20/09/2025 23:12:02

Geral
13/09/2025 16:00:00

A reação de Fux e os bastidores da sessão no STF que condenou Bolsonaro

A reação de Fux e os bastidores da sessão no STF que condenou Bolsonaro

A sessão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete acusados de participação em um plano de golpe de Estado foi marcada por tensão, momentos de descontração e reações discretas que não apareceram nas transmissões oficiais.

Às 14h22, o ministro Cristiano Zanin, presidente do colegiado, abriu os trabalhos. Desde o início, já se sabia que seria um julgamento histórico: pela primeira vez um ex-presidente seria condenado por tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito. Fotógrafos tiveram apenas cinco minutos para registrar imagens, sendo retirados em seguida, restando apenas os jornalistas no plenário.

A presença incomum de Gilmar Mendes, decano do STF, e de Maria Luiza, irmã da ministra Cármen Lúcia, deu um tom simbólico à sessão, reforçando a expectativa em torno dos votos finais de Cármen e Zanin. A ministra, presidente do TSE, teria a responsabilidade de formar a maioria pela condenação, e o colega confirmaria a posição.

O julgamento de quinta-feira (11) ganhou ainda mais peso após a fala de Luiz Fux no dia anterior. Em quase 14 horas, o ministro abriu divergência, absolvendo Bolsonaro e condenando apenas Mauro Cid e Braga Netto. Os demais ministros, ao acompanharem o relator Alexandre de Moraes, precisaram rebater sua longa argumentação em discursos mais concisos.

O plenário estava lotado, com jornalistas, advogados de defesa, assessores e forte esquema de segurança. Sete policiais se concentraram perto da mesa dos ministros. Um médico também circulava pela sala, atento ao ambiente carregado.

No voto que selaria a maioria, Cármen Lúcia fez uma defesa contundente da democracia e do sistema eleitoral. Diferentemente de Fux, que analisou os fatos de forma isolada, a ministra seguiu a proposta da PGR de examiná-los em conjunto, comparando a necessidade de interpretação jurídica à tarefa de “encaixar as mãos nas luvas”. Enquanto lia seu parecer, Fux se mostrava inquieto: mexia em papéis, consultava o computador e tomava café.

Flávio Dino e Alexandre de Moraes fizeram apartes durante a leitura, recebidos por Cármen com naturalidade. Quando Dino pediu a palavra, ouviu como resposta: “todos”. A fala soou como indireta a Fux, que havia defendido a ausência de intervenções nos votos. Ainda assim, o ministro não reagiu, mantendo semblante fechado, embora tenha cochichado discretamente com Dino em dois momentos.

As trocas bem-humoradas entre Dino, Moraes e Cármen arrancaram até um sorriso do procurador-geral da República, Paulo Gonet, gesto raro em um ambiente tão rígido. Fux, porém, manteve-se sério o tempo todo.

O único momento em que deixou transparecer incômodo foi durante uma piada de Moraes, que disse ter perdido parte do jogo entre Corinthians e Athletico-PR por causa do julgamento. Ao ouvir a palavra “maldade”, Fux levantou os papéis e olhou fixamente para o colega, mas não respondeu.

Na leitura do voto de Zanin, porém, Fux mudou de postura. Passou a acompanhar atentamente, com olhar fixo, em um gesto de deferência semelhante ao que o próprio Zanin lhe demonstrara ao ouvir seu longo voto no dia anterior.

Às 18h13, Zanin concluiu pela condenação de Bolsonaro e dos outros sete réus. Pouco depois, às 20h39, já estavam definidas as penas.

O encerramento da sessão coube ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso, que chegou ao plenário no final. Às 21h20, afirmou que a decisão representava um divisor de águas e simbolizava o fim de “ciclos do atraso”. Logo em seguida, o sino soou, marcando o encerramento de uma sessão histórica para a democracia brasileira.