O Banco Central, comandado por Gabriel Galípolo desde janeiro, tem adotado uma postura mais cautelosa do que o Ministério da Fazenda e até mesmo o mercado financeiro em suas projeções econômicas. No Relatório de Política Monetária (RPM), divulgado ontem, a instituição reduziu a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2025 de 2,1% para 2%. Já a Fazenda projeta avanço de 2,3% e o mercado, segundo o boletim Focus, espera 2,16%.
Para 2026, o BC estimou pela primeira vez o crescimento econômico, prevendo alta de 1,5%. As previsões da Fazenda, de 2,4%, e a mediana do mercado, de 1,8%, são mais otimistas. No caso da inflação, a autarquia continua projetando índices acima do centro da meta, de 3%, até o primeiro trimestre de 2028.
Mesmo com projeções mais baixas para a atividade econômica, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que seguirá com uma postura rígida no combate à inflação, mantendo a taxa Selic em 15% ao ano por um período prolongado.
Segundo o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, a manutenção dos juros elevados está ligada ao mercado de trabalho, que surpreendeu com desemprego de 5,7% em julho, o menor da série histórica. Ele também citou a incerteza causada pela alta de tarifas de importação nos Estados Unidos e sinais de desaceleração da economia no terceiro trimestre.
Durante a apresentação do relatório, Galípolo afirmou estar convicto da estratégia do BC, apesar das críticas de membros do governo, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para o presidente da instituição, as manifestações de Haddad foram respeitosas, “um luxo”, e fazem parte da divergência legítima entre BC e Fazenda.
O dirigente reforçou que a política monetária seguirá “dependente de dados” e que, apesar do desemprego baixo, a combinação de inflação fora da meta e renda em risco seria pior para o trabalhador do que os juros altos.
Para o economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o relatório reiterou a posição do Copom de cautela diante de riscos elevados no cenário macroeconômico. Segundo ele, uma retomada mais firme da atividade poderia pressionar ainda mais a inflação, confirmando a postura conservadora do Banco Central.