20/10/2025 05:20:56

Mundo
19/10/2025 22:00:00

“No Kings”: protestos contra Donald Trump mobilizam milhões em todos os estados americanos

“No Kings”: protestos contra Donald Trump mobilizam milhões em todos os estados americanos

Enquanto o presidente Donald Trump participava de um desfile militar em Washington, D.C., ao som de 21 tiros e dos parabéns entoados pela plateia, cerca de 5 milhões de pessoas em todo os Estados Unidos foram às ruas para demonstrar oposição ao seu governo. Os atos, que ocorreram em meio à paralisação do governo federal e à tentativa de Trump de acionar a Guarda Nacional em cidades do país, marcam a segunda rodada da mobilização “No Kings” (“Sem Reis”), que denuncia o que os organizadores descrevem como uma postura autoritária do presidente.

Mais de 2.500 protestos foram realizados neste sábado em todos os 50 estados americanos — cerca de 450 a mais do que os ocorridos em junho. A iniciativa é liderada pela organização progressista Indivisible Project, que afirma lutar contra o autoritarismo e em defesa das liberdades civis.

Alguns republicanos criticaram duramente as manifestações. O presidente da Câmara, Mike Johnson, chegou a afirmar, sem apresentar provas, que os protestos contribuíram para o impasse que mantém o governo paralisado. Já o senador Roger Marshall disse esperar que as forças de segurança fossem acionadas para conter possíveis tumultos, afirmando duvidar que os atos se manteriam pacíficos.

Desde o início do segundo mandato de Trump, a Casa Branca tem adotado medidas polêmicas, como ordens executivas que restringem direitos de cidadania por nascimento, reduzem proteções a pessoas transgênero e limitam programas federais de diversidade e inclusão. A tensão aumentou quando o presidente federalizou a Guarda Nacional da Califórnia, contrariando o governador Gavin Newsom, em meio a batidas de imigração em Los Angeles — ação classificada por especialistas como um avanço perigoso do poder presidencial.

Os protestos “No Kings” também reagem à ampliação da presença militar em cidades governadas por democratas, como Chicago, Memphis, Portland e Washington. Autoridades locais têm recorrido à Justiça para barrar o envio de tropas. Apesar de declarações de líderes republicanos descrevendo os atos como “antiamericanos”, as manifestações foram majoritariamente pacíficas, seguindo o apelo dos organizadores para evitar confrontos e expor o contraste com as ações de força do governo.

O governador do Texas, Greg Abbott, enviou tropas da Guarda Nacional para Austin antes de um protesto, alegando ligações com o movimento Antifa. A medida foi condenada por democratas, que acusaram o governo estadual de tentar reprimir manifestações legítimas. Gene Wu, líder da minoria democrata na Câmara texana, afirmou que “enviar soldados armados para conter protestos pacíficos é atitude de reis e ditadores”.

A Indivisible Project informou que treinou milhares de manifestantes em técnicas de desescalada e segurança, e que está em contato com autoridades locais para evitar confrontos. Deirdre Schifeling, da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), declarou que o movimento está preparado caso o governo tente usar a Guarda Nacional como forma de intimidação. “Esperamos que milhões se reúnam para se opor ao autoritarismo, à corrupção e aos ataques contra nossos direitos”, afirmou Leah Greenberg, diretora-executiva do Indivisible.

Especialistas alertam que Trump pode usar os protestos como justificativa para novas intervenções militares. Segundo Elizabeth Goitein, do Centro Brennan, o mesmo memorando que autorizou o envio de tropas a Los Angeles permite ações semelhantes em outras cidades, mesmo que as manifestações sejam pacíficas — o que, segundo ela, representa “um ataque direto às liberdades da Primeira Emenda”.

Com o impasse do governo federal afetando serviços públicos e salários, membros do Partido Republicano afirmam que os protestos agravam a crise. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, ironizou a mobilização ao dizer que “sem reis significa sem salários”. Greenberg rebateu as críticas, afirmando que o movimento foi planejado antes da paralisação e representa “um valor profundamente americano”.

Fundado por Leah Greenberg e Ezra Levin em 2016, após a primeira eleição de Trump, o Indivisible cresceu e hoje reúne milhares de grupos locais. A rede inclui organizações sem fins lucrativos e um comitê político voltado à eleição de candidatos progressistas.

Recentemente, o grupo foi alvo de ataques de Trump e de aliados, que acusaram o bilionário George Soros de financiar protestos violentos. A Open Society Foundations, de Soros, é de fato uma das financiadoras do Indivisible, que arrecadou quase US$ 8 milhões em 2023. Greenberg afirmou que a pressão do governo apenas reforça a necessidade de resistência. “Sabemos que há esforços para destruir a oposição organizada e perseguir quem se opõe a Trump. Mas só há um caminho: continuar exercendo nossos direitos constitucionais”, concluiu.