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Acidente
12/09/2025 12:00:00

Estudo revela que menos de metade dos estudantes valorizam professores no ensino fundamental final

Pesquisa abrangente aponta diferenças de percepção entre faixas etárias e destaca a necessidade de políticas educativas mais inclusivas

Estudo revela que menos de metade dos estudantes valorizam professores no ensino fundamental final

Uma pesquisa recente, envolvendo uma amostra de mais de 2,3 milhões de jovens de escolas públicas e privadas de todo o Brasil, aponta que menos de 40% dos estudantes do 6º ao 9º ano demonstram respeito e apreço pelos seus docentes. Apesar de uma maioria se sentir acolhida na escola, o reconhecimento aos professores ainda é considerado insatisfatório.

O levantamento foi conduzido em 21 mil instituições de ensino durante a Semana da Escuta das Adolescências, uma iniciativa que promove o diálogo entre estudantes, gestores educacionais, sociedade civil, instituições acadêmicas e organismos internacionais. O objetivo é fundamentar a elaboração de uma política nacional voltada especificamente para essa etapa do ensino fundamental, que abrange alunos do 6º ao 9º ano, uma fase de transição da infância para a adolescência.

A parceria que realizou a pesquisa envolve o Ministério da Educação (MEC), o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Itaú Social. Durante o lançamento do relatório em Brasília, a secretária de Educação Básica do MEC, Katia Schweickardt, destacou a importância de ouvir as perspectivas dos adolescentes para compreender que cada aluno aprende de forma distinta, apoiado em suas experiências particulares.

Ela reforçou a necessidade de adaptar o ambiente escolar a essa diversidade, incluindo salas de aula com estudantes de diferentes perfis, o que exige preparação adequada para os professores, recursos pedagógicos e envolvimento da comunidade. Segundo Schweickardt, o currículo deve refletir uma vivência significativa, não sendo apenas uma lista de conteúdos, mas sim uma ferramenta que promove a cultura de aprendizagem.

A especialista acrescenta que a formação docente deve incluir a compreensão dessas diferenças, enfatizando que a escolaridade precisa estar preparada para responder às necessidades diversas dos estudantes, especialmente na fase final do ensino fundamental. Ela afirmou que o currículo deve ser uma experiência de vida, promovendo a inclusão e o sentido de pertencimento na escola.

Na opinião de Tereza Perez, pedagoga da organização civil Roda Educativa, é fundamental reconhecer as diferentes composições das turmas, sob o risco de aumentar a evasão escolar e o abandono. Ela critica a tentativa de homogeneizar as aprendizagens por meio de métodos únicos, o que muitas vezes culpa os alunos pela falta de progresso, usando a reprovação como única estratégia para estimular o aprendizado, sem sucesso duradouro.

A pesquisa revela que a percepção dos estudantes sobre suas experiências na escola varia de acordo com a faixa etária. Os jovens do 6º e 7º anos tendem a manter uma visão mais positiva, enquanto os do 8º e 9º anos apresentam uma avaliação mais crítica em relação às condições de acolhimento e convivência.

Patrícia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social, recorda que o Brasil tem décadas sem uma política específica para a educação na adolescência. Desde 2023, o MEC vem promovendo o projeto Escola das Adolescências, que busca incluir estudantes, gestores, sociedade civil, academia e organismos internacionais em um esforço conjunto para fortalecer essa fase escolar. Segundo ela, o Brasil se destaca por escutar seus adolescentes de maneira inédita em âmbito de políticas públicas, o que favorece o alinhamento das ações de acordo com as demandas presentes nesse grupo.

Quanto ao sentimento de acolhimento, 66% dos estudantes do 6º e 7º anos afirmaram que se sentem acolhidos na escola, enquanto 27% consideram a experiência parcial e 7% discordam. Já entre os alunos do 8º e 9º ano, esses números caem para 54% de sensação de acolhimento, com 33% avaliando como intermediária e 13% discordando.

Em relação à confiança nos adultos dentro do ambiente escolar, 75% dos estudantes do 6º e 7º anos confiam em pelo menos um responsável, porém apenas 58% sentem-se verdadeiramente acolhidos por eles. Para os estudantes do 8º e 9º anos, o índice de acolhimento diminui para 45%.

As escolas com maior presença de alunos em situação de vulnerabilidade apresentam uma percepção mais positiva de acolhimento, com 69% dos estudantes nessas instituições sentindo-se apoiados, contra 56% em ambientes menos vulneráveis.

Ao avaliar sua experiência social na escola, 65% dos estudantes do 6º e 7º anos concordam que o ambiente favorece amizades e interações, contra 55% dos do 8º e 9º anos. Ainda assim, a maioria mantém amizades próximas na escola, com 84% desses jovens do ciclo mais cedo e 83% no ciclo mais avançado indicando que possuem amigos com quem gostam de conviver.

No entanto, a pesquisa evidencia o desafio na relação aluno-professor, onde apenas 39% dos mais novos e 26% dos mais velhos afirmam que respeitam e valorizam seus docentes.

Um exemplo é Dandara Vieira Melo, de 13 anos, estudante da rede pública de Rio Branco, que participou do Programa Travessia, uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do governo do Acre. Após atrasos nos estudos devido às mudanças de município e questões familiares, ela expressa uma nova perspectiva sobre a escola, considerando-a um espaço de aprendizado, descoberta de novas culturas, amizades e crescimento pessoal.

Quando questionados sobre os temas mais relevantes para seu desenvolvimento, os estudantes mais jovens destacaram, em primeiro lugar, as disciplinas tradicionais (48%), seguidas por atividades relacionadas ao bem-estar emocional e ao corpo (31%), incluindo esportes e saúde mental. Ainda, 21% valorizam habilidades futuras, como educação financeira e tecnologia, e 13% destacam temas como direitos humanos e sustentabilidade.

Entre os alunos do 8º e 9º anos, as disciplinas tradicionais continuam sendo consideradas importantes por 38%, seguidas por atividades de desenvolvimento socioemocional (29%), habilidades para o futuro (24%) e questões ambientais e de direitos (13%).