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17/09/2025 11:00:00

Estudo revela alta adoção de inteligência artificial por estudantes do ensino médio, com pouca orientação escolar

Pesquisa aponta que 70% dos alunos utilizam IA em pesquisas acadêmicas, mas apenas uma em três recebeu orientações sobre uso seguro

Estudo revela alta adoção de inteligência artificial por estudantes do ensino médio, com pouca orientação escolar

Agênciaq Brasil

Dados recentes indicam que a maioria dos estudantes do ensino médio no Brasil, aproximadamente 70%, empregam ferramentas de inteligência artificial generativa, como ChatGPT e Gemini, ao realizar tarefas de pesquisa escolar.

Entretanto, somente 32% desses estudantes receberam alguma orientação formal por parte das escolas sobre a utilização responsável e segura dessas tecnologias. A análise faz parte da 15ª edição da pesquisa TIC Educação, divulgada nesta manhã (16) pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), entidade vinculada ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Essa instituição foi criada para implementar iniciativas do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), responsável por coordenar e integrar os serviços relacionados à internet no país.

Na primeira fase de coleta de dados, 37% dos estudantes de ensino fundamental e médio afirmaram que recorrem a essas ferramentas na busca por informações. Entre os alunos do ensino fundamental final, essa porcentagem sobe para 39%, enquanto nos do ensino médio chega a 70%. Daniela Costa, coordenadora do estudo, comentou que o dado revela as novas formas de aprendizagem que vêm sendo adotadas pelos jovens.

Ela destacou que esses recursos demandam uma abordagem diferente quanto à linguagem, a curadoria de conteúdos e a avaliação de fontes de informação. Além disso, as escolas estão se ajustando a esse cenário e iniciando diálogos com os pais sobre o uso da IA entre os estudantes. Dados da pesquisa mostram que a elaboração de regras para o uso de IA generativa por alunos e professores já é pauta de reuniões entre gestores escolares, professores, pais, mães e responsáveis. Segundo o levantamento, 68% dos gestores afirmam ter realizado encontros com docentes e demais funcionários, enquanto 60% conversaram com os responsáveis pelos estudantes.

Regras relativas ao uso de celulares nas escolas também são discutidas nesses encontros, com 40% dos gestores mencionando orientações específicas sobre o uso de ferramentas de IA pelos alunos e professores. Apesar do amplo uso de ferramentas de IA entre os estudantes, a orientação institucional ainda é escassa, o que preocupa Daniela Costa. Ela reforça que é fundamental que as escolas ensinem sobre a integridade da informação, autoria e avaliação de fontes, além de oferecerem estratégias para que os alunos desenvolvam uma compreensão crítica e criativa ao utilizar esses recursos.

A especialista pontua que a pesquisa é pioneira ao investigar as práticas de pesquisa acadêmica dos estudantes, envolvendo entrevistas com 945 gestores, 864 coordenadores, 1.462 professores e 7.476 alunos de escolas públicas e privadas, de áreas urbanas e rurais, realizadas entre agosto do ano passado e março deste ano.

Os detalhes completos estão disponíveis no site do estudo. Outro aspecto analisado foi o uso de celulares nas escolas, que, mesmo com a promulgação da Lei 15.100 em janeiro de 2025, que restringe o uso de dispositivos móveis, mostra sinais de mudança nas regras internas. Em 2023, 28% das escolas proibiam o uso de celulares, enquanto 64% permitiam em momentos específicos. Em 2024, esse número aumentou para 39% de instituições que proibiram o uso e diminuiu para 56% as que permitiram em determinados espaços e horários.

Daniela Costa observa que há uma tendência de redução na posse de celulares pelos alunos, especialmente em escolas rurais, onde a porcentagem caiu de 47% para 30%, e em instituições municipais, que passaram de 32% para 20%.

Escolas privadas também apresentaram diminuição no uso do aparelho, de 64% para 46%. Essas mudanças refletem uma maior restrição no uso de tecnologias móveis, embora as desigualdades de acesso ainda persistam. No âmbito da conectividade, a pesquisa revela que 96% das escolas brasileiras possuem acesso à internet, com aumento significativo entre escolas municipais (de 71% em 2020 para 94% em 2024) e rurais (de 52% para 89%).

Entretanto, há disparidades no uso efetivo da internet pelos estudantes: 67% nas escolas estaduais utilizam a conexão para atividades pedagógicas, enquanto esse número cai para 27% na rede municipal. No que diz respeito à infraestrutura, 75% das escolas municipais contam com pelo menos um espaço com conexão à internet, mas apenas 51% possuem computadores disponíveis para atividades educativas, e 47% oferecem acesso à internet e dispositivos para os estudantes.

Daniela aponta que, embora a disseminação do acesso à internet seja notável, o desafio permanece na disponibilidade de equipamentos, sobretudo em escolas rurais e municipais de menor porte. Entre 2022 e 2024, a presença de pelo menos um computador para uso dos alunos em escolas rurais diminuiu de 46% para 33%. Para ela, enfrentamos uma desigualdade que só pode ser combatida com uma compreensão mais aprofundada do papel das tecnologias no processo de ensino e com ações que promovam oportunidades iguais para todos os estudantes.

A pesquisa também destaca uma redução no número de professores que participaram de treinamentos voltados ao uso de tecnologias digitais na educação. Em 2021, 65% dos docentes haviam realizado algum curso na área, enquanto em 2024 essa porcentagem caiu para 54%.

A queda foi mais acentuada entre professores da rede municipal, de 62% para 43% no mesmo período. Daniela enfatiza que investir na formação contínua dos professores é fundamental, especialmente com as mudanças nas metodologias de ensino e a incorporação de recursos como a inteligência artificial. Segundo ela, esse preparo é crucial para que os docentes possam orientar seus alunos de forma segura, crítica e criativa no uso das tecnologias digitais, e a pesquisa revelou que 67% desses profissionais que participaram de capacitações consideraram o treinamento útil para essa tarefa.