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Guerra
22/10/2025 16:00:00

Hamas liberta últimos 20 reféns israelenses vivos após acordo mediado pelos EUA

Hamas liberta últimos 20 reféns israelenses vivos após acordo mediado pelos EUA

O Hamas libertou nesta segunda-feira os 20 últimos reféns israelenses ainda vivos mantidos na Faixa de Gaza, em cumprimento ao acordo firmado na semana anterior com mediação dos Estados Unidos. A libertação marca o início de uma trégua que busca encerrar dois anos de guerra entre Israel e o grupo palestino.

Os reféns foram entregues ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha em duas etapas. Os primeiros sete chegaram a Israel por volta das 8h45, horário local, e os 13 restantes foram liberados cerca de duas horas depois. O Exército israelense confirmou que todos já estavam em território israelense. Até o momento, não há informações oficiais sobre o estado de saúde deles após o longo período de cativeiro.

No mesmo dia, Israel começou a soltar prisioneiros palestinos, o que provocou comemorações em cidades como Ramallah, na Cisjordânia, e Khan Younis, em Gaza, onde multidões receberam os libertos com festas.

A primeira libertação de reféns coincidiu com a chegada do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a Israel. Ele desembarcou em Tel Aviv para celebrar o acordo de cessar-fogo mediado também por Egito, Catar e Turquia. Segundo Trump, o pacto deve encerrar o conflito iniciado em outubro de 2023. O presidente americano foi recebido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e fará um discurso no Parlamento israelense antes de seguir para o Egito, onde participará de uma cerimônia com diversos líderes internacionais.

Entre os presentes estão o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, o presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Friedrich Merz, o emir do Catar Tamim bin Hamad al Thani e o primeiro-ministro canadense Mark Carney. O Egito ressaltou a importância da cúpula, que busca consolidar o fim da guerra e fortalecer os laços entre Israel e países árabes. Netanyahu, porém, não comparecerá à cerimônia, alegando compromissos de agenda.

O acordo previa que 48 reféns ainda estavam detidos em Gaza, todos homens, exceto uma mulher, sendo que apenas 20 deles estavam vivos. O Hamas também se comprometeu a entregar os corpos dos reféns mortos, embora ainda não haja confirmação sobre quando isso ocorrerá.

Como parte do entendimento, Israel deve libertar cerca de dois mil prisioneiros palestinos, incluindo ex-integrantes do Hamas condenados à prisão perpétua. O país também retirou tropas da maior parte das áreas povoadas de Gaza e prometeu ampliar o envio de ajuda humanitária ao território, devastado após dois anos de conflito.

Desde o início da guerra, em 2023, o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas afirma que mais de 67 mil palestinos foram mortos, enquanto o Exército israelense contabiliza a perda de 470 soldados. A guerra provocou instabilidade em toda a região, com confrontos envolvendo grupos apoiados pelo Irã no Líbano, Síria e Iêmen, além de tensões diretas entre Israel e Teerã.

O coordenador de prisioneiros de guerra israelenses, Gal Hirsch, afirmou que a Cruz Vermelha retornará a Gaza para buscar os corpos dos reféns mortos, mas evitou divulgar o número exato. O Hamas, classificado como organização terrorista pelos EUA e pela União Europeia, iniciou o conflito em 2023 com o disparo de cinco mil mísseis e a invasão de território israelense, que resultou na morte de 1.200 pessoas e no sequestro de 250.

A maioria dos reféns foi libertada em cessar-fogos anteriores, no fim de 2023 e início de 2025. Em agosto, um órgão apoiado pela ONU declarou que partes de Gaza enfrentavam fome extrema devido ao bloqueio israelense à entrada de mantimentos, o que levou a acusações de genocídio — negadas por Israel.

Apesar da trégua, o futuro de Gaza ainda é incerto. O Hamas não confirmou se pretende se desarmar nem se participará da administração do território. Pouco após a retirada das tropas israelenses, o grupo restabeleceu forças policiais em Gaza, demonstrando que ainda mantém influência local.

Pelo plano mediado pelos EUA, as tropas israelenses recuarão gradualmente para uma zona de segurança próxima à fronteira, onde permanecerão até que a área seja considerada livre de ameaças terroristas. A proposta americana prevê ainda a criação de um “Conselho da Paz”, presidido por Trump e com participação do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, responsável por supervisionar um comitê de palestinos encarregado da administração civil.

Durante o voo para Israel, Trump afirmou que ainda avaliará a aceitação de Blair na região, já que o ex-premiê é criticado no mundo árabe pelo apoio à invasão do Iraque em 2003. “Quero garantir que Tony será bem recebido por todos”, disse o presidente.

O genro de Trump, Jared Kushner, e o enviado especial Steve Witkoff atuaram diretamente nas negociações, realizadas em Sharm El-Sheikh, no Egito. Ambos foram homenageados em Tel Aviv por seu papel no acordo, em um evento em que o público aplaudiu Trump e vaiou Netanyahu.

Segundo Kushner, as conversas foram intensas e repletas de momentos de tensão. “Um dia contaremos essas histórias. Elas farão vocês rirem e chorarem”, disse ele, destacando o esforço diplomático que levou ao fim de um dos mais longos e sangrentos conflitos da história recente do Oriente Médio.