Uma investigação recente publicada na revista JAMA Oncology revela que práticas diárias de higiene oral podem aumentar até três vezes as possibilidades de desenvolver carcinoma pancreático.
O estudo destaca a presença de microrganismos, como bactérias e fungos, que se acumulam na cavidade bucal e elevam o risco de surgimento dessa doença grave. De acordo com especialistas, manter uma rotina de escovação e uso do fio dental não só ajuda na prevenção de enfermidades periodontais, mas também atua como uma medida de proteção contra o câncer de pâncreas.
No Brasil, essa enfermidade é responsável por quase 11 mil novos casos anuais. A pesquisa acompanhou mais de 122 mil indivíduos durante aproximadamente nove anos, identificando 24 espécies de microrganismos que podem aumentar ou diminuir o risco de câncer pancreático. Entre os microrganismos mais associados à elevação do perigo estão Porphyromonas gingivalis, Eubacterium nodatum, Parvimonas micra e o gênero Candida. Os especialistas ressaltam que, ao analisar o perfil das populações bacterianas e fúngicas na boca, oncologistas podem indicar os pacientes que necessitam de exames mais aprofundados.
Embora as descobertas não estabeleçam uma relação direta de causa e efeito, elas evidenciam uma correlação importante entre a presença desses microrganismos e a maior probabilidade de desenvolver a doença. Além dos fatores microbianos, o consumo de tabaco é um dos principais riscos. Pesquisa da Universidade de Michigan, divulgada na revista Cancer Discovery, demonstra que componentes químicas do cigarro podem se ligar às células, estimulando a produção da interleucina-22, uma proteína que favorece o crescimento agressivo de tumores no pâncreas. Timothy L. Frankel, um dos pesquisadores, destacou que esse processo alterou drasticamente o comportamento dos tumores, levando ao seu crescimento acelerado e disseminação.
No cenário brasileiro, o câncer de pâncreas representa cerca de 2% de todos os tipos de câncer e é responsável por 4% das mortes pela enfermidade. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), anualmente, surgem aproximadamente 11 mil novos diagnósticos no país. A dificuldade no diagnóstico precoce decorre da ausência de sintomas específicos nas fases iniciais, o que torna o tratamento mais complexo e reduz as chances de cura.
Além das práticas de higiene bucal e do combate ao tabagismo, outros fatores que aumentam o risco incluem obesidade, histórico familiar, diabetes tipo II e dietas deficientes em fibras, frutas e vegetais.