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Brasil
03/11/2025 18:00:00

Cada morte violenta no Brasil gera prejuízo médio de R$ 1 milhão aos cofres públicos

Cada morte violenta no Brasil gera prejuízo médio de R$ 1 milhão aos cofres públicos

A escalada da violência no país tem provocado impactos que vão muito além das perdas humanas e sociais, atingindo também a economia nacional. De acordo com o Atlas da Violência 2025, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a criminalidade representa cerca de 11% do Produto Interno Bruto (PIB), o que equivale a mais de R$ 1 trilhão por ano.

O levantamento estima que cada morte violenta cause um prejuízo médio de R$ 1 milhão aos cofres públicos, considerando gastos com saúde, previdência, segurança, processos judiciais e perda de produtividade. Apenas os homicídios registrados geram um custo anual superior a R$ 46 bilhões, evidenciando o peso econômico da violência no país.

Segundo o pesquisador Daniel Cerqueira, responsável pelo estudo, os prejuízos não se limitam às despesas diretas. “Os custos da violência incluem também perdas intangíveis, como a produtividade interrompida e o impacto emocional sobre a sociedade. Quando há mortes prematuras, há um custo coletivo imensurável”, explica.

Com base em dados de homicídios e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), o Ipea estima que o fim dos assassinatos poderia representar um aumento de até 2,5% no PIB brasileiro. Cerqueira destaca ainda que o proibicionismo das drogas tem um impacto estimado de 0,77% do PIB — cerca de R$ 60 bilhões anuais —, resultado dos conflitos entre facções criminosas e confrontos com as forças de segurança.

Os efeitos econômicos da violência também aparecem de forma significativa no estado do Rio de Janeiro. Um estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) indica que as perdas anuais provocadas pela criminalidade variam entre R$ 10,76 bilhões e R$ 11,48 bilhões, considerando os prejuízos para o setor terciário e os custos com segurança pública. O economista-chefe da entidade, Felipe Tavares, reforça a necessidade de políticas públicas urgentes para conter esses impactos. “A insegurança afeta não apenas empresas ou governos, mas toda a sociedade”, afirma.

Uma análise do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostra que países do Cone Sul, incluindo o Brasil, sofrem perdas agregadas diretas de até 3,39% do PIB por causa da criminalidade. No Brasil, o prejuízo social anual chega a R$ 372,9 bilhões, sendo R$ 32 bilhões apenas no Rio de Janeiro.

Especialistas apontam que combater o financiamento do crime organizado é mais eficaz do que operações de confronto direto. A Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto pela Polícia Federal em conjunto com a Receita Federal, o Ministério Público e secretarias estaduais, é um exemplo dessa estratégia. Sem disparar um tiro, a investigação desarticulou um esquema bilionário de adulteração e comércio ilegal de combustíveis ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), bloqueando R$ 3,2 bilhões em bens e valores.

O auditor-fiscal Cláudio Ferrer, da Receita Federal, defende que o Fisco seja incorporado formalmente ao sistema de segurança pública. “As polícias investigam, mas as informações tributárias potencializam esse trabalho. O Estado precisa ser mais organizado do que o próprio crime”, afirma.

Cerqueira reforça que operações baseadas em inteligência e integração entre órgãos são mais eficazes do que ações de grande impacto e alto custo, como as realizadas recentemente no Rio de Janeiro, que deixaram 121 mortos. “Essas ofensivas não desarticulam o crime organizado, apenas o realimentam. É preciso uma política de segurança unificada, guiada por dados e com foco em resultados”, conclui.