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Saúde
02/08/2025 11:00:00

Adoçante comum pode enfraquecer defesas do cérebro e aumentar risco de AVC e infarto, aponta estudo

Adoçante comum pode enfraquecer defesas do cérebro e aumentar risco de AVC e infarto, aponta estudo

Presente em uma grande variedade de produtos industrializados, como barrinhas de proteína e bebidas energéticas, o eritritol é há muito tempo considerado uma alternativa saudável ao açúcar. No entanto, uma nova pesquisa levanta preocupações sobre os possíveis efeitos negativos desse adoçante na saúde cerebral e cardiovascular.

Um estudo recente da Universidade do Colorado revelou que o eritritol pode afetar negativamente a barreira hematoencefálica — uma estrutura vital que protege o cérebro contra substâncias nocivas, permitindo apenas a entrada de nutrientes essenciais. Os cientistas expuseram células dessa barreira a concentrações de eritritol semelhantes às encontradas no sangue após o consumo de bebidas adoçadas com o composto. O resultado foi uma sequência de danos celulares que pode deixar o cérebro mais exposto à formação de coágulos, elevando o risco de acidente vascular cerebral (AVC).

Esses achados reforçam dados de pesquisas anteriores que já indicavam uma ligação entre o consumo de eritritol e o aumento de casos de infarto e AVC. O novo estudo identificou que o adoçante provoca estresse oxidativo — acúmulo de radicais livres que prejudicam as células e reduzem a ação de antioxidantes naturais do organismo. Isso compromete a função celular e pode levar à morte das células afetadas.

Outra descoberta importante foi o impacto do eritritol sobre o funcionamento dos vasos sanguíneos. Normalmente, eles se contraem e se dilatam conforme a necessidade de oxigenação dos órgãos. Essa regulação depende de duas substâncias: o óxido nítrico, que relaxa os vasos, e a endotelina-1, que provoca a contração. O estudo demonstrou que o eritritol altera esse equilíbrio ao reduzir a produção de óxido nítrico e elevar os níveis de endotelina-1, deixando os vasos persistentemente contraídos — um fator de risco para AVC isquêmico.

Além disso, o eritritol parece prejudicar o mecanismo natural de defesa contra coágulos, ao inibir a liberação do ativador do plasminogênio tecidual (tPA), substância que normalmente dissolve os bloqueios antes que eles causem um derrame.

As conclusões do laboratório se alinham com estudos observacionais de larga escala, que mostram que pessoas com altos níveis de eritritol no sangue apresentam até o dobro de risco de sofrer eventos cardíacos graves. Ainda assim, os próprios autores reconhecem limitações: os testes foram feitos com células isoladas e não em vasos sanguíneos completos. Por isso, são necessários estudos mais avançados em sistemas que reproduzam com maior fidelidade o funcionamento do corpo humano.

O eritritol é classificado como um álcool de açúcar — uma substância produzida naturalmente em pequenas quantidades pelo corpo —, o que o diferencia de adoçantes artificiais como aspartame e sucralose. Essa característica contribuiu para sua exclusão das recentes orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que desaconselham adoçantes artificiais para controle de peso.

A popularidade do eritritol também se deve ao seu comportamento similar ao do açúcar em receitas e produtos: ele oferece cerca de 80% da doçura da sacarose, sem o sabor excessivamente doce de outros adoçantes. Por isso, é amplamente usado em alimentos com rótulo “zero açúcar” e em dietas com restrição de carboidratos, como a cetogênica.

Mesmo com a aprovação de agências como a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) e a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), a nova pesquisa reacende o debate sobre os riscos que adoçantes naturais podem representar à saúde, especialmente quando consumidos com frequência.

Os resultados deixam uma questão em aberto para consumidores que buscam substituir o açúcar: será que os benefícios dos adoçantes como o eritritol realmente superam os riscos? Se por um lado ajudam a controlar o peso e prevenir o diabetes, por outro, podem enfraquecer as defesas do cérebro e elevar as chances de eventos cardiovasculares sérios.

O estudo evidencia os desafios enfrentados pela ciência da nutrição ao tentar compreender os efeitos a longo prazo de ingredientes relativamente novos, mas já amplamente consumidos. Embora o eritritol pareça uma opção mais saudável frente ao açúcar comum, seus impactos sobre a barreira hematoencefálica levantam dúvidas sobre a segurança de seu uso contínuo.

Enquanto novas investigações são realizadas, talvez seja o momento de repensar o consumo desse adoçante tão presente no dia a dia — e considerar se alguma substituição ao açúcar pode realmente ser livre de riscos.