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23/09/2025 22:00:00

Profecia do Apocalipse digital: o arrebatamento previsto para setembro e seu impacto global

Líderes religiosos e redes sociais estimulam crenças sobre o fim do mundo, alinhando-se com datas simbólicas e interpretações bíblicas

Profecia do Apocalipse digital: o arrebatamento previsto para setembro e seu impacto global

Uma previsão apocalíptica feita por um pastor sul-africano ganhou popularidade nas plataformas digitais há três meses, ao anunciar que o fim do planeta aconteceria na transição de 23 para 24 de setembro.

Com uma tonalidade serena e serenidade no rosto, Joshua Mhlakela, líder de uma igreja cristã, revelou em uma conversa de quase uma hora no YouTube, transmitida pela Centtwinz TV, que visualizou Jesus sentado em um trono e ouviu a mensagem: "Estou chegando em breve".

Neste vídeo, Mhlakela relata que sua profecia baseia-se na narrativa do "arrebatamento", um conceito comum entre evangélicos, que tem dominado discussões nas redes sociais, especialmente no TikTok e no Twitter (agora chamado X). A maior repercussão ocorre nos Estados Unidos, mas também se observa intensamente em países africanistas e na Índia. A data atribuída coincide com o Rosh Hashanah, celebração judaica do Ano Novo, uma coincidência que não é por acaso.

Essa festividade tradicionalmente envolve o toque do shofar, uma trombeta de chifre, que marca o início de um novo ciclo, e, para alguns cristãos, simboliza o anúncio do retorno triunfante de Jesus Cristo, conforme mencionado no Novo Testamento.

A interpretação de muitos fiéis aponta que as trombetas do Rosh Hashanah representam o mesmo sinal bíblico do apocalipse, indicando a vinda de Jesus em glória. Essa conexão reforça a expectativa de que o evento, que muitos aguardam, seja iminente e marcado por sinais celestiais.

O episódio remete às primeiras cartas do apóstolo Paulo, escritas entre 5 e 67 d.C., às comunidades cristãs de Tessalônica, na antiga Macedônia, no Império Romano. Nelas, há menções claras à descida do Senhor do céu, com alarido, voz de arcanjo e trombeta de Deus, em que os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida, os fiéis vivos seriam arrebatados para encontrar Jesus nas nuvens, permanecendo eternamente ao seu lado.

Para os crentes, a previsão traz um sentimento de esperança e consolo, pois a união com os entes queridos que já partiram na fé é vista como uma preparação para o encontro com Deus. Essa crença é reforçada por uma proliferação de vídeos e mensagens nas redes sociais, onde pessoas expressam ansiedade, arrependimento ou vendem seus bens, acreditando que o mundo está à beira de sua destruição.

O fenômeno não é novo. Históricos pastores e televangelistas ao longo do século XX já haviam predito datas específicas para o fim do mundo. Harold Camping, por exemplo, calculou o fim do mundo para 2011, após estudos baseados em interpretações bíblicas, enquanto Jack Van Impe chegou a sugerir que Jesus voltaria entre 2001 e 2012, associando também a figura do papa Francisco (1936-2025) ao fim dos tempos. Especialistas em sociologia da religião, como Francisco Borba Ribeiro Neto, analisam esse aumento de previsões como uma resposta à sociedade moderna, marcada por insegurança, desigualdades agravadas por crises ambientais, guerras e desastres naturais.

Segundo ele, o medo do futuro e a sensação de impotência diante do mundo criam um ambiente propício para a disseminação de teorias apocalípticas, muitas vezes reforçadas por grupos que buscam consolidação social através de mitos. Ribeiro Neto compara esse cenário ao passado, quando mitos sociais fortaleciam comunidades ao oferecer explicações para o mundo desconhecido. Hoje, esses mitos se transformaram em discursos escapistas e polarizados, limitados a bolhas sociais, que alimentam a ansiedade coletiva. O debate também envolve diferentes interpretações bíblicas. O apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos tessalonicenses, descreve a descida de Jesus, acompanhado de uma trombeta e do chamado dos mortos, seguido do arrebatamento dos fiéis vivos.

Contudo, teólogos atuais enfatizam a necessidade de contextualizar esses textos, entendendo-os como mensagens de esperança, mas também como alertas para uma leitura responsável, considerando o momento histórico em que foram escritos. Diversas vertentes interpretam o arrebatamento de maneiras distintas. Uma corrente defende que os fiéis serão levados ao céu antes do período de tribulação, uma fase de três anos e meio, enquanto outras acreditam que os cristãos passarão por toda a tribulação de sete anos.

Ainda existe uma terceira visão, que sustenta que os crentes enfrentariam todos os sofrimentos bíblicos e seriam resgatados somente na segunda vinda de Jesus. Especialistas como Gerson Leite de Moraes destacam que esse tema é altamente controverso e que, até o momento, não há consenso entre os estudiosos. O próprio Moraes explica que a leitura do texto do apóstolo Paulo deve ser considerada à luz de seu contexto histórico, onde ele buscava encorajar os fiéis a manterem suas vidas normais enquanto aguardavam a volta de Cristo. No cenário atual, o medo do fim do mundo alimenta uma mistura de esperança, ansiedade e crenças apocalípticas, que encontram eco em discursos religiosos, vídeos nas redes sociais e na cultura popular.

Enquanto alguns interpretam esses sinais como o prenúncio de uma grande transformação, outros permanecem céticos, reforçando que, independentemente de previsões, o calendário divino é desconhecido para os humanos.