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Acidente
18/09/2025 18:00:00

China constrói megaporto de US$ 1,3 bi no Peru e Chancay enfrenta explosão de crimes e violência

China constrói megaporto de US$ 1,3 bi no Peru e Chancay enfrenta explosão de crimes e violência

O pequeno distrito pesqueiro de Chancay, a 65 km ao norte de Lima, passou por uma transformação radical após a inauguração de um megaporto de US$ 1,3 bilhão operado pela estatal chinesa Cosco Shipping Ports. O projeto, celebrado pelo governo peruano como motor de desenvolvimento econômico, acabou trazendo junto uma onda de insegurança, com aumento da atuação de gangues, extorsões, roubos e assassinatos.

Nos primeiros oito meses deste ano, a região que inclui Chancay registrou 966 denúncias de extorsão, crescimento de 25% em relação ao mesmo período de 2024, segundo o Ministério do Interior. Huaral, província onde está localizado o porto, passou a figurar entre as áreas com maior índice de homicídios do país.

Relatos de moradores revelam como a violência se infiltrou no cotidiano. O engenheiro Vladimir Cantoral, ameaçado por uma gangue conhecida como Los Pulpos, precisou registrar queixa após receber mensagens com fotos de armas e ameaças de morte. Casos semelhantes se multiplicaram, atingindo comerciantes, motoristas e professores. Tiroteios em garagens e centros esportivos já deixaram mortos e feridos, reforçando a percepção de que o crime organizado encontrou em Chancay um novo terreno fértil.

Especialistas alertam que a falta de infraestrutura de segurança acompanha o ritmo acelerado do crescimento. Para criminologistas, o porto, ao mesmo tempo que amplia o comércio internacional, também atrai redes criminosas ligadas a extorsão, tráfico de drogas, contrabando e lavagem de dinheiro. “Quando não há governança forte, investimentos desse porte podem se tornar catalisadores da violência”, afirmou Enrique Desmond Arias, professor da City University of New York.

A Cosco alega seguir padrões internacionais de segurança, com uso de scanners e cooperação com autoridades peruanas. Ainda assim, a criminalidade em torno da obra avança. Segundo a pesquisadora Erika Solis, além do aumento da extorsão, a região vive uma escalada de disputas entre gangues, algumas ligadas a organizações transnacionais como o Tren de Aragua.

A chegada do porto também afetou os moradores de forma econômica e ambiental. Pescadores como Julio Cesar Lopez relatam queda drástica na quantidade de peixes, atribuída às mudanças nas correntes marítimas. Muitos passaram a oferecer passeios turísticos ao redor do porto, mas acidentes recentes, como o naufrágio que deixou duas pessoas mortas em fevereiro, reduziram drasticamente a atividade. Restaurantes locais também registram queda no movimento, com a orla degradada por restos de construção e águas estagnadas.

Apesar das promessas de geração de 58 mil empregos e expansão populacional até 2034, muitos habitantes afirmam que os benefícios ainda não chegaram. “O que esse porto trouxe de verdade foi crime”, resume Cantoral.

Autoridades peruanas afirmam intensificar o combate ao crime organizado, mas especialistas alertam que, sem um plano de contingência sólido, Chancay pode repetir a experiência de Callao, principal porto do país, já dominado por cartéis de drogas e redes de extorsão. “O risco é que Chancay se transforme em outro epicentro da violência no Peru”, concluiu Solis.