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Acidente
19/10/2025 20:00:00

Crise de combustíveis na Rússia agravada por ataques de drones ucranianos e possíveis negociações secretas

Falta de gasolina e fechamento de postos se intensificam enquanto o Kremlin busca alternativas discretas com Kiev

Crise de combustíveis na Rússia agravada por ataques de drones ucranianos e possíveis negociações secretas

A escassez de combustível na Federação Russa se aprofunda em meio a uma série de ataques de drones provenientes da Ucrânia, causando o fechamento de refinarias e uma redução significativa na produção de derivados do petróleo.

Essas ações têm impulsionado uma escalada nos preços, tanto na bolsa de valores quanto nos postos de abastecimento, embora o governo ainda mantenha os valores artificialmente baixos. O controle de preços, reminiscentemente da era soviética, está contribuindo para o agravamento da escassez.

De acordo com informações obtidas por fontes abertas e analisadas pela DW, múltiplas instalações de refino de petróleo russas foram alvo de ataques recentes. Refinarias como Afipsky, Ilsky e Slavyansk, no Território de Krasnodar, além de unidades em Volgogrado, Novokuybyshevsk, Novoshakhtinsk, Ryazan, Samara, Saratov, Syzran e Ukhta, sofreram ataques de drones ucranianos ao longo dos últimos meses.

Quase metade de todas as refinarias do país foi atingida pelo menos uma vez, embora as autoridades russas mantenham sigilo oficial sobre o impacto na produção. Especialistas externos estimam que até 20% da capacidade de refinamento pode ter sido temporariamente comprometida, com relatos de uma escassez de aproximadamente 400 mil toneladas de gasolina em setembro, em um volume total de 2 milhões de toneladas.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, confirmou que a escassez atingiu 20%, reforçando a gravidade da situação. A crise teve início ainda no meio do ano, antes mesmo dos efeitos visíveis na produção. Uma combinação de aumento sazonal da demanda, manutenções programadas e reparos não planejados nas refinarias, além de uma elevação expressiva nas exportações de petróleo por parte das companhias russas, contribuíram para o cenário de escassez.

Como resposta, o governo russo proibiu temporariamente as exportações, tentando conter a alta de preços. Entretanto, especialistas alertaram que qualquer nova interrupção, especialmente ataques coordenados de drones, poderia rapidamente reverter essa estabilização. Outro fator importante foi a mudança na estratégia das forças armadas ucranianas, que passaram a atacar repetidamente as mesmas instalações, dificultando a retomada das operações. Usinas de grande porte, como a de Ryazan, sofreram pelo menos seis ataques, enquanto refinarias em Volgogrado e Syzran foram atingidas quatro vezes cada. Sergei Vakulenko, do Centro Carnegie Rússia-Eurásia, explica que anteriormente, por volta de 2024, uma refinaria era atacada apenas uma vez, facilitando reparos rápidos.

Para tentar manter os preços sob controle, as empresas russas são obrigadas a vender pelo menos 15% de sua gasolina na bolsa de valores, onde os preços dispararam mais de 40% desde o início do ano. O governo sustenta o mercado interno com pagamentos de compensação às petrolíferas, que vendem a gasolina a valores regulados e recebem indemnizações por perdas. Apesar disso, o aumento dos preços ao consumidor final atingiu 8,36% até 24 de setembro, segundo dados da Rosstat, embora a inflação geral seja moderada.

Postos independentes de combustíveis, que não compram diretamente das petrolíferas, vêm enfrentando dificuldades financeiras e fechamento. Entre 28 de julho e 22 de setembro, cerca de 360 estabelecimentos encerraram suas atividades, sobretudo em regiões como Rostov, Mari El, a Região Autônoma Judaica, além da Crimeia, onde metade dos postos já fechou.

No Extremo Oriente russo, a situação é especialmente delicada, com o abastecimento de gasolina bastante limitado. Moscou adotou medidas para mitigar a escassez, incluindo a prorrogação do embargo às exportações de petróleo até o final de 2025 e o aumento da importação de gasolina de Belarus, embora essa alternativa não tenha sido suficiente para aliviar o problema.

Segundo o jornal Kommersant, o vice-primeiro-ministro Aleksandr Novak sugeriu a remoção de tarifas sobre importações da China, Coreia do Sul e Singapura, além de permitir o uso de um aditivo, a monometilanilina, que possibilitaria a produção de gasolina a partir de matérias-primas de baixa qualidade, uma prática proibida na Rússia desde 2016.

Contudo, a eficácia dessas medidas permanece incerta, especialmente diante da continuidade dos ataques de drones. Sergei Vakulenko afirma que muitas refinarias atualmente estão completamente paralisadas.

A longo prazo, o Kremlin pode vir a considerar um acordo tácito com Kiev, permitindo ataques mútuos às instalações energéticas, numa tentativa de estabilizar o abastecimento e evitar um colapso mais amplo do setor petrolífero.