De acordo com o Allianz Global Wealth Report 2025, o Chile se destaca como o país com o maior patrimônio líquido financeiro por habitante na América Latina, atingindo uma média de €18.730 em ativos líquidos em 2024.
Essa marca coloca o país na 34ª posição global, ultrapassando México, com €9.100 (US$ 10.562), e Brasil, com €8.070 (US$ 9.367), que são as duas maiores economias do continente. Segundo especialistas, o sucesso do Chile está atrelado à combinação de instituições sólidas, um mercado de capitais bem desenvolvido e uma cultura arraigada de poupança e gestão de bens, que favorece a acumulação contínua de ativos financeiros, explicou Gabriela Clivio, economista e sócia da consultoria financeira Vios Consulting, em entrevista.
Linea. O relatório analisa os ativos financeiros totais das famílias, incluindo dinheiro em espécie, depósitos bancários, apólices de seguro, fundos de aposentadoria, títulos de valores mobiliários (como ações e fundos mútuos) e outros recebíveis, além de dívidas contraídas pelas famílias. A pesquisa abrange 57 países, representando 91% do PIB global e 72% da população mundial. Outro fator que contribui para a posição de destaque do Chile é o seu mercado de capitais, considerado um dos mais sofisticados da região.
A presença de gestores de ativos especializados e uma variedade de produtos financeiros facilitam o planejamento financeiro de longo prazo, reforçou Clivio. Além disso, o sistema de aposentadorias baseado na contribuição individual obrigatória (AFP) estimulou a poupança doméstica, facilitando a ampliação dos ativos financeiros familiares. A cultura de investimentos, apoiada pela atuação de consultores financeiros e pela inovação em produtos, amplia o acesso a fundos diversificados e alternativas de investimento, o que também impulsiona esse crescimento.
Empresários locais, como Fernando Larios, CEO da Fruselva, destacam que o avanço do Chile não se resume ao seu tamanho econômico, mas à estabilidade institucional, continuidade política e uma política monetária confiável que preserva o valor dos ativos, alimentando a confiança de investidores e famílias em suas aplicações a longo prazo.
Larios ainda aponta que o progresso tecnológico no setor de investimentos potencializa a economia ao financiar indústrias de processamento e serviços, promovendo maior diversificação e sustentabilidade econômica. A liderança financeira do Chile pode ser atribuída a quatro pilares principais, segundo Alejandro Carboni, sócio do fundo de investimentos Impacta VC.
O primeiro é a poupança compulsória para aposentadoria, que, ao longo de quatro décadas, criou um fluxo de cerca de CLP$ 210 trilhões e fortaleceu a participação de investidores institucionais, como as AFPs, aprofundando o mercado financeiro.
Em segundo lugar, a estabilidade macroeconômica do país é garantida por um banco central autônomo, metas de inflação bem definidas e disciplina fiscal, fatores que sustentam as expectativas econômicas positivas. O terceiro elemento é um mercado de capitais robusto e bem regulado, com forte governança corporativa e demanda local por instr
umentos de longo prazo, facilitando o planejamento financeiro e a diversificação de carteiras. Por fim, a composição dos investimentos, com maior concentração em ações e fundos, possibilitou ao Chile tirar proveito da recuperação global de 2023-2024. A reforma previdenciária de 2025, que prevê o aumento gradual na contribuição patronal, deve fortalecer ainda mais essa base. Impacta VC também destaca que cada vez mais famílias e indivíduos de alta renda estão incluindo ativos alternativos em suas carteiras, atraídos por seus retornos e impacto social.
Segundo Carboni, com regras bem estruturadas e governança eficiente, o mercado de risco local pode canalizar recursos para inovações úteis, gerar elevados múltiplos de retorno e ampliar a base de beneficiários do crescimento.
Apesar do avanço, Gabriela Clivio alerta que a alta concentração de riqueza financeira no país apresenta desafios. Para o setor de private banking, isso pode significar um mercado restrito, voltado majoritariamente para um grupo limitado de famílias, dificultando a segmentação e competição.
Para ampliar o acesso, ela recomenda o desenvolvimento de produtos de baixos custos, melhorias nos canais digitais e uma maior educação financeira voltada a novos públicos.
Além disso, sugere que bancos privados diversifiquem seus serviços, oferecendo consultoria patrimonial a empreendedores, mulheres e jovens, além de estabelecer parcerias público-privadas para promover inclusão financeira e patrimonial.
Por fim, Clivio defende a adoção de práticas sustentáveis na gestão de patrimônios, associando crescimento econômico a critérios ambientais e sociais, além de facilitar o acesso a mercados de capitais por meio de soluções acessíveis e flexíveis, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da economia chilena.