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Guerra
08/11/2025 18:00:00

Mudanças Táticas na Invasão Russa na Ucrânia Intensificam a Infiltração em Pokrovsk

A cidade de Donetsk se torna palco de estratégias precárias e ações dissimuladas por parte das forças invasoras

Mudanças Táticas na Invasão Russa na Ucrânia Intensificam a Infiltração em Pokrovsk

Na região de Donetsk, a cidade de Pokrovsk emergiu como um ponto crucial no conflito entre Moscou e Kiev. Os confrontos intensos que permanecem há mais de um ano na área se intensificaram nos últimos meses, chegando às vias urbanas, onde forças russas realizam infiltrações graduais, conforme relatado por um operador de drones à DW. Detectar cada invasor é praticamente impossível.

Os agentes invasores buscam pontos vulneráveis, aguardam condições climáticas favoráveis e entram na cidade individualmente ou em duplas. Uma vez lá, disfarçam-se de civis, permanecendo por meses sem serem detectados. "Na minha observação, a infiltração é o maior desafio. É extremamente difícil distinguir um inimigo de um civil", declara à DW um soldado de reconhecimento atuando na região.

Segundo ele, as tropas russas avançam usando uma grande quantidade de drones e bombas planadoras, que são empregadas para montar emboscadas e interromper a logística ucraniana, além de destruir qualquer cobertura na área. Militares ucranianos avaliam que o Exército russo possui vantagem numérica e superioridade aérea sobre Pokrovsk. A defesa do país não consegue combater de forma eficaz os inúmeros drones inimigos, pois deslocar suas defesas mais próximas da linha de frente colocaria sistemas de alto custo sob risco, e não há aviões suficientes para neutralizar os bombardeiros russos Su-25.

A extensão da linha de frente ao redor de Pokrovsk é considerável, atingindo cerca de 20 quilômetros de zona de conflito. Os russos têm como estratégia interromper intencionalmente as rotas logísticas ucranianas, dificultando o abastecimento de munições, equipamentos e até mesmo a evacuação de feridos. Apesar disso, a logística ainda opera, embora com grande risco.

Muitas unidades precisam percorrer dezenas de quilômetros até suas posições, com ajuda humanitária sendo enviada por drones. As forças russas vêm se aproximando de cidades como Dobropillia, Rodynske e Bilytske, que até recentemente eram pontos de controle e centros de transporte ucranianos.

De acordo com um piloto de drone, os militares ucranianos enfrentam dificuldades acrescidas na mobilidade, pois as rotas terrestres estão sob fogo, e os operadores precisam permanecer até 40 dias em suas posições por medo de serem cercados pelos russos. Em julho, a logística ainda permitia entregas diárias em Rodynske, mas, em setembro, a distância para essas áreas aumentou para 30 quilômetros.

Um operador de drone da Guarda Nacional Ucraniana, que atua perto de Myrnohrad, detalha a tática russa de avançar em pequenos grupos de infantaria. No início de julho, o fornecimento diário de suprimentos era possível; porém, a partir de agosto, os drones precisaram percorrer até 12 quilômetros, aumentando para 30 quilômetros em setembro, dificultando o acesso às posições.

Ele explica que as rotas terrestres estão escassas e sob intenso fogo, obrigando os operadores a permanecerem por longos períodos em suas posições, temendo o cerco. Muitos recusam-se a atuar próximo de Myrnohrad devido ao risco de serem capturados. Segundo Ruslan Mykula, cofundador do projeto DeepState, Moscou tenta consolidar seu domínio em Myrnohrad para estabelecer uma logística sólida, o que representaria um avanço negativo para a Ucrânia.

Sem Pokrovsk, as forças ucranianas perderiam sua capacidade de manter a defesa de Myrnohrad, transformando a cidade numa base principal para as tropas russas, que se consolidariam em áreas de prédios altos e densamente povoadas, facilitando a acomodação de soldados. As posições de reconhecimento e de guerra eletrônica também precisariam ser realocadas para regiões de floresta, aumentando as dificuldades logísticas.

Um oficial ucraniano, atualmente próximo a Pokrovsk, destacou a importância estratégica da cidade, considerando suas fortificações avançadas e sua resistência, que a torna única na região. Se Pokrovsk for tomada, as forças russas poderiam avançar rumo a Kramatorsk, Sloviansk e Druzhkivka, tornando essa área mais vulnerável.

Para especialistas militares ucranianos, a captura da região de Donetsk é parte de uma estratégia maior russa, visando negociar a partir de uma posição de força, incluindo o controle de vias essenciais entre Bakhmut, Chasiv Yar, Kostiantynivka e Pokrovsk, facilitando uma possível ofensiva em direção a Pavlograd, na Dnipropetrovsk.

Dessa forma, a conquista da conurbação entre Pokrovsk e Myrnohrad é considerada um passo estratégico para o avanço russo em direção ao norte, incluindo as cidades de Druzhkivka, Kramatorsk e Sloviansk. Markus Reisner, especialista em táticas militares, comenta que a situação se deteriora há semanas, com o avanço russo se consolidando na parte sul de Pokrovsk apesar de tentativas ucranianas de repelir tais progressos.

Reisner alerta que os combates nos arredores da cidade tendem a seguir o padrão de conflitos anteriores, nos quais a força russa consegue penetrar nas áreas mais ao sul da cidade mesmo com resistências em outros setores.

Ainda assim, o avanço operacional russo na ofensiva de verão permanece aquém do esperado, mantendo o conflito em um estágio de luta de resistência e tentativas de avanço contínuo.