Central, o alho foi disseminado às diversas regiões do planeta através das migrações humanas, chegando à Europa e às Américas ao longo do tempo.

Atualmente, a China lidera a produção mundial de alho, consolidando-se como o maior produtor global. Recentemente, o programa de rádio The Food Chain, do Serviço Mundial da BBC, aprofundou-se na trajetória do alho, abordando seu significado cultural e sua evolução ao longo dos séculos, além de questionar se seus benefícios à saúde são realmente comprovados.

O alho é amplamente utilizado na culinária internacional, sendo considerado um ingrediente indispensável por chefs de diversas nacionalidades. O cozinheiro dinamarquês Poul Erik Jenson, responsável por uma Escola de Gastronomia Francesa na França, afirma que nunca teve um aluno que desconhecesse o alho.

Para Jenson, o alho é uma verdadeira joia na preparação de pratos, sobretudo na culinária francesa. Ele acredita que é quase impossível imaginar uma receita salgada sem a presença desse ingrediente.

Desde caldos, sopas, saladas até pratos com carnes, é comum encontrar um dente de alho em alguma fase da preparação. Entretanto, na infância do chef, na zona rural da Dinamarca, na década de 1970, o alho era praticamente desconhecido, conhecido apenas pelo aroma pungente.

Com o fluxo de imigrantes turcos na região, o uso do alho passou a fazer parte do cotidiano, tornando-se uma experiência culinária mais frequente. Hoje, Jenson aprecia o alho também em pizzas italianas e, no inverno, seu consumo como remédio.

Ele conta que costuma tomar um caldo matinal com uma cabeça de alho espremida, o que, segundo ele, ajudou a evitar gripes e resfriados.

Mais tarde, a importância cultural e espiritual do alho foi se consolidando por milênios. Civilizações antigas, como os gregos, praticavam rituais com alho, deixando-o em encruzilhadas para homenagear Hécate, deusa dos feitiços.

No Egito, o vegetal foi encontrado na tumba de Tutancâmon, para protegê-lo na vida após a morte. Nas lendas da China e das Filipinas, o alho era usado para afastar vampiros.

Segundo Robin Cherry, autora de Garlic: An Edible Biography, a mais antiga receita do mundo contendo alho é um ensopado mesopotâmico de cerca de 3,5 mil anos atrás.

A escritora também destaca que a famosa Pedra de Ebers, de aproximadamente o mesmo período, traz instruções sobre o uso medicinal do alho para tratar diversas enfermidades, de mal-estar a parasitas, problemas cardíacos e respiratórios.

Filósofos gregos como Hipócrates, Aristóteles e Aristófanes também reconheciam suas propriedades curativas, utilizando-o em tratamentos diversos.

O alho foi uma preferência de civilizações antigas como Mesopotâmia, Egito, Grécia, Roma, China e Índia. Os romanos, por exemplo, consideravam-no fonte de força e coragem, propagando seu uso por toda a Europa durante suas conquistas.

Inicialmente, seu consumo era privilégio das classes mais pobres, visto como alimento barato que disfarçava sabores desagradáveis e fortalecia os escravos e marinheiros.

Na Idade Média, seu papel na história da alimentação e da medicina se intensificou. Conforme o Renascimento europeu, no século XVI, a reputação do alho começou a se transformar, sendo associado a figuras reais, como Henrique IV da França, que foi batizado e alimentado com alho, elevando sua popularidade.

Na Inglaterra vitoriana do século XIX, o condimento também ganhou destaque. Contudo, sua chegada nos Estados Unidos só ocorreu nos anos 1950 e 1960, trazido por imigrantes, ajudando a desfazer estereótipos negativos. Durante muito tempo, o alho foi depreciado, sendo associado a grupos étnicos como judeus, italianos e coreanos, conhecidos como 'comedores de alho'.

Hoje, existem cerca de 600 variedades de alho, incluindo novas espécies provenientes de regiões como Uzbequistão e Geórgia. Além de seu papel na gastronomia moderna, o alho é usado na medicina natural para aliviar sintomas de resfriados.

Diversos estudos clínicos tentaram comprovar seus efeitos na pressão arterial, colesterol e até no combate ao câncer, porém com resultados contraditórios. Uma pesquisa na Austrália, de 2014, confirmou suas propriedades antimicrobianas, antivirais e antifúngicas, destacando seus altos níveis de potássio, fósforo, zinco e enxofre.

Outro estudo, realizado na Universidade de Stanford, nos EUA, com 200 participantes, não constatou melhorias significativas nos níveis de colesterol após seis meses de consumo regular de alho.

O uso do alho cru, especialmente em jejum, pode causar desconforto gastrointestinal, flatulência e alterações na flora intestinal, de acordo com estudos de 2014 e recomendações de especialistas. Para adultos, o consumo de um ou dois dentes diários é considerado seguro, mas o excesso pode levar a problemas gastrointestinais, especialmente ao consumir em jejum.