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Brasil
29/10/2025 14:00:00

Megaoperação na Penha e no Alemão: mais de 60 mortos em ação policial que se torna a mais letal da história do Rio

Megaoperação na Penha e no Alemão: mais de 60 mortos em ação policial que se torna a mais letal da história do Rio

Deflagrada na manhã de terça-feira (28), a Operação Contenção, realizada nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, terminou com ao menos 64 mortos, entre eles 60 civis e quatro policiais militares. A ação, que mobilizou cerca de 2.500 agentes e contou com 160 mandados de prisão, é considerada a mais sangrenta da história recente do Estado, superando a do Jacarezinho, em 2021, que deixou 28 mortos.

Na manhã desta quarta-feira (29), a BandNews FM relatou que mais de 60 corpos foram encontrados em áreas de mata da Penha e levados para a praça São Lucas, onde estão enfileirados. Segundo as informações iniciais, esses corpos ainda não teriam sido incluídos no balanço oficial, o que pode elevar o total de mortos para mais de 120, caso a perícia confirme os novos registros.

Ruas e pontos de ônibus da Zona Norte amanheceram vazios, mas as principais vias da cidade foram liberadas. O governador Cláudio Castro determinou o reforço no policiamento em todo o estado e se reúne nesta quarta com a cúpula de segurança para avaliar a operação.

A megaoperação teve como principal alvo Edgard Alves Andrade, conhecido como Doca da Penha ou Urso, apontado como líder do Comando Vermelho na região e acusado de mais de 100 homicídios. Ele segue foragido, e o Disque Denúncia oferece R$ 100 mil por informações sobre seu paradeiro. Durante a ação, foi preso Thiago do Nascimento Mendes, o Belão do Quitungo, considerado braço direito de Doca. Belão foi capturado escondido em uma casa na Favela da Chatuba, na Penha.

O Ministério Público do Rio denunciou 67 pessoas por associação ao tráfico e três por tortura. Entre as lideranças apontadas estão Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala; Carlos Costa Neves, o Gadernal; e Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão. De acordo com as investigações, eles seriam responsáveis pela administração do tráfico, distribuição de drogas e execuções de rivais.

Durante a madrugada, moradores relataram o recolhimento de corpos na mata da Penha e ausência de tiroteios no local. A Secretaria de Segurança informou que a operação foi planejada com base em informações de inteligência para frear a expansão do Comando Vermelho em outras áreas do estado.

A ação provocou impactos severos na rotina do Rio. Foram suspensas as aulas em 49 escolas municipais e 35 estaduais, além da paralisação de 120 linhas de ônibus e o bloqueio de vias no BRT. As universidades públicas UFRJ, UERJ e UFF também cancelaram atividades presenciais nesta quarta-feira.

Durante o confronto, um delegado foi baleado na perna, um cabo do Bope sofreu ferimento de raspão e outros cinco policiais ficaram feridos. Moradores dos bairros vizinhos relataram feridos por balas perdidas, entre eles uma mulher, dois homens e uma pessoa em situação de rua. Todos foram levados ao Hospital Getúlio Vargas.

Na noite de terça, o presidente Lula retornou da Ásia e convocou reunião de emergência com ministros da Casa Civil, Justiça e AGU, além da Polícia Federal, para discutir a crise no Rio. O governador Cláudio Castro afirmou que pedirá a transferência de dez presos considerados chefes de facções.

O governo federal, por meio dos ministros Rui Costa e Ricardo Lewandowski, pretende apresentar a Castro uma proposta para atuação do Exército em áreas federais, como portos e aeroportos, em modelo semelhante ao aplicado em 2023.

O jornalista Rodolfo Schneider, da Band, classificou a operação como um retrato da consolidação do Complexo do Alemão como centro de comando do tráfico no país, destacando que o local se transformou em um refúgio para criminosos de várias regiões do Brasil.

Vídeos e relatos de moradores mostram a fuga de traficantes durante o cerco policial, enquanto a cidade tenta retomar a normalidade após a ação que se tornou a mais letal da história do Rio de Janeiro.