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22/09/2025 09:00:00

Fenômenos Marinhos: As Esferas de Posidonia que Capturam Detritos Plásticos

Descubra como as plantas aquáticas ajudam a remover resíduos do oceano e seu impacto ambiental

Fenômenos Marinhos: As Esferas de Posidonia que Capturam Detritos Plásticos

À medida que fragmentos de plástico de origem terrestre contaminam os oceanos, áreas de vegetação de algas marinhas atuam como filtros naturais, recolhendo micro-partículas e retornando-as às praias na forma de esferas densas conhecidas como 'bolas de Netuno'.

Essas estruturas, compostas por emaranhados de algas de formato arredondado, são predominantemente encontradas no Mar Mediterrâneo e estão há séculos sendo utilizadas na fabricação de embalagens, roupas de cama e isolamento residencial.

Recentemente, pesquisadores da Universidade de Barcelona, na Espanha, revelaram que essas formações vegetais estão desempenhando uma função ambiental adicional: capturar plásticos do fundo marinho espontaneamente.

O microplástico, que consiste em partículas menores que cinco milímetros originadas de sacolas, garrafas e redes de pesca, representa uma ameaça à saúde humana e à biodiversidade, afetando desde processos hormonais até funções cerebrais.

Embora a maior parcela da poluição plástica seja oriunda do continente, o oceano, incluindo os prados de algas, funciona como uma via de descarte, devido à movimentação constante das águas.

Segundo Anna Sánchez-Vidal, principal autora do estudo, as folhas de Posidonia desaceleram o fluxo hídrico, promovendo a captura de carbono, sedimentos e, também, de partículas plásticas.

A equipe analisou bolas de algas dispersas em praias da ilha de Mallorca durante 2018 e 2019, e constatou que, embora apenas 17% das amostras continham plástico, essas apresentavam uma concentração significativa, com até 1,5 mil fragmentos por quilo de material vegetal.

Além disso, objetos como absorventes e toalhas úmidas, que tendem a afundar, foram encontrados presos às fibras das bolas, ilustrando sua capacidade de reter resíduos.

Durante tempestades e movimentos das marés, as bolas podem ser deslocadas do leito oceânico, sendo levadas às praias ou mergulhadas em águas mais profundas, funcionando como uma espécie de retorno do lixo ao ambiente costeiro, embora os cientistas ressaltem que essa não é uma solução definitiva para o problema do plástico.

Sánchez-Vidal recomenda que essas estruturas sejam deixadas onde estão, pois ajudam a manter a umidade e nutrientes na praia, sustentando um ecossistema emergente vital para a biodiversidade.

Com o declínio das algas marinhas globalmente, que já encolheu em 29% desde o século XIX devido às mudanças climáticas, poluição e invasão de espécies, iniciativas locais no Mediterrâneo tentam conservar e restaurar esses ambientes essenciais, como projetos na Espanha, Itália e Malta.

As áreas de cultivo de Posidonia desempenham papel fundamental na melhoria da qualidade da água, na captura de carbono e na proteção costeira, além de servirem de habitat para diversas espécies marinhas. Contudo, Sánchez-Vidal alerta que plantar novas áreas de algas não resolve o problema principal: reduzir a produção de plástico na origem, evitando que esse material chegue aos oceanos.