Um vídeo viral em canais pró-guerra russos mostrava um drone explodindo um tanque ucraniano em chamas, mas outra filmagem — desta vez de militares ucranianos — revela a verdade: tratava-se de uma isca.
No clipe, um soldado ri e aponta para os restos, dizendo que o tanque era de madeira. Esse falso veículo faz parte de um vasto arsenal de réplicas em tamanho real, usados tanto pela Ucrânia quanto pela Rússia para confundir o inimigo e fazê-lo desperdiçar munição, tempo e recursos. Desde pequenos radares e lançadores de granadas até jipes, caminhões e blindados, quase tudo na linha de frente pode ser simulado: peças desmontáveis, infláveis, bidimensionais ou dispositivos que imitam assinaturas de radar.
Em alguns tipos de armamento empregados na Ucrânia, pelo menos metade das unidades vistas em campo são cópias. Voluntários desempenham papel crucial na produção dessas iscas. Grupos como Na Chasi e Reaktyvna Poshta relatam ter fabricado e entregue dezenas de réplicas do obus M777 — artilharia fornecida por aliados ocidentais — que podem ser montadas em poucos minutos por duas pessoas sem ferramentas.
As versões em madeira compensada chegam desmontadas em embalagens planas e têm custo relativamente baixo, enquanto réplicas infláveis são leves e rápidas de instalar, embora mais vulneráveis. A eficácia das iscas depende muito do posicionamento: recriar uma posição real com marcas de pneu, caixas de munição e até banheiros aumenta a probabilidade de enganar inimigos e visitantes.
Em alguns casos, equipes removem rapidamente peças reais após o uso e as substituem por iscas para atrair fogo inimigo. O cálculo econômico também favorece as imitações: drones kamikaze caros são muitas vezes direcionados a alvos falsos, transformando um gasto elevado em perda para o atacante. A utilização de engodos não se limita a equipamentos: soldados também são simulados com bonecos e roupagens, e há até artifícios que emitem calor para ludibriar câmeras térmicas.
Do outro lado, a indústria de engodos inclui produtos que simulam assinaturas térmicas, tráfego de rádio ou refletores para confundir radares. O uso de artifícios em guerras não é novidade — durante a Segunda Guerra, por exemplo, formaram-se unidades falsas para enganar o inimigo antes de operações reais — mas a tecnologia disponível hoje ampliou e sofisticou essas técnicas.
Mesmo com o advento de drones e armas de alta precisão, truques tradicionais como iscas infláveis e réplicas 2D mantêm papel estratégico ao forçar o adversário a gastar recursos e a revelar padrões de ataque.