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Acidente
28/09/2025 11:00:00

Banco Central mantém postura cautelosa diante das projeções econômicas

Autoridade monetária apresenta previsões mais conservadoras em comparação ao mercado e ao governo, enquanto discute política de juros e cenário de crescimento

Banco Central mantém postura cautelosa diante das projeções econômicas

Desde janeiro, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, adota uma abordagem mais prudente na condução econômica. Sua equipe demonstra uma postura mais conservadora nas previsões macroeconômicas, divergindo das expectativas do Ministério da Fazenda e até mesmo do mercado financeiro.

No Relatório de Política Monetária (RPM) divulgado ontem, o BC revisou para baixo a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,1% para 2% neste ano. Contrariamente, as projeções mais otimistas do governo e do mercado, coletadas pelo boletim Focus, indicam crescimento de 2,4% e 2,16%, respectivamente.

Para o ano de 2026, o documento do BC aponta um avanço de 1,5% no PIB, sendo a primeira vez que a autoridade apresenta uma previsão para o próximo ano. As perspectivas do governo e do mercado para 2026 continuam mais elevadas, com 2,4% e mediana de 1,8%.

Quanto à inflação, o BC mantém a previsão de que ela permanecerá acima da meta de 3% até o início de 2028. Apesar dessas estimativas mais pessimistas relativas ao crescimento econômico, a equipe de Galípolo reforçou, na semana passada, que continuará adotando uma postura de firmeza (hawkish) no combate à inflação, mantendo a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano por um período prolongado.

Essa decisão foi reafirmada na ata do Comitê de Política Monetária (Copom). Um dos fatores que sustentam a manutenção dos juros e das projeções do BC é a surpresa positiva no mercado de trabalho.

Segundo o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, a taxa de desemprego, de 5,7% em julho, atingiu seu menor valor histórico, demonstrando resistência e aquecimento do mercado. Guillen também destacou que a ligeira redução na previsão de crescimento do PIB para 2023 decorre de efeitos ainda incertos do aumento das tarifas de importação pelos Estados Unidos e de sinais de desaceleração na atividade econômica no terceiro trimestre.

Durante a apresentação do RPM, Galípolo afirmou que continua convicto da decisão do colegiado de manter a política atual, apesar de críticas ao nível de juros, incluindo comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considerados por ele como educados, mas considerados um “luxo”.

O presidente do BC ressaltou que a instituição permanece dependente de novos dados para ajustar sua política monetária, observando se a taxa de juros está adequada para alcançar a convergência da inflação à meta.

Ele reforçou que o mercado de trabalho permanece resiliente há quatro anos e que a baixa taxa de desemprego, mesmo com a inflação acima do desejado, reforça a convicção de que a estratégia adotada é a correta.

Galípolo também argumentou que é legítimo haver divergências entre o BC e o Ministério da Fazenda em relação às ações de política monetária, valorizando as críticas feitas com “delicadeza” pelos colegas, como Haddad e o secretário do Tesouro, Rogério Ceron.

Na análise do economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o RPM reiterou a avaliação do cenário macroeconômico presente na ata da última reunião do Copom, indicando riscos tanto de alta quanto de baixa, que permanecem mais elevados do que o usual.

Ramos observa que a previsão de inflação mais hawkish do BC está relacionada a uma perspectiva de crescimento menos agressiva, sugerindo que uma recuperação mais robusta da economia poderia elevar ainda mais as projeções inflacionárias.