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13/04/2025 12:00:00

Superando o Silêncio: A Jornada de uma Mulher com Prolapso Pélvico e Sua Luta por Informação

Helen Ledwick relata sua experiência de vida após descobrir um problema comum, mas muitas vezes ignorado, que afeta milhares de mulheres após o parto

Superando o Silêncio: A Jornada de uma Mulher com Prolapso Pélvico e Sua Luta por Informação

Após quase uma década de buscas no Google com a frase "por que sinto que meus órgãos estão caindo", Helen Ledwick não imaginava que essa pesquisa marcaria uma virada radical em sua trajetória pessoal.

A ex-jornalista e criadora de conteúdo da BBC identificou que sofria de prolapso de órgão pélvico (POP), uma condição que acomete uma em cada doze mulheres após a gestação, embora muitos ainda desconheçam sua existência.

O prolapso surge quando um ou mais órgãos internos da região pélvica, como bexiga, intestino ou útero, deslocam-se de suas posições habituais, pressionando a parede vaginal e formando uma protuberância, sensível ao toque tanto por dentro quanto por fora.

Apesar de não representar risco de vida, a condição pode interferir significativamente na rotina, relacionamentos e bem-estar psicológico. Sintomas frequentes incluem a sensação intensa de peso ou de algo que desce pela vagina, muitas vezes descrito como uma sensação de estar "sentada sobre uma bola de tênis".

Ledwick enfrentou o problema duas semanas após um parto difícil de seu segundo filho. Ela recorda: "Levantei do sofá e senti tudo se mover, como quando um absorvente interno sai do lugar.

Você percebe que há algo errado". A confusão tomou conta de Helen, que usou um espelho e seu celular para investigar seu estado. "Nunca tinha ouvido falar de prolapso antes", ela relata.

Desde então, percebeu que, apesar de sua incidência relativamente comum, a condição ainda é envolta em tabu, devido ao constrangimento e ao estigma social. Ela atribui a falta de diálogo aberto ao desconhecimento geral, tanto entre mulheres quanto entre profissionais de saúde, e busca romper esse silêncio ao compartilhar sua história. Sua iniciativa inclui a criação de um podcast e a autoria do livro "Por que Mães Não Pulam", no qual relata sua experiência e procura aumentar a conscientização sobre a saúde pélvica.

A médica Nighat Arif, especialista em saúde feminina, reforça que a ocorrência de prolapso é bastante comum e que seus sintomas muitas vezes passam despercebidos. Ela explica que a sensação de pressão pode ocorrer na região lombar, na parte da frente ou na altura do umbigo, além de piorar durante a relação sexual — um tema ainda considerado tabu. Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento dessa condição, incluindo partos, levantamento de pesos, excesso de peso, prisão de ventre e até cirurgias como histerectomia.

Mulheres na menopausa também estão mais suscetíveis ao prolapso devido ao envelhecimento. As chances de ocorrência aumentam especialmente após o parto natural e dificuldades durante o parto. Para auxiliar na melhora dos sintomas, recomenda-se exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico e mudanças no estilo de vida.

Casos mais severos, contudo, podem necessitar de intervenções médicas, que variam desde o uso de pessários vaginais — dispositivos que oferecem suporte às paredes da vagina ou ao útero deslocado — até procedimentos cirúrgicos. Segundo a fisioterapeuta Christine Ekechi, quem sofre de prolapsos pode perceber inchaços ou saídas dentro da vagina, sinais de que os ligamentos que sustentam os órgãos internos enfraqueceram, podendo causar deslocamento de estruturas como a bexiga.

Helen Ledwick enfatiza que aquilo que começou como uma busca isolada no Google há 15 anos transformou-se em um movimento dedicado a ajudar outras mulheres a reconhecerem os sinais e a buscarem ajuda. Sua recuperação foi gradual, envolvendo exercícios específicos e fortalecimento muscular, inclusive após orientação de fisioterapeutas que a ajudaram a retomar atividades como correr — algo que ela achava impossível.

Atualmente, Helen está participando de uma corrida de 10 km, sentindo-se bem e mais confiante para enfrentar sua condição. Ela afirma: "Ainda tenho o prolapso, mas ele não controla mais minha vida. Estou vencendo a batalha".

De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o diagnóstico normalmente é feito por exame físico na posição ginecológica, incluindo a manobra de Valsalva, que aumenta a pressão intra-abdominal.

O tratamento é indicado para mulheres que apresentam sintomas ou complicações, como dificuldades urinárias ou intestinais, incluindo incontinência, infecções recorrentes ou esvaziamento incompleto da bexiga. As opções de tratamento variam entre abordagens conservadoras, como o uso de pessários e exercícios para fortalecer o assoalho pélvico, e procedimentos cirúrgicos, cuja escolha depende da avaliação médica e da gravidade do caso.

Em alguns casos, reforço muscular pode aliviar sintomas leves, mesmo que não corrija o deslocamento avançado. A especialista Christine Ekechi explica que o enfraquecimento dos ligamentos pode levar ao inchaço ou à saída de tecido pela vagina, fenômeno comum em casos de prolapso, e que o tratamento adequado visa restaurar a estabilidade dessa estrutura.

A luta de Helen Ledwick, que começou com uma simples busca na internet, se transformou em um esforço maior para promover informação e apoio às mulheres que enfrentam o mesmo problema. Sua história é uma inspiração de perseverança, demonstrando que o conhecimento e o suporte podem transformar vidas.