Compradores norte-americanos de café reduziram drasticamente a procura pelo produto brasileiro depois da entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no início de agosto. O Brasil, maior produtor de café do mundo, responde por cerca de um terço do grão verde consumido nos EUA, mas o aumento das taxas levou importadores a suspender novos contratos e buscar brechas nos já firmados para tentar escapar dos custos adicionais, segundo corretores, exportadores e torrefadores ouvidos pela Bloomberg News.
Alguns importadores pediram prorrogação nos prazos de entrega esperando uma possível reversão da medida, informou o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Para o corretor Thiago Cazarini, as negociações entre os dois países estão praticamente congeladas. “Ninguém está comprando nada realmente”, afirmou.
O conflito comercial está diretamente ligado à proximidade política entre Trump e Jair Bolsonaro. O ex-presidente brasileiro, atualmente julgado por tentativa de golpe contra Luiz Inácio Lula da Silva, é considerado perseguido por Trump, que inicialmente havia aplicado uma tarifa de 10% em abril antes de elevar o imposto para 50%.
Nos EUA, empresas que dependem fortemente do café brasileiro já buscam alternativas. A Zaza Coffee, da Flórida, que adquire cerca de 25% de seus grãos do Brasil, declarou ter estoques para 14 a 16 semanas. Após esse período, deve migrar para fornecedores da América Central, Peru e México. “Se nada mudar, não vamos pedir café brasileiro”, disse o diretor de inovação da empresa, JP Juarez.
Apesar disso, especialistas destacam que substituir o café do Brasil não é simples. O país é líder absoluto na exportação de arábica, grão de sabor mais suave e base exclusiva das bebidas vendidas pela Starbucks. “Os torrefadores tentam manter suas misturas o mais consistentes possível, independentemente do custo”, explicou Jim Watson, analista do Rabobank.
Outras torrefadoras, como a Café Aroma, de tradição cubano-americana, passaram a ampliar a compra de futuros de café e a diversificar fornecedores para reduzir riscos. Colômbia, Vietnã e Honduras são hoje as principais alternativas em volume, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA. O Vietnã, especializado em robusta, pode alcançar níveis recordes de exportação para os EUA, já que suas tarifas são de apenas 20%. Indonésia e Uganda também aparecem como opções, com custos bem menores que os do Brasil.
No entanto, os preços já mostram pressão. O café hondurenho está entre 30 e 40 centavos de dólar acima da cotação do mercado futuro, e exportadores colombianos evitam oferecer preços fixos diante da instabilidade. A mudança no fluxo comercial tende a redirecionar mais café brasileiro para a Europa, onde compradores buscam grãos rastreáveis para cumprir novas regras ambientais, e para a China, mercado em expansão.
Para torrefadoras norte-americanas menores, como a Ritual Coffee Roasters, de São Francisco, a situação é crítica. “Absorver 10% já é quase impossível sozinho. Com 50%, parte terá de ser repassada ao consumidor, e isso parece ser um desafio intransponível”, afirmou a diretora de café, Daria Whalen.
A Gregorys Coffee, de Nova York, conseguiu estocar sua última remessa do Brasil antes do aumento tarifário, o que garante abastecimento até novembro. Mas, como outras empresas, terá de lidar com novos custos quando chegar a hora de importar outro lote, já sujeito às tarifas de Trump.