Professores, estudantes universitários e profissionais da saúde foram às ruas de Buenos Aires nesta sexta-feira para protestar contra os vetos do presidente Javier Milei a duas leis que previam aumento de recursos para universidades e hospitais pediátricos. As manifestações, acompanhadas de greves, serviram como uma prévia da marcha nacional convocada para a próxima quarta-feira, quando sindicatos e organizações de ambos os setores tentarão pressionar o Congresso a derrubar os vetos.
O governo respondeu judicialmente contra a Universidade de Buenos Aires (UBA), a maior do país, acusando seus dirigentes de uso político ao exibir no site institucional a frase “não ao veto”.
Desde que assumiu em dezembro de 2023, Milei governa sem orçamento aprovado pelo Congresso, prorrogando os recursos de 2023 e aplicando cortes segundo seus próprios critérios. Segundo o Conselho Nacional Interuniversitário (CIN), o orçamento das universidades perdeu 30% em termos reais nesse período, enquanto os salários de docentes e trabalhadores do setor caíram 40% em poder de compra.
A lei de financiamento universitário aprovada pelo Parlamento previa reajustes salariais baseados na inflação e aumento de verbas para custeio, infraestrutura e bolsas de estudo, mas foi vetada por Milei, que já havia tomado decisão semelhante no ano anterior. Outro veto recaiu sobre a lei de pediatria de emergência, destinada a recompor os recursos dos hospitais infantis e salários de seus profissionais.
“Não ao veto”, diziam cartazes erguidos por estudantes em frente à Casa Rosada, onde também se concentraram médicos, enfermeiros e técnicos de hospitais pediátricos, em especial do Hospital Garrahan. Os trabalhadores da unidade entraram em greve até domingo e já anunciaram nova paralisação para quarta-feira, em sintonia com os protestos universitários.
Para o presidente do CIN, Oscar Alpa, o país vive “uma situação gravíssima”, agravada pela ausência de orçamento nacional há dois anos. Já Ricardo Gelpi, reitor da UBA, alertou que a instituição operará em estado crítico para encerrar o ano.
Alejandro Lipcovich, dirigente sindical do Garrahan, classificou o veto como “uma medida desesperada de um governo em crise”. Segundo ele, os aumentos salariais são urgentes diante do esgotamento da equipe e das demissões no setor.
Milei justifica os vetos como necessários para manter o “equilíbrio fiscal”, acusando a oposição de tentar sabotar seu programa econômico em meio à desvalorização do peso e à instabilidade financeira. O impasse, no entanto, deve se intensificar na próxima semana, quando o Congresso tentará votar novamente as leis e a mobilização social promete ganhar ainda mais força.