Agênciaq Brasil
Dados recentes indicam que a maioria dos estudantes do ensino médio no Brasil, aproximadamente 70%, empregam ferramentas de inteligência artificial generativa, como ChatGPT e Gemini, ao realizar tarefas de pesquisa escolar.
Entretanto, somente 32% desses estudantes receberam alguma orientação formal por parte das escolas sobre a utilização responsável e segura dessas tecnologias. A análise faz parte da 15ª edição da pesquisa TIC Educação, divulgada nesta manhã (16) pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), entidade vinculada ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Essa instituição foi criada para implementar iniciativas do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), responsável por coordenar e integrar os serviços relacionados à internet no país.
Na primeira fase de coleta de dados, 37% dos estudantes de ensino fundamental e médio afirmaram que recorrem a essas ferramentas na busca por informações. Entre os alunos do ensino fundamental final, essa porcentagem sobe para 39%, enquanto nos do ensino médio chega a 70%. Daniela Costa, coordenadora do estudo, comentou que o dado revela as novas formas de aprendizagem que vêm sendo adotadas pelos jovens.
Ela destacou que esses recursos demandam uma abordagem diferente quanto à linguagem, a curadoria de conteúdos e a avaliação de fontes de informação. Além disso, as escolas estão se ajustando a esse cenário e iniciando diálogos com os pais sobre o uso da IA entre os estudantes. Dados da pesquisa mostram que a elaboração de regras para o uso de IA generativa por alunos e professores já é pauta de reuniões entre gestores escolares, professores, pais, mães e responsáveis. Segundo o levantamento, 68% dos gestores afirmam ter realizado encontros com docentes e demais funcionários, enquanto 60% conversaram com os responsáveis pelos estudantes.
Regras relativas ao uso de celulares nas escolas também são discutidas nesses encontros, com 40% dos gestores mencionando orientações específicas sobre o uso de ferramentas de IA pelos alunos e professores. Apesar do amplo uso de ferramentas de IA entre os estudantes, a orientação institucional ainda é escassa, o que preocupa Daniela Costa. Ela reforça que é fundamental que as escolas ensinem sobre a integridade da informação, autoria e avaliação de fontes, além de oferecerem estratégias para que os alunos desenvolvam uma compreensão crítica e criativa ao utilizar esses recursos.
A especialista pontua que a pesquisa é pioneira ao investigar as práticas de pesquisa acadêmica dos estudantes, envolvendo entrevistas com 945 gestores, 864 coordenadores, 1.462 professores e 7.476 alunos de escolas públicas e privadas, de áreas urbanas e rurais, realizadas entre agosto do ano passado e março deste ano.
Os detalhes completos estão disponíveis no site do estudo. Outro aspecto analisado foi o uso de celulares nas escolas, que, mesmo com a promulgação da Lei 15.100 em janeiro de 2025, que restringe o uso de dispositivos móveis, mostra sinais de mudança nas regras internas. Em 2023, 28% das escolas proibiam o uso de celulares, enquanto 64% permitiam em momentos específicos. Em 2024, esse número aumentou para 39% de instituições que proibiram o uso e diminuiu para 56% as que permitiram em determinados espaços e horários.
Daniela Costa observa que há uma tendência de redução na posse de celulares pelos alunos, especialmente em escolas rurais, onde a porcentagem caiu de 47% para 30%, e em instituições municipais, que passaram de 32% para 20%.
Escolas privadas também apresentaram diminuição no uso do aparelho, de 64% para 46%. Essas mudanças refletem uma maior restrição no uso de tecnologias móveis, embora as desigualdades de acesso ainda persistam. No âmbito da conectividade, a pesquisa revela que 96% das escolas brasileiras possuem acesso à internet, com aumento significativo entre escolas municipais (de 71% em 2020 para 94% em 2024) e rurais (de 52% para 89%).
Entretanto, há disparidades no uso efetivo da internet pelos estudantes: 67% nas escolas estaduais utilizam a conexão para atividades pedagógicas, enquanto esse número cai para 27% na rede municipal. No que diz respeito à infraestrutura, 75% das escolas municipais contam com pelo menos um espaço com conexão à internet, mas apenas 51% possuem computadores disponíveis para atividades educativas, e 47% oferecem acesso à internet e dispositivos para os estudantes.
Daniela aponta que, embora a disseminação do acesso à internet seja notável, o desafio permanece na disponibilidade de equipamentos, sobretudo em escolas rurais e municipais de menor porte. Entre 2022 e 2024, a presença de pelo menos um computador para uso dos alunos em escolas rurais diminuiu de 46% para 33%. Para ela, enfrentamos uma desigualdade que só pode ser combatida com uma compreensão mais aprofundada do papel das tecnologias no processo de ensino e com ações que promovam oportunidades iguais para todos os estudantes.
A pesquisa também destaca uma redução no número de professores que participaram de treinamentos voltados ao uso de tecnologias digitais na educação. Em 2021, 65% dos docentes haviam realizado algum curso na área, enquanto em 2024 essa porcentagem caiu para 54%.
A queda foi mais acentuada entre professores da rede municipal, de 62% para 43% no mesmo período. Daniela enfatiza que investir na formação contínua dos professores é fundamental, especialmente com as mudanças nas metodologias de ensino e a incorporação de recursos como a inteligência artificial. Segundo ela, esse preparo é crucial para que os docentes possam orientar seus alunos de forma segura, crítica e criativa no uso das tecnologias digitais, e a pesquisa revelou que 67% desses profissionais que participaram de capacitações consideraram o treinamento útil para essa tarefa.