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Saúde
18/11/2025 20:00:00

Revolução na Saúde: Como as Terapias Complementares Estão Transformando Cuidados Médicos no Brasil

A integração de práticas alternativas visa promover uma abordagem mais preventiva e holística da saúde, expandindo o acesso e a aceitação

Revolução na Saúde: Como as Terapias Complementares Estão Transformando Cuidados Médicos no Brasil

Nos últimos anos, a incorporação de métodos complementares na rotina de cuidados de saúde tem se destacado no cenário brasileiro, expandindo suas aplicações e reconhecimento. Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2024, aproximadamente 7,16 milhões de atendimentos realizados por Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) na rede pública representam um crescimento de 70% em comparação a 2022. Nesse período, a quantidade de indivíduos atendidos aumentou de 5 milhões para mais de 9 milhões, marcando uma elevação de 83% no acesso a esses serviços. Desde 2006, essas práticas fazem parte da Política Nacional de PICS do Sistema Único de Saúde (SUS) e incluem recursos terapêuticos como acupuntura, fitoterapia, meditação, auriculoterapia, reiki, yoga e técnicas corporais.

Além disso, estratégias de orientação sobre qualidade do sono, nutrição e gerenciamento do estresse também compõem esse conjunto. A proposta principal não é substituir os tratamentos tradicionais, mas complementá-los, especialmente na atenção primária e em condições de saúde crônicas.

A compreensão de que fatores como alimentação, padrões de sono, ambiente social e emoções impactam processos fisiológicos, como inflamação, resposta imunológica e equilíbrio hormonal, fundamenta a medicina integrativa.

Assim, ela prioriza o bem-estar geral do indivíduo, e não apenas a eliminação de sintomas. Valmir Ferreira, especialista na área, esclarece: “Saúde não se resume à ausência de enfermidades. Problemas como sono irregular, má alimentação, estresse prolongado e isolamento social influenciam diretamente o funcionamento do organismo.

Focar somente nos sintomas é lidar com uma fração do quadro.” No setor privado, observa-se uma crescente quantidade de clínicas e consultórios que desenvolvem programas contínuos de acompanhamento, incluindo orientações nutricionais, práticas de respiração, rotinas para melhorar o descanso, monitoramento de marcadores metabólicos e estratégias para redução gradual do estresse.

Em 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a Estratégia Global para Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa 2025–2034, com o objetivo de orientar países na regulamentação, formação e pesquisa científica nesta área. Segundo a entidade, 76% das pessoas que utilizam práticas integrativas fazem isso para tratar doenças crônicas, enquanto 68% usam esses métodos para fins preventivos.

A recomendação é que os sistemas de saúde incorporem terapias complementares de maneira gradual, apoiando-se em evidências científicas, priorizando segurança, critérios de indicação e acompanhamento por profissionais qualificados. No Brasil, a expansão das PICS é mais evidente na Atenção Primária, que mantém maior proximidade com o cotidiano dos pacientes.

No último ano, essa etapa registrou 3,19 milhões de atendimentos, um crescimento de 67% em dois anos. Já os serviços de média e alta complexidade realizaram cerca de 3,95 milhões de procedimentos, o que representa um aumento de 73% no mesmo período. Hoje, mais de 8 mil unidades de saúde disponibilizam práticas integrativas, presentes em aproximadamente 54% dos municípios brasileiros.

Algumas dessas intervenções tiveram crescimento expressivo: yoga (+290%), arteterapia (+271%), aromaterapia (+181%), técnicas corporais da Medicina Tradicional Chinesa (+208%) e auriculoterapia (+102%). Esses números evidenciam não apenas a ampliação da oferta, mas também a diversificação das opções disponíveis.

A tendência é que a medicina integrativa contribua para uma mudança na forma de cuidar da saúde no país: de uma abordagem centrada na doença para um modelo mais preventivo e contínuo, no qual o próprio indivíduo participa ativamente do seu bem-estar.

Valmir Ferreira reforça: “O que está mudando não é apenas o tratamento, mas a concepção de que o cuidado deve começar antes do surgimento de enfermidades. Isso exige tempo, acompanhamento e uma visão mais ampla sobre o modo de vida de cada pessoa.”

Desafios futuros envolvem a qualificação de profissionais, o estabelecimento de protocolos clínicos mais claros e a produção contínua de evidências científicas. Além disso, é necessário reduzir as desigualdades regionais, pois a oferta ainda é majoritariamente concentrada em centros urbanos de médio e grande porte. Apesar dessas dificuldades, especialistas acreditam que o movimento tende a se consolidar, especialmente entre pacientes com doenças de longo prazo, equipes de atenção primária e programas de prevenção associados à longevidade, promovendo uma transformação gradual na atenção à saúde no Brasil.