Governo estuda ampliar vacinação contra o pneumococo no SUS

O Ministério da Saúde avalia ampliar a imunização contra uma das bactérias mais perigosas e recorrentes entre crianças e pessoas com baixa imunidade: o pneumococo. Duas consultas públicas estão abertas até 11 de novembro para colher sugestões de especialistas e da população sobre a inclusão de vacinas mais modernas e com maior cobertura no Sistema Único de Saúde (SUS).

Atualmente, o Brasil registra altos índices de doenças pneumocócicas, que causam casos graves de pneumonia, meningite e otite, sendo também a principal causa de morte infantil evitável por vacinação.

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) analisa a substituição das vacinas hoje aplicadas por versões mais avançadas. Entre as alternativas estudadas estão as vacinas pneumocócicas conjugadas 13-valente, 15-valente e 20-valente para crianças de até cinco anos, e a 20-valente em dose única para pessoas imunocomprometidas.

O imunizante atualmente disponível na rede pública é o 10-valente, que protege contra dez tipos de pneumococo. As vacinas mais recentes ampliam a cobertura para até 20 sorotipos, incluindo cepas resistentes a antibióticos, um dos principais desafios no combate às infecções respiratórias.

Desenvolvida pela Pfizer, a vacina pneumocócica 20-valente conjugada (Prevenar 20) é a única aprovada no Brasil que protege contra 20 sorotipos do pneumococo de maior relevância epidemiológica. Desde o ano passado, ela está disponível em clínicas particulares. Segundo a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro, o imunizante representa “a oportunidade de oferecer a vacina conjugada com a mais ampla cobertura do país, colocando a ciência a serviço da saúde dos brasileiros”.

A proposta do governo contempla dois grupos prioritários. O primeiro é o das crianças de até cinco anos, foco da Consulta Pública nº 87/2025, que analisa a substituição da vacina atual por versões de maior alcance. O segundo é o das pessoas com imunidade comprometida, abrangidas pela Consulta Pública nº 85/2025, como pacientes com HIV, câncer, diabetes ou que passaram por transplantes. Para esse grupo, a previsão é aplicar a vacina 20-valente em dose única a partir dos cinco anos.

O pneumococo (Streptococcus pneumoniae) pode causar desde pneumonia bacteriana até meningite severa, que apresenta taxa de mortalidade de cerca de 30% entre os casos hospitalizados e pode deixar sequelas neurológicas graves, como perda auditiva e paralisia cerebral.

De acordo com o médico Werciley Júnior, chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, o impacto da doença vai além das estatísticas de internação. “Quando uma criança é hospitalizada, toda a família é afetada. Os pais precisam se afastar do trabalho, e isso gera um custo social importante”, afirma.

O especialista ressalta que a vacinação é a medida mais eficaz para reduzir hospitalizações e complicações graves. “Ampliar a cobertura e as faixas etárias vacinadas diminui o risco de exposição das populações mais vulneráveis e reduz a letalidade dessas infecções”, acrescenta.

As consultas públicas permanecem abertas até 11 de novembro de 2025. Após o encerramento, o Ministério da Saúde avaliará as contribuições recebidas e decidirá sobre a inclusão das novas vacinas no calendário nacional. Caso a proposta seja aprovada, milhões de brasileiros poderão ser beneficiados com maior proteção contra doenças pneumocócicas graves. Como resume o infectologista Werciley Júnior, “vacinar é prevenir não só a doença, mas também o impacto social e emocional que ela causa nas famílias”.