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Acidente
19/09/2025 14:00:00

Massa de manifestantes invade as ruas francesas protestando contra ajustes econômicos

Protestos massivos exigem reconsideração de medidas fiscais e sociais adotadas pelo novo governo

Massa de manifestantes invade as ruas francesas protestando contra ajustes econômicos

Na última quinta-feira, uma multidão de cidadãos saiu às vias públicas em diversas localidades da França, demonstrando descontentamento com as ações do recém-nomeado primeiro-ministro, Sébastien Lecornu.

As manifestações tiveram como foco principal a oposição às políticas de austeridade propostas para o orçamento de 2026, buscando pressionar o líder a reconsiderar tais medidas.

Durante o dia, sindicatos e movimentos sociais mobilizaram centenas de milhares de pessoas, que exigiram maior justiça social e fiscal. Estima-se que, em todo o território francês, a participação tenha superado um milhão, com as autoridades indicando um número superior a 500 mil manifestantes, sendo aproximadamente 55 mil somente em Paris, em comparação aos 200 mil registrados em 10 de setembro durante o protesto intitulado “Vamos bloquear tudo”.

Um grupo de manifestantes foi visto enfrentando a repressão policial em Paris, onde agentes dispararam bombas de gás lacrimogêneo e houve confrontos violentos. Em Marselha, imagens divulgadas nas redes sociais mostraram um policial dando um chute em uma mulher caída ao chão, acompanhada da frase “Cai fora”, enquanto outro segurança empurrou a mesma manifestante. Na capital, manifestantes lançaram garrafas e sinalizadores contra os agentes de segurança.

Confrontos também ocorreram em Rennes, no oeste do país, onde manifestantes atacaram policiais logo no começo do protesto, levando a uma resposta com gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.

Um policial foi ferido na mão durante a prisão de um integrante do grupo black bloc. Em Lyon, um jornalista da France TV e dois policiais ficaram feridos em embates entre forças de segurança e jovens encapuzados que lideravam o movimento.

O impacto nos setores de transporte e educação foi expressivo nesta quinta-feira. Quase 17% dos professores de ensino fundamental e médio aderiram à greve, conforme dados do Ministério da Educação, com o sindicato Snes-FSU reportando uma taxa de 45% de participação.

Especificamente, 23 escolas de ensino médio tiveram bloqueios totais, enquanto outras 52 tiveram interrupções parciais. Além disso, mais de 10% dos 2,5 milhões de servidores públicos participaram da paralisação.

Nos níveis acadêmicos, cerca de 110 mil estudantes manifestaram-se nas ruas, com 14 universidades bloqueadas, segundo o sindicato L’Union Étudiante. No setor cultural, a Ópera Garnier anunciou o cancelamento da apresentação do espetáculo 'Ariodante' devido à greve. Os transportes públicos foram afetados, embora o tráfego não tenha sido completamente interrompido, de acordo com o Ministério dos Transportes.

A distribuidora de energia EDF comunicou uma redução de aproximadamente 4 mil MW na produção de eletricidade, equivalente à operação de quatro reatores nucleares, devido à paralisação dos funcionários.

As farmácias também participaram do movimento, com cerca de 18 mil estabelecimentos fechados, em uma rede de 20 mil. Sindicatos do setor farmacêutico se posicionaram contra a diminuição de descontos em medicamentos genéricos, reforçando o protesto.

As principais centrais sindicais, incluindo CFDT, CGT, FO, CFE-CGC, CFTC, Unsa, FSU e Solidaires, uniram forças para convocar uma série de manifestações pelo país, reforçando a pressão sobre o novo governo.

Marylise Léon, líder da CFDT, destacou que a mobilização é um aviso claro ao governo e ao próprio Lecornu, demandando um orçamento que priorize justiça fiscal, social e ambiental. Hervé Renard, representante da CFTC, afirmou que os gastos do Estado devem ser questionados, argumentando que a dívida pública foi contraída pelo próprio governo.

Já Sonia, uma professora de 58 anos que preferiu não revelar seu sobrenome, comentou as dificuldades financeiras atuais, ressaltando que as políticas fiscais favorecem os mais ricos e deixam os pobres à beira da fome, inclusive participando do protesto com seus filhos.

Os líderes sindicais Marylise Léon, da CFDT, e Sophie Binet, da CGT, anunciaram que a mobilização continuará na sexta-feira (19). Segundo Léon, haverá uma nova manifestação para obrigar o primeiro-ministro a assumir suas responsabilidades. A CGT reforçou a necessidade de agir urgentemente, afirmando que a indignação é legítima e está crescendo.

Binet considerou o ato como um ultimato, alertando que, se as demandas não forem atendidas rapidamente, novas manifestações deverão ocorrer.

O governo de François Bayrou foi derrubado após uma moção de censura, e as próximas ações incluem mudanças nos critérios do seguro-desemprego e no sistema de reembolso de despesas médicas, além de outras medidas que os sindicatos aguardam que sejam excluídas do novo orçamento.

A mobilização é vista como um momento de forte pressão social, que pode determinar futuras alterações na política econômica do país.