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Acidente
17/09/2025 07:00:00

Crianças ucranianas desaparecem na Rússia: um drama humanitário sem precedentes

Milhares de menores sequestrados durante o conflito, com esforços internacionais por sua volta em meio a negações oficiais

Crianças ucranianas desaparecem na Rússia: um drama humanitário sem precedentes

O desaparecimento de milhares de crianças ucranianas sequestradas por forças russas desde o início da invasão de 2022 permanece como uma questão alarmante e controversa. Muitos desses menores foram levados contra sua vontade para o território russo, enquanto diferentes organizações e governos lutam por seu retorno.

Na última semana, uma manifestação pró-Ucrânia em Berlim trouxe à tona a situação de Sasha, um garoto de 14 anos, que ficou visivelmente emocionado ao ter sua história contada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante uma sessão no Parlamento de Estrasburgo.

Quando a Rússia atacou Mariupol, sua cidade natal, Sasha tinha apenas 11 anos. Ele foi capturado com sua mãe por soldados russos e conduzido a um 'campo de triagem' na Rússia, instalado nos territórios ocupados. Ali, os ucranianos passam por uma avaliação ideológica antes de serem autorizados a seguir viagem para a Rússia.

Durante sua detenção, Sasha foi separado de sua mãe e levado até Donetsk, ocupada pelos russos. No percurso, conseguiu contactar sua avó, Lyudmyla, residente em uma zona sob controle de Kiev, que conseguiu resgatá-lo. O paradeiro de sua mãe, contudo, ainda é desconhecido.

Ele e a avó participaram de um discurso na sessão sobre o Estado da União, onde von der Leyen destacou que histórias como a de Sasha não representam um caso isolado. Essa narrativa reflete uma realidade que, segundo relatos, envolve dezenas de milhares de crianças deslocadas e sequestradas desde o início do conflito.

A Rússia nega as acusações de sequestro e afirma que os menores não são vítimas, mas sim resgatados por suas forças. Vladimir Medinsky, representante russo nas negociações, declarou em junho que o governo ucraniano estaria encenando uma peça de teatro sobre 'sequestro de crianças', enquanto a Rússia sustenta que não há crianças sequestradas, apenas crianças recuperadas pelos soldados russos.

Contudo, a pressão internacional cresce contra Moscou. Em agosto, uma declaração conjunta assinada por 42 países, o Conselho da Europa e a União Europeia pediu que a Rússia devolvesse as crianças, fornecesse informações sobre sua localização e cessasse a alteração de suas identidades. Personalidades como senadores americanos e Melania Trump, esposa do ex-presidente Donald Trump, apoiaram publicamente esse apelo.

Durante meses, o tema do retorno das crianças foi elevado ao mais alto nível na pauta de líderes globais, conforme revelou o Wall Street Journal em agosto. Em abril de 2025, 40 líderes religiosos fizeram um apelo a Donald Trump e ao secretário de Estado, Marco Rubio, para priorizar a repatriação. Em junho, republicanos e democratas aprovaram uma legislação para auxiliar Kiev neste processo, considerando quase 20 mil crianças sequestradas, número que se apoia em dados do governo ucraniano, que afirma ter identificado 19.546 menores levados à Rússia, todos nomeados individualmente. Essa lista, contudo, permanece confidencial, sob risco de comprometer a segurança dos menores, conforme especialistas.

As autoridades russas negam a veracidade dessa lista, alegando que ela é baseada em relatos de perdas de contato desde o início do conflito. Maria Lvova-Belova, comissária russa de direitos das crianças, afirmou recentemente que esses números são uma ficção, sustentando que muitas crianças podem ter emigrado com suas famílias ou migrado para a Europa desde 2014, quando os primeiros casos de deslocamento ocorreram nos territórios de Donetsk e Lugansk.

Desde então, a situação se agravou, com crianças de regiões como Mariupol sendo separadas de seus pais nos chamados 'campos de filtragem' russos. Dados de 2023 indicam que mais de 4.000 crianças e órfãos, sob controle russo, vivem em lares de acolhimento ou adoções, recursos sob responsabilidade do Estado ucraniano, embora a Rússia insista que elas estão sendo resgatadas e entregues a novas famílias de forma legal.

Em maio de 2022, antes mesmo da incorporação oficial de quatro regiões ucranianas à Federação Russa, Putin facilitou a aquisição de cidadania russa para crianças dessas áreas, dispensando o consentimento dos responsáveis ??biológicos na Ucrânia, justificando por uma suposta necessidade humanitária, que garantiria acesso a serviços sociais, saúde e educação.

Além disso, Putin ordenou a colocação de menores ucranianos sem responsáveis em famílias adotivas russas, como revelou Lvova-Belova. Investigações independentes, baseadas em fontes abertas, sugerem que o número de crianças transferidas é consideravelmente maior, incluindo aquelas enviadas a famílias russas ou que migraram para a Europa, o que é denunciado por órgãos ucranianos e agências internacionais como um crime de guerra e uma forma de genocídio contra o povo ucraniano. O Tribunal Penal Internacional chegou a emitir um mandado de prisão contra Vladimir Putin e Lvova-Belova por violações das normas internacionais e deportações forçadas no início de 2023.