De acordo com uma pesquisa realizada pela Abrace, entidade que representa grandes consumidores de energia, o valor médio da tarifa de eletricidade paga pelos brasileiros deve crescer aproximadamente 6,3% até o encerramento de 2025. Essa elevação supera a inflação estimada pelo mercado, que é de 4,85%. Para o ano de 2023, a soma total de despesas com o setor elétrico chega a R$ 103,6 bilhões, incluindo custos decorrentes de ineficiências do sistema, tributações e subsídios governamentais.
Mais da metade do que é cobrado na fatura não corresponde ao consumo de energia propriamente dito, mas a outros fatores que elevam o valor final. Essa composição, aliada à baixa qualidade do serviço em algumas regiões, alimenta a insatisfação dos consumidores. Jean Ricardo Cornetto, residente na zona sul de São Paulo, relata frequentes quedas de energia em sua residência. Mesmo pagando cerca de R$ 250 mensalmente, acredita que o gasto real com consumo não chega a 50% do valor cobrado na conta.
Além disso, o impacto indireto da energia afeta o preço de alimentos e serviços essenciais. Segundo a Abrace, aproximadamente 70% do consumo energético de uma família está embutido em produtos e serviços. Por exemplo, mais da metade do valor da tarifa de água e esgoto (53,5%) está relacionada ao custo de eletricidade, assim como 53,1% do preço do gás em botijão. No setor alimentício, custos de energia representam 31,6% do preço do cimento, 29,8% do pão francês, 28,3% do leite e derivados, e 27,2% da carne.
Victor Iocca, que ocupa o cargo de diretor de energia elétrica na Abrace, afirma que o modelo atual necessita de uma reforma estrutural profunda. “Metade de tudo que uma família consome em energia está refletida não só na conta de luz, mas também nos produtos e serviços que adquirimos. É fundamental uma mudança significativa neste sistema”, declarou.
O uso frequente de usinas termelétricas, que possuem custos mais altos, também impulsiona a elevação dos preços finais. A diminuição das chuvas reduz os níveis de armazenamento das hidrelétricas, obrigando o acionamento dessas usinas alternativas, o que eleva ainda mais os custos do setor.
A Abrace defende uma revisão no sistema de cobrança e uma maior eficiência na gestão do setor elétrico para amenizar o impacto financeiro na economia nacional. Enquanto essas mudanças não acontecem, tanto os consumidores residenciais quanto as empresas continuam arcar com altos custos, não apenas pela energia consumida, mas também pelos encargos adicionais que compõem a estrutura tarifária.