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Acidente
29/09/2025 04:00:00

Crises econômicas podem pressionar Putin a negociar um fim na guerra na Ucrânia

A deterioração financeira da Rússia impulsiona propostas de cessar fogo, enquanto sanções internacionais e queda na arrecadação de petróleo agravam a situação

Crises econômicas podem pressionar Putin a negociar um fim na guerra na Ucrânia

O envolvimento militar da Rússia na Ucrânia tem gerado um impacto econômico significativo, especialmente devido ao aumento dos gastos militares e à redução das receitas provenientes do petróleo.

Analistas indicam que esses fatores elevam as chances de Vladimir Putin aceitar um acordo de paz. Com um déficit orçamentário que atingiu aproximadamente 4,2 trilhões de rublos (equivalente a R$ 270 bilhões), representando quase 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), o governo russo enfrenta uma crise financeira que supera quase quatro vezes a meta inicial de 0,5% para 2025.

Até o final do ano, a estimativa é de que esse déficit atinja 5,7 trilhões de rublos.

Especialistas, como Elina Ribakova, da Escola de Economia de Kiev, afirmam que Moscou mantém um padrão de priorizar gastos com defesa, enquanto promove cortes severos em áreas como saúde, educação, proteção ambiental e programas sociais.

"Desde 2014, observamos uma política semelhante, onde o aumento dos investimentos militares resulta em cortes em outros setores", explica ela em entrevista à DW. O incremento nos gastos militares, que mais do que quadruplicaram desde 2021, atingiu cerca de 16 trilhões de rublos (R$ 1 trilhão) entre janeiro e junho de 2025. Para Chris Weafer, consultor financeiro na Rússia, esses cortes já estavam previstos desde dezembro passado, com uma estratégia de desaceleração controlada dos gastos públicos em setores considerados não essenciais, incluindo algumas áreas sociais.

A economia russa permanece sob alerta vermelho há algum tempo, o que chamou a atenção do ex-presidente Donald Trump durante suas tentativas de influenciar o conflito. Em 24 de setembro, Trump afirmou nas redes sociais que a crise econômica na Rússia, agravada pela invasão e pelo conflito, poderia servir de momento para que a Ucrânia intensificasse suas ações.

Um fator agravante são os ataques ucranianos às infraestruturas energéticas russas, como refinarias e terminais de exportação, que ocasionaram escassez de combustíveis, aumento de preços e filas longas. A principal fonte de riqueza do país, o petróleo, tem sofrido uma redução contínua nas receitas devido à queda no preço do barril, ao fortalecimento do rublo, aos ataques às refinarias e às sanções internacionais. Estimativas indicam que as receitas com petróleo e gás devem cair cerca de 23% em relação ao mesmo período do ano anterior, refletindo um cenário econômico desafiador. A previsão oficial é de crescimento modesto de 1% do PIB para 2023, bem abaixo dos 2,5% inicialmente previstos, após uma inflação que, no ano passado, indicava superaquecimento econômico causado por gastos elevados na defesa.

Desde o início de 2022, os gastos militares aumentaram mais de quatro vezes, totalizando aproximadamente 16 trilhões de rublos (R$ 1 trilhão) até junho de 2025. Chris Weafer explica que o governo russo tenta controlar esse crescimento com aumento de juros, mas alerta que esse esforço é insustentável, e que uma redução significativa nos próximos anos é essencial para evitar que a narrativa de estabilidade econômica se quebre.

Weafer também aponta que a crescente pressão interna por estabilidade financeira poderia forçar Putin a buscar um acordo de paz em breve. Segundo ele, a situação financeira mais frágil da Rússia e o aumento da necessidade de manter a estabilidade tornam essa possibilidade mais concreta.

Por sua vez, Elina Ribakova, diplomada em economia, acredita que, apesar da consciência dos custos, as autoridades russas decidiram aceitar esse ônus político e econômico. Ela ressalta que sanções internacionais mais severas, como o boicote ao petróleo russo, poderiam agravar ainda mais a crise, embora regimes altamente sancionados, como Venezuela, Coreia do Norte e Irã, tenham permanecido no poder apesar do colapso econômico.

A especialista reforça que sanções podem aliviar alguns problemas, mas não resolver todos, e que o aumento de sanções secundárias às nações que compram petróleo russo, como Índia e China, seria um passo mais agressivo para pressionar Moscou. Chris Weafer complementa dizendo que uma queda de 20 a 30% nas receitas de exportação de petróleo poderia forçar mudanças internas rápidas, acelerando o fim do conflito.

A conjuntura econômica da Rússia apresenta um cenário de dificuldades crescentes, com sinais claros de que o governo pode ser compelido a ceder às pressões internas e externas, buscando um desfecho para a guerra na Ucrânia antes que a crise se agrave ainda mais.