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Viver Bem
08/09/2025 15:00:00

Cresce o uso de inteligência artificial por jovens em Alagoas para apoio emocional, enquanto especialistas alertam sobre riscos

Adolescentes buscam na tecnologia uma alternativa à terapia tradicional, mas psicólogos reforçam a importância da relação humana e o cuidado com menores

Cresce o uso de inteligência artificial por jovens em Alagoas para apoio emocional, enquanto especialistas alertam sobre riscos

A presença da inteligência artificial (IA) na rotina dos jovens tem ultrapassado seu papel convencional de ferramenta acadêmica ou profissional, assumindo um espaço mais íntimo, de confidente digital. Muitos adolescentes, enfrentando solidão, recorrem a esses recursos tecnológicos para desabafar ou obter orientações, principalmente na ausência de alguém próximo. No município de Marechal Deodoro, integrante da Região Metropolitana de Maceió, o estudante Gabriel*, de 20 anos, utilizou a IA como uma fonte de apoio emocional. Sem recursos financeiros para sessões de terapia, decidiu experimentar essa tecnologia como uma alternativa para lidar com seus sentimentos. "A limitação financeira foi um dos motivos que me levou a procurar ajuda na IA. Terapias podem sair caro para minha condição, então resolvi buscar compreensão e suporte emocional através de inteligência artificial", declarou Gabriel. Apesar de sentir algum alívio, ele também percebeu as limitações do método. As respostas fornecidas pela IA ajudaram a estruturar seus pensamentos e abrir novas perspectivas, mas não substituíram a sensação de ser ouvido por alguém real. "Não achei nada surpreendente. Acho que, na maioria das vezes, a IA só reproduz seu sentimento", comentou. Seu relato espelha uma tendência crescente em todo o país. Segundo dados da agência Talk Inc., com base em uma estimativa do portal UOL, mais de 12 milhões de brasileiros já utilizam chatbots ou assistentes virtuais para questões emocionais, sendo metade deles especificamente com o plataforma ChatGPT. Uma pesquisa com mil adultos de diferentes classes sociais revela uma tendência global. A Harvard Business Review publicou um estudo que aponta que, até 2025, a função principal da IA será oferecer suporte emocional, deixando para trás tarefas como organização pessoal ou busca por propósito de vida. No Brasil, esse uso se mostra mais intenso. O país ocupa a terceira posição mundial no acesso ao ChatGPT, conforme dados da Similarweb, além de figurar entre os maiores consumidores de WhatsApp e outras redes sociais. Entretanto, um especialista em psicologia enfatiza que a interação humana continua insubstituível. Ricardo Campelo Auto, especialista em dependências químicas e digitais, assinala que, embora as plataformas de IA estejam cada vez mais presentes, elas não substituem o vínculo fundamental na psicoterapia. "A inteligência artificial já faz parte de nosso cotidiano e está integrada às tecnologias que usamos. Contudo, a população ainda está em fase de compreensão dos limites e possibilidades dessa ferramenta", explica. Para Auto, a IA pode simular diálogos e fornecer orientações de forma geral, mas não consegue captar a subjetividade individual de cada pessoa. "A relação humana, marcada por empatia, vínculo e percepção emocional, é insubstituível e não pode ser replicada por algoritmos", reforça. Ele reforça que a IA pode servir como uma ferramenta complementar, ajudando na organização de ideias e na orientação geral, mas nunca substituindo o processo terapêutico completo.

 

Uso de inteligência artificial na terapia: atenção especial para crianças e adolescentes

O especialista alerta que o risco de impacto negativo é ainda maior entre os jovens. A exposição precoce a essas tecnologias, sem a devida supervisão, pode gerar interpretações incorretas e reforçar comportamentos perigosos.

"Crianças e adolescentes podem interpretar de forma ingênua ou distorcida as informações recebidas, o que pode causar prejuízos emocionais e cognitivos. Por isso, a supervisão dos responsáveis é essencial nesse processo", afirma.

O acompanhamento adequado inclui o entendimento dos limites da tecnologia, uso de aplicativos de controle parental e monitoramento de atividades digitais, como jogos online, podendo até limitar o uso do chat quando necessário.

Embora as inteligências artificiais possam personalizar as interações com base no usuário, Auto destaca que elas não têm a capacidade de promover saúde mental ou detectar sinais de risco, como pensamentos suicidas ou automutilação. Pelo contrário, podem até reforçar ideias prejudiciais, reforçando a necessidade de presença humana no cuidado emocional.

Dependência tecnológica e a urgência de uma regulamentação adequada

O especialista destaca que estudos indicam que milhões de pessoas utilizam IA para lidar com ansiedade, depressão e sensação de solidão. Para Ricardo, a linha tênue entre uso saudável e disfuncional exige atenção constante. Ele diferencia a dependência funcional, ligada ao uso cotidiano da tecnologia, da dependência patológica, que prejudica a qualidade de vida do usuário.

"Quando a dependência se torna prejudicial, observamos sintomas como dificuldades de concentração, isolamento social, irritabilidade e apatia ao se desconectar, além do desenvolvimento de condições como a Nomofobia, medo ou ansiedade intensa de ficar sem o celular ou sinal de rede", explica.

Auto também enfatiza a necessidade de estabelecer regulamentações claras e protocolos de segurança específicos. "A supervisão ética por profissionais e pela sociedade deve ser constante. Como o acesso a essas tecnologias é recente, é fundamental que o público seja bem informado, educado e protegido por leis e diretrizes específicas", conclui.