Recentes investigações científicas realizadas no Brasil revelam que uma terapia inovadora pode possibilitar a reversão de paralisações resultantes de lesões na medula espinhal. Os estudos, que utilizam a proteína polilaminina, ainda estão em fase experimental, mas já apresentam resultados encorajadores, sugerindo a necessidade de novos testes clínicos.
10/09/2025 • 11:09 • Atualizado em 10/09/2025 • 12:52
Pesquisa brasileira indica que a aplicação da polilaminina pode promover a regeneração neural e melhorar a mobilidade de pacientes com lesões graves
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Para os médicos que atenderam Bruno Drummond de Freitas após seu grave acidente em 28 de abril de 2018, os avanços são surpreendentes.
Bruno relata que, na ocasião do acidente, seguia de carro com seu pai para uma celebração de aniversário da avó. Ele estava no banco de trás, sem usar cinto de segurança, tendo adormecido e não se recorda do impacto. Acordou após a cirurgia, sem entender exatamente o que havia ocorrido.
Os profissionais de saúde explicaram a Bruno que o carro havia se envolvido em uma colisão, na qual ele havia sofrido uma lesão cervical e perdido movimentos abaixo do pescoço, caracterizando uma lesão medular completa.
Ele descreve o momento como um impacto emocional forte, mas sua história se diferencia de muitas outras com o mesmo diagnóstico. Sete anos após a previsão médica de que jamais voltaria a caminhar, Bruno conquistou autonomia, mantendo sua independência, o que representa uma esperança significativa para a comunidade científica.
Na condução de sinais, os neurônios enviam mensagens do cérebro para o corpo por meio de longas projeções chamadas axônios, responsáveis pela transmissão dos impulsos elétricos. Na lesão medular, esses axônios se deterioram, levando à perda de funções motoras.
É nesse contexto que entra a proteína chamada laminina, uma substância produzida pelo próprio organismo, porém em quantidade insuficiente para reparar os axônios danificados. Pesquisadores descobriram que a multiplicação dessa proteína pode estimular a regeneração neural ao atuar na área afetada.
Segundo Tatiana Sampaio, especialista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) responsável pelo estudo, a degeneração do tecido medular ocorre nos primeiros dias após o trauma, dificultando a recuperação. Ela destaca que a laminina desempenha papel crucial na sobrevivência dos neurônios.
O estudo, que é pioneiro mundialmente, foi conduzido com oito pacientes, incluindo Bruno, que recebeu injeções de polilaminina na coluna logo após o acidente, dentro de 24 horas.
Bruno relata que, em um momento de sua recuperação, conseguiu mover o dedão do pé. Segundo ele, esse sinal indica que o cérebro consegue enviar comandos até a extremidade, mudando o prognóstico inicial dos médicos.
Dados atuais revelam que apenas 15% das pessoas com lesões medulares completas recuperam alguma mobilidade, enquanto entre os pacientes submetidos ao tratamento com a proteína, essa taxa sobe para 75%.
Embora a pesquisa ainda esteja na etapa experimental, a farmacêutica responsável, Cristália, aguarda a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar testes clínicos mais amplos, essenciais para validar a eficácia e segurança do medicamento, que é produzido a partir de componentes placentários.
Rogério Almeida, vice-presidente da Cristália, explica que o planejamento para as fases 1 e 2 dos testes clínicos prevê um prazo mínimo de três anos. O objetivo é obter a aprovação necessária para avançar na implementação do tratamento e discutir sua possível distribuição com o Ministério da Saúde.
O uso precoce em casos de trauma e acidentes é fundamental para obter melhores resultados. Além disso, o estudo tem mostrado potencial também para pacientes que já convivem com a paralisia há anos. Sete voluntários avaliados apresentaram melhorias ao longo do tratamento.
Um exemplo é Hawanna Ribeiro, que iniciou o uso do medicamento três anos após seu acidente, que a deixou paraplégica. Hoje, ela compete como atleta paralímpica na modalidade de rúgbi.
Hawanna relata com entusiasmo: “Hoje, por exemplo, consigo ir ao shopping sozinha” e complementa com um sorriso: “Fui ao cinema sem companhia. Para alguém que não tinha movimento do pescoço para baixo, isso é uma grande conquista.”