Na manhã de ontem, aproximadamente 2 mil trabalhadores rurais sem-terra participaram de uma manifestação em União dos Palmares, na Zona da Mata de Alagoas, reivindicando a regularização das terras da antiga Usina Laginha, atualmente em massa falida do Grupo JL.
Os acampados, que permanecem na área há cerca de 14 anos, representam oito movimentos de luta pela terra, todos pedindo o reconhecimento oficial das mais de 500 famílias que vivem na ocupação e cultivam alimentos na região.
Durante a mobilização, os manifestantes percorreram cinco quilômetros, realizando atividades de plantio em uma área de dez hectares. Marcos Antônio Marrom, coordenador da Frente Nacional de Lutas (FNL), explicou que plantaram milho, feijão, mandioca e batata-doce, além de destacar que a ocupação também protegeu o patrimônio industrial da área, que estava completamente abandonada desde o fechamento das usinas.
A manifestação foi organizada de maneira conjunta por vários movimentos sociais, incluindo FNL, CPT, MST, MLST, MTL, MPL, TL e MVT. Além disso, contou com a presença e suporte de dirigentes de sindicatos, movimentos de mulheres e do PT, além de membros da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Quanto à postura do Governo Estadual, Marrom revelou que ainda aguardam uma resposta oficial. Representantes do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) participaram da manifestação para intermediar negociações, embora sem autonomia para decidir sobre a pauta.
O coordenador também informou que uma reunião com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foi agendada para a manhã da próxima segunda-feira, na esperança de avançar nas negociações. Entretanto, ele descreve um cenário de alta tensão e ameaças, incluindo a presença de uma grande quantidade de policiamento — cerca de cinco viaturas acompanharam o trajeto.
Marrom destacou ainda que continuam sob ameaça de despejo, e a reunião de segunda-feira visa pressionar o Incra a solucionar a situação. Segundo ele, as ameaças vindas da família João Lyra persistem, e há risco de confrontos na Laginha e também na Guaxuma, em Alagoas, devido ao clima de tensão e às ações de repressão.
Débora Nunes, coordenadora nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), reforçou que o objetivo principal é garantir acesso à terra para quem nela vive e produz, defendendo a soberania alimentar, a reforma agrária popular e a justiça social. Ela afirmou que não aceitarão que o lucro de poucos destrua o esforço de diversas famílias que transformam a terra em fonte de sustento.
Ela também garantiu que o movimento continuará mobilizado, denunciando as injustiças e cobrando do governo estadual e federal o cumprimento de suas responsabilidades, assegurando terra a quem trabalha e habita as áreas reivindicadas.
Os sem-terra ocupam a área há mais de uma década, e apesar de negociações anteriores, a regularização agrária ainda não foi concretizada. Marrom lembrou que, ao chegarem às terras em 2011, elas estavam completamente improdutivas, abandonadas e sem qualquer atividade econômica, com as usinas locais falidas e restos de cana-de-açúcar antiga.
Segundo ele, a ocupação resultou na produção de alimentos como milho, feijão, batata, inhame, macaxeira, coco e outros, além de ter contribuído para a proteção do patrimônio industrial da região, impedindo sua destruição.