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Saúde
20/10/2025 18:00:00

Redução no Consumo de Álcool Pode Prevenir Centenas de Milhares de Casos de Câncer no Brasil até 2050

Nova análise aponta que diminuir uma dose diária de bebida alcoólica evitária cerca de 157 mil mortes por câncer ao longo de um quarto de século

Redução no Consumo de Álcool Pode Prevenir Centenas de Milhares de Casos de Câncer no Brasil até 2050

Se os residentes do Brasil reduzissem seu consumo diário de uma bebida alcoólica, equivalente a uma lata de cerveja de 330 ml (aproximadamente 12 gramas de álcool), uma quantidade próxima a 157,4 mil óbitos relacionados a diversos tipos de câncer poderiam ser evitados ao longo dos próximos 25 anos.

Segundo um relatório elaborado a partir de uma nova plataforma digital lançada recentemente pela Vital Strategies, organização global de saúde pública que atua com inteligência de dados e políticas baseadas em evidências, essa ferramenta serve de exemplo para outros países adotarem estratégias similares.

A plataforma integra dados sobre a relação entre o consumo de álcool e o risco de morte por várias formas de câncer, além de informações sobre os hábitos de consumo na população. Estima-se que, até 2050, das 11 a 14 milhões de mortes provocadas por câncer, mais de 415 mil poderão estar associadas ao uso de bebidas alcoólicas, incluindo tumores no esôfago, cólon e reto, boca, laringe, faringe, mama e fígado. De acordo com a médica Mary-Ann Etiebet, CEO e líder da Vital Strategies, doenças ligadas ao álcool podem ser evitadas por meio de políticas públicas eficazes, semelhantes às campanhas de combate ao tabagismo.

Ela destacou: "No Brasil, conseguimos diminuir em 74% o consumo de cigarros desde 1989 com diversas ações, reformas legais, regulamentações e campanhas educativas, o que também levou à redução da incidência de câncer de pulmão. Sabemos que essas políticas funcionam e como implementá-las." Natural da Nigéria e com cidadania norte-americana, a especialista iniciou sua trajetória em programas de HIV/AIDS em seu país natal e posteriormente liderou iniciativas no setor farmacêutico da Merck, focadas em cuidados maternos.

Ela aponta que países como Finlândia, Dinamarca, Lituânia e Sérvia adotam políticas de controle de álcool mais avançadas, que podem ser reforçadas por ações governamentais, educação e maior conscientização pública. No Brasil, metade da população adulta consome bebidas alcoólicas, e o tema está incluso na primeira fase da reforma tributária, que criou o imposto seletivo, aumentando as taxas sobre produtos prejudiciais à saúde, com o objetivo de desestimular o consumo. Ela também comentou que, diante do corte nos recursos destinados à saúde global, muitos países, especialmente na África, têm visto nas receitas geradas por taxas sobre álcool uma solução para fortalecer os serviços públicos.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que os países acelerem suas ações para reduzir o consumo de álcool em 20% até 2030. Além do câncer, outras 24 patologias estão ligadas ao uso de bebidas alcoólicas, como cirrose, doenças hepáticas, epilepsia, hipertensão, hemorragia cerebral e problemas cardíacos, além de acidentes de trânsito e violências. Para Mary-Ann, a plataforma tem como objetivo facilitar a compreensão dos dados de modo que eles tenham impacto na vida cotidiana, uma vez que muitas pessoas ainda não conectam o consumo de álcool ao risco de desenvolver câncer.

Ela explica: "Muitos perdem dias de trabalho por cuidar de familiares com câncer ou deixam de trabalhar por causa do álcool. Essas perdas afetam a produtividade, a renda e o crescimento econômico." No Brasil, o tratamento do câncer consumiu R$ 3,9 bilhões do Sistema Único de Saúde em 2022, valor que equivale a aproximadamente US$ 722 milhões, sem incluir gastos privados. Estima-se que esse custo aumente em 68% nos próximos 20 anos devido ao crescimento de quase um milhão de novos casos até 2040.

Dados indicam que metade das mortes por câncer podem estar relacionadas a fatores de risco modificáveis, como alimentação ultraprocessada, consumo de açúcar, tabagismo, poluição, sedentarismo e o uso do álcool.

Diante das declarações recentes da OMS, alertando para a influência de indústrias de tabaco, álcool e alimentos ultraprocessados na implementação de políticas de saúde, a médica enfatiza a necessidade de vigilância contínua nesses setores. Ela critica a interferência dessas indústrias, que trazem informações enganosas e desinformação, prejudicando regulações essenciais.

Além disso, ela afirma que uma estratégia adotada por essas empresas é convencer as pessoas de que as escolhas ruins relacionadas à saúde são responsabilidade exclusiva delas. "Se você é obeso, é porque não tem disciplina, mas, na realidade, viver em um ambiente sem opções saudáveis limita suas possibilidades de decisão", conclui.