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Polícia
14/11/2025 18:00:00

Operação policial desmantela rede de fraudes envolvendo múltiplas empresas no DF

Investigação revela criação de pelo menos 10 firmas no mesmo endereço por membros de organização ligada ao INSS

Operação policial desmantela rede de fraudes envolvendo múltiplas empresas no DF

Na quinta-feira (13/11), agentes da Polícia Federal, em colaboração com a Controladoria-Geral da União (CGU), desencadearam uma nova fase da operação conhecida como Sem Desconto, focada em um esquema ilícito de descontos não autorizados em benefícios de aposentadorias e pensões em âmbito nacional.

A ação contou com a realização de 63 diligências de busca e apreensão e 10 prisões preventivas em diversas unidades federativas. Entre os detidos estão figuras de destaque como Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS; Antonio Carlos Antunes Camilo, popularmente chamado de “Careca do INSS”; Vinícius Ramos da Cruz, responsável pelo Instituto Terra e Trabalho (ITT); Tiago Abraão Ferreira Lopes, dirigente da Conafer e irmão de seu presidente, Carlos Lopes; além de Cícero Marcelino de Souza Santos, empresário vinculado à Conafer, e Samuel Chrisostomo do Bonfim Júnior, também ligado à mesma organização.

As ações ocorreram em 17 estados mais o Distrito Federal, com os suspeitos atuando em localidades como Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins. De acordo com as investigações, os envolvidos inseriam dados fraudulentos em sistemas oficiais, criando registros fictícios de beneficiários em associações ou entidades falsas.

Este procedimento permitia a realização de descontos ilegais nos pagamentos de aposentados e pensionistas, muitos dos quais não tinham conhecimento das cobranças.

As autoridades suspeitam que o grupo operava uma organização criminosa dedicada à obtenção de vantagens financeiras por meio de golpes previdenciários, envolvendo também corrupção ativa e passiva, visando facilitar o acesso fraudulento aos sistemas do INSS.

Há ainda indícios de que parte do patrimônio do grupo estaria ocultada, dificultando o rastreamento dos valores desviados. Um aspecto particularmente preocupante é que os membros da quadrilha abriram pelo menos dez empresas com endereço comum em Brasília, que prometiam atividades variadas, incluindo comércio varejista, locação de veículos e suporte às atividades agrícolas.

A fachada dessas empresas, contudo, é suspeita, já que uma delas, registrada como Solution e pertencente a Samuel Chrisostomo, estaria localizada em um espaço que abriga uma Igreja Evangélica no Recanto das Emas, registrada em nome de Lucineide dos Santos Oliveira, sócia da Associação dos Aposentados do Brasil (AAB), outra entidade sob investigação.

Durante uma visita ao local, a reportagem verificou apenas a presença da igreja e um terreno abandonado, levantando dúvidas sobre a existência real da empresa que, segundo dados da Receita Federal, estaria em atividade no endereço, reforçando suspeitas de que se trate de uma companhia de fachada.

Outro padrão comum entre essas empresas é o contato principal compartilhado via e-mail, mesmo pertencendo a diferentes instituições e dividindo o mesmo espaço físico, o que reforça a suspeita de operações fraudulentas. Na CPMI que apura as fraudes do INSS, Cícero Marcelino admitiu que obtinha lucros modestos com recursos que deveriam beneficiar aposentados e pensionistas, além de ter confessado ter criado empresas para prestar serviços a pedido do líder da Conafer.

Ele também revelou que recebia planilhas de pagamento das entidades ligadas à organização e as repassava às partes envolvidas, embora negasse conhecer Samuel Chrisostomo, apesar de suas empresas operarem no mesmo local.

Durante o depoimento, deputados criticaram a operação, com a deputada Adriana Ventura (Nov-SP) afirmando que as ações demonstram que muitas das empresas e sindicatos envolvidos são, na verdade, estruturas de laranjas, destinadas a dissimular o verdadeiro impacto do esquema.

O esquema, segundo as apurações, consistia na manipulação de sistemas previdenciários para incluir beneficiários em entidades fictícias, possibilitando descontos indevidos nos benefícios, muitas vezes sem o conhecimento dos titulares.

O grupo é investigado por formação de quadrilha, estelionato previdenciário, além de corrupção ativa e passiva, com possíveis ocultações patrimoniais que dificultam o rastreamento dos valores desviados.

Até o momento, as tentativas de contato com os principais envolvidos por e-mail e telefone não obtiveram retorno, deixando espaço aberto para manifestações futuras. A operação busca desmantelar a rede e responsabilizar os envolvidos pelos crimes praticados.