O Dia de Todos os Santos, conhecido oficialmente como Festum omnium sanctorum, é uma celebração que honra todos os santos, conhecidos e desconhecidos, que viveram uma vida de virtude e fé. Comemorado em 1º de novembro na Igreja Católica Romana, essa data marca o segundo dia da temporada dedicada aos santos, sendo precedido pela festividade de Finados, em 2 de novembro. Na tradição ortodoxa, a celebração acontece no primeiro domingo após Pentecostes, encerrando o período pascal, enquanto igrejas anglicanas também adotam a mesma data, compartilhando o mesmo significado espiritual.
A origem dessa festividade remonta ao século IV, quando os cristãos começaram a homenagear mártires e santos que testemunharam sua fé através de suas vidas e mortes. Segundo a Enciclopédia Católica, a comemoração foi instaurada em 13 ou 14 de maio, quando o Papa Bonifácio IV consagrou o Panteão romano a Maria e aos mártires, símbolo da substituição dos deuses romanos pelos santos cristãos. Posteriormente, no século VIII, o Papa Gregório III transferiu a celebração para 1º de novembro, motivado por práticas similares na Inglaterra. Com o tempo, a data foi oficializada por Gregório IV em 835, tornando-se uma festa universal celebrada por diversas denominações cristãs, incluindo a Igreja Ortodoxa e a Anglicana.
Na prática litúrgica ocidental, a cerimônia inicia na noite de 31 de outubro, conhecida como Véspera de Todos os Santos, e se estende até o dia seguinte, culminando nas homenagens aos fiéis falecidos. Essa tradição possui raízes profundas na história cristã, onde inicialmente as celebrações eram realizadas nos locais de martírio, como o Coliseu de Roma, e posteriormente se expandiram para incluir festas em homenagem a mártires e santos canonizados.
Além do aspecto religioso, a festividade possui uma relação cultural com o Dia dos Mortos, uma tradição popular que se consolidou na França, Espanha, México e em outras regiões. A data de 2 de novembro foi fixada pelos monges de Cluny no século XI, com o objetivo de rezar pelas almas no purgatório. No Brasil, o dia é marcado por práticas tradicionais como o pão-por-Deus, uma antiga celebração envolvendo crianças que percorrem as ruas pedindo doações e recitando versos, recebendo alimentos como pães, broas, doces e frutos secos. Essa prática, que remonta ao século XV, tinha origem em rituais pagãos de culto aos mortos, adaptados ao contexto cristão ao longo dos séculos.
Durante as décadas de 1960 e 1970, o pedido de pão-por-Deus passou a adquirir uma conotação mais lúdica, com regras específicas para a participação das crianças, como limite de idade e horário de solicitação. Hoje, essa tradição é pouco praticada em muitas regiões, mantendo-se viva principalmente em locais como Fátima, em Portugal.
O Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro pelos católicos, é dedicado à memória dos falecidos, especialmente aqueles que estão no purgatório. Essa data, que também faz parte do ciclo de homenagem aos santos, tem raízes antigas na tradição litúrgica, na qual mártires e santos eram comemorados no dia de sua morte, considerada o seu nascimento para a vida eterna. Com o tempo, essa prática se estendeu para incluir grupos de mártires e santos não canonizados, refletindo a ideia de que todos os fiéis, independente de sua canonização oficial, estão na gloria de Deus.
As celebrações envolvem missas, orações e peregrinações a locais de memória, como igrejas e templos religiosos, frequentemente marcados por venerações aos mártires. A unificação das homenagens a diversos mártires em uma única data ocorreu a partir do século IV, inicialmente em Antioquia, e posteriormente se consolidou na tradição ocidental, reforçando o valor do testemunho de fé e a esperança de vida eterna.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a comunhão com os santos é uma expressão da união de toda a Igreja, promovendo o exercício da caridade fraterna. Essa comunhão não se limita ao exemplo dos santos, mas também à intercessão deles perante Deus, fortalecendo a fé dos fiéis. O próprio Papa João Paulo II destacou a vocação universal à santidade, incentivando cada pessoa a seguir os passos de Cristo, tornando-se santo segundo o plano divino.
A celebração de Todos os Santos também é uma oportunidade para refletir sobre a chamada à perfeição cristã, conforme ensinado nas escrituras, onde os fiéis são convidados a buscar a integridade e a entrega total a Deus, atuando com amor e virtude em suas vidas.
Em Portugal, o dia de Todos os Santos é tradicionalmente considerado feriado nacional, embora tenha sofrido alterações na sua data de observância ao longo dos anos, sendo restabelecido posteriormente. A prática popular inclui o costume de crianças saírem às ruas pedindo o pão-por-Deus, uma tradição que remonta ao século XV, com raízes nos rituais de culto aos mortos e que se consolidou após o terremoto de Lisboa em 1755, como uma forma de pedir esmolas e homenagear os entes queridos falecidos.
O pedido de pão-por-Deus costuma envolver crianças recitando versos e recebendo alimentos diversos, como pães, doces, bolos e frutas secas, que são guardados em sacos de pano. Em algumas regiões, também é comum os padrinhos oferecerem um bolo chamado Santoro. A tradição, embora em declínio, ainda é praticada em locais como Fátima, onde mantém forte presença.
Em outras culturas e denominações protestantes, o Dia de Finados também é observado, mesmo que sem a crença no purgatório. Entre os antigos celtas, o Halloween, comemorado em 31 de outubro, era considerado a véspera do Ano-Novo, marcada por rituais de proteção contra espíritos malignos, incluindo fogueiras e oferendas de alimentos às almas dos mortos. Essa tradição, que tem origem na cultura celta e nos rituais druidas, foi incorporada às celebrações cristãs ao longo do tempo, assumindo aspectos como a queima de fogueiras e o uso de símbolos de proteção.
Segundo registros, as fogueiras eram acesas em noites próximas ao Dia de Finados e na própria data, simbolizando a imortalidade e ajudando as almas a se libertarem do purgatório. Essas práticas refletem uma antiga tentativa de estabelecer uma conexão entre o mundo dos vivos e dos mortos, mesclando elementos pagãos e cristãos em uma tradição que perdura até os dias atuais.