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Zumbi dos Palmares: liderança, resistência e legado

Zumbi dos Palmares: liderança, resistência e legado

Zumbi dos Palmares: liderança, resistência e legado

Zumbi dos Palmares, nascido em 1655 na Serra da Barriga, região hoje pertencente ao município de União dos Palmares, em Alagoas, foi o último e mais conhecido líder do Quilombo dos Palmares, a maior comunidade formada por pessoas escravizadas que fugiram do cativeiro no período colonial. A origem do nome Zumbi — ou Zambi — remonta ao termo “zumbe”, do quimbundo, que significa espírito ou fantasma.

O Quilombo dos Palmares se desenvolveu na antiga Capitania de Pernambuco como uma vasta organização social e política formada por africanos escravizados, seus descendentes e outros grupos que escapavam das fazendas e engenhos. Com território que chegou a ser comparado ao tamanho de Portugal e uma população estimada em cerca de trinta mil pessoas, Palmares estruturou-se como uma comunidade autônoma, composta por diversos mocambos, sendo o mais importante a Cerca do Macaco, localizado na Serra da Barriga.

Zumbi nasceu livre, mas foi capturado ainda criança e entregue ao padre Antônio Melo. Batizado como Francisco, aprendeu português, latim e os rituais católicos, auxiliando nas missas. Mesmo assim, por volta da adolescência, fugiu e retornou a Palmares. Em 1678, quando o governador da Capitania de Pernambuco tentou negociar a rendição do quilombo oferecendo liberdade parcial aos fugitivos, Zumbi rejeitou o acordo aceito por Ganga Zumba, então líder. Considerando injusta qualquer negociação que não libertasse todos os escravizados, Zumbi assumiu a chefia e reorganizou a resistência.

Durante quinze anos, enfrentou ofensivas constantes das tropas coloniais. Em 1694, após seguidas investidas, o bandeirante Domingos Jorge Velho liderou o ataque que destruiu a Cerca do Macaco. Mesmo ferido, Zumbi conseguiu escapar, mas foi encontrado em 20 de novembro de 1695, após ser traído por Antônio Soares. Morto em confronto com soldados do capitão Furtado de Mendonça, teve a cabeça decepada e exposta no Pátio do Carmo, em Recife, em uma tentativa de enfraquecer o simbolismo de sua figura para a população e desmentir a crença de que seria imortal.

A documentação existente sobre Zumbi e Palmares é fragmentada e, em geral, escrita por inimigos do quilombo, o que favoreceu a criação de mitos e disputas historiográficas. Uma das controvérsias envolve a tese de que haveria escravidão interna em Palmares. A hipótese foi popularizada em obras recentes, mas carece de evidências sólidas. Os relatos disponíveis sugerem que fugitivos eram acolhidos como livres, e há menções a cativos capturados em confrontos — prática que se aproximaria de modelos de dependência africanos, distintos da escravidão comercial europeia. O tema divide estudiosos, que interpretam Palmares ora como mantenedor de elementos culturais africanos, ora como organização onde poderiam coexistir diferentes formas de hierarquia.

Outro ponto debatido é a repressão a quilombolas que tentavam abandonar a comunidade ou fazer contatos externos sem autorização. Alguns relatos oficiais registram execuções ordenadas contra membros envolvidos em tentativas de pactos de paz não legitimados pela liderança, evidenciando uma estrutura interna rígida em momentos de guerra permanente.

A história de Palmares antecede o nascimento de Zumbi. Desde o fim do século XVI, africanos escravizados fugiam dos engenhos da Bahia e de Pernambuco e se organizavam nos primeiros núcleos que dariam origem ao quilombo. A expansão holandesa, a partir de 1630, também facilitou novas formações comunitárias. Ganga Zumba assumiu a liderança na década de 1670, quando Palmares já reunia milhares de habitantes distribuídos em diversos mocambos fortificados.

Após a destruição definitiva em 1694 e a morte de Zumbi no ano seguinte, Palmares tornou-se símbolo maior da resistência contra a escravidão no Brasil. Em 1995, a data de sua morte foi adotada como marco do Dia da Consciência Negra, integrada ao calendário escolar em 2003 e oficializada como feriado nacional em 2024. A celebração valoriza sua imagem como herói da liberdade e referência para movimentos sociais, sendo também lembrado pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil em seu calendário de santos.

A figura de Zumbi tornou-se inspiração para diversas manifestações culturais. Seu nome aparece em canções, peças teatrais, produções audiovisuais e homenagens públicas, como o Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares, em Maceió. Ele também foi tema de obras musicais de artistas como Edu Lobo, Vinicius de Moraes, Elis Regina, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor e Chico Science & Nação Zumbi, além de composições de bandas como Sepultura e Natiruts.

Zumbi dos Palmares permanece como um dos personagens mais emblemáticos da história brasileira, símbolo de resistência, identidade e luta por liberdade.